Redação (18/03/2009)- Questões de preço e de família. Foram esses os fatores que paralisaram as negociações entre Sadia e Perdigão, iniciadas em janeiro. Os diálogos podem até ser retomados, mas fontes próximas à Perdigão argumentam que só voltam a conversar se a Sadia reduzir suas condições.
As famílias que hoje comandam a Sadia queriam uma participação maior do que a Perdigão julga adequada na empresa que surgiria da união dos negócios, por meio de uma troca de ações. No modelo pensado inicialmente, o BNDES capitalizaria a Perdigão.
As dificuldades financeiras da Sadia são o fator de pressão que pode facilitar a venda, segundo os interessados. Analistas estimam que a dívida de curto prazo, que vence em grande parte até setembro, some R$ 3,5 bilhões.
Antes de chegar a um consenso sobre o preço numa negociação externa, a direção da Sadia precisa acomodar o interesse de 64 signatários de um complexo acordo de acionistas, divididos em seis grupos organizados e distintos. Enquanto isso, a companhia deve apresentar, na sexta-feira da próxima semana, um balanço que, segundo analistas, pode ser o pior de sua história.
Assunto volta à pauta, mas pode ser notícia velha
Em janeiro, Sadia e Perdigão assinaram um acordo de exclusividade de 60 dias para negociar uma fusão. A informação não vazou para a imprensa. Agora, com o prazo prestes a expirar, aparentemente sem acerto, o assunto volta à pauta.
Os rumores ganharam força na semana passada e uma nota na "Veja" ressuscitou a "Sadigão". As ações disparam na segunda-feira e os mecanismos oficiais entram em funcionamento: a Comissão de Valores Mobiliários, como de praxe, pediu esclarecimentos às duas empresas. A Sadia respondeu com um comunicado pouco esclarecedor, mas que deixa no ar a possibilidade de "associação". Mais tarde, a Perdigão veio com algo mais direto: "Embora tenham se desenvolvido discussões preliminares para uma eventual associação", afirma, "as partes não chegaram a qualquer entendimento sobre a matéria. Desta forma, não há, nesta data, qualquer negociação em curso".
Com suas respectivas apurações e os dois comunicados oficiais, os principais jornais e agências de notícias concluíram, quase em uníssono, que haveria algum tipo de "associação" ou "união". E as ações continuaram em disparada.
Para o investidor, pode parecer uma oportunidade de ouro de fazer parte de um negócio único, a criação de uma gigante global de alimentos – apesar da alta recente, os papéis da Sadia acumulam queda de 70% em 12 meses.
É bom saber, no entanto, que há muita fumaça e um perigoso tiroteio de informações e interesses distintos. A Sadia está a uma semana da divulgação do que deve ser o pior balanço de sua história. A Perdigão vê um concorrente em dificuldades e uma chance única de aquisição.
Existe interesse mútuo de longa data – uma trading conjunta já foi criada, a Sadia tentou comprar a concorrente na marra -, que pode levar a uma fusão de fato. Mas, neste momento, é grande a chance de se tratar de apenas mais uma tentativa frustrada.