Após chegar a um acordo com seu maior credor, o frigorífico Margen conseguiu ontem, em assembleia em Rio Verde (GO), a aprovação de seu plano de recuperação – que tem como pontos principais a criação de uma nova empresa, a NewM S.A, e sua profissionalização.
A assembleia dos credores havia sido suspensa no dia 6 de agosto por solicitação do Fundo Multi Carteira Nova Alemanha, formado por Oppenheimer e QVT Fund, o principal credor do Margen. O fundo havia rejeitado as propostas apresentadas pelo frigorífico, inclusive a que previa a transformação dos credores em acionistas da nova empresa e a que a transformava parte das dívidas do Nova Alemanha em debêntures perpétuas. A reunião dos credores foi retomada ontem depois de duas semanas de negociações.
Para resolver o impasse com o Nova Alemanha, o Margen reconheceu uma dívida de R$ 144 milhões com o fundo, segundo Murillo Lôbo, coordenador do projeto de recuperação do frigorífico. Antes, o Margen considerava um débito de R$ 122 milhões com o fundo, valor questionado pelo credor. Conforme o advogado, o fundo aceitou um deságio de 80% sobre os R$ 144 milhões, restando um crédito de R$ 30 milhões que será pago integralmente em um ano.
Na proposta anterior, o Margen amortizaria parte da dívida com o fundo com a venda da unidade de Ribeirão Cascalheira (MT). O saldo da dívida seria pago com a emissão de debêntures perpétuas pela NewM, e o resgate ocorreria com “eventos de liquidez” da nova empresa. No caso de resgate dos papéis em até cinco anos, haveria deságio de 75% do valor da dívida; entre cinco e dez anos, desconto de 60% e acima disso, deságio de 50%.
Agora, para pagar o fundo, o Margen irá vender as fábricas de Ribeirão Cascalheira (MT) e a de Coxim (MS) por um valor estimado de R$ 20 milhões. Uma fatia de 40% será usada para amortizar a dívida. A unidade de Paranavaí (PR), estimada em R$ 30 milhões, também será colocada à venda e o dinheiro obtido será destinado ao pagamento do restante da dívida com o Nova Alemanha. A planta será dada como garantia em alienação fiduciária ao fundo.
Também houve mudanças em relação aos credores quirografários (sem garantia real, que não inclui os pecuaristas).
Pelo que foi aprovado na assembleia, a New M terá apenas ações ordinárias. Antes eram 80% de ordinárias e 20% de preferenciais. Agora, uma fatia de 40% de ações ordinárias será da atual controladora do Margen, a GM Rio Bonito (antes era 45%), outros 40% serão dos credores com garantias reais (à exceção do Nova Alemanha) e dos quirografários. Na proposta anterior, esses credores sem garantias teriam ações preferenciais, sem direito a voto. Os 20% restantes serão destinados à tesouraria, reservados para futura captação de recursos para a empresa.
A assembleia também aprovou a transformação dos pecuaristas – que têm créditos de R$ 30 milhões a receber – em debenturistas. Serão emitidas debêntures, com prazo de vencimento de 24, 36 e 48 meses, que poderão ser convertidas em ações preferenciais da NewM. Para pagar as dívidas trabalhistas, de R$ 19 milhões, o Margen venderá a sua frota de 300 veículos em leilão.
O Banco Real, segundo maior credor do Margen, foi um dos poucos a votar contra o plano, segundo Lôbo. A proposta final foi aprovada por 98,48% dos credores quirografários, por 84,28% dos com garantia real e por 100% dos trabalhistas. Quem votou contra o plano terá a opção de receber debêntures em vez de ações.
Com a aprovação do plano, da dívida total de R$ 380 milhões do Margen, R$ 208 milhões serão transformados em participação na NewM, que nascerá com capacidade de abate de 3.600 bovinos/dia em cinco unidades: Rolim de Moura (RO), Rio Verde (GO), Paranaíba (MS), Mãe do Rio (PA) e Ariquemes (RO). O “velho” frigorífico Margen Ltda terá como novo foco de negócios a carne suína.