No mesmo dia em que a Rússia suspendeu as importações de carne bovina de três unidades brasileiras do frigorífico JBS-Friboi e de aves de uma unidade da Seara Alimentos (comprada pelo Marfrig), as empresas receberam uma notícia positiva: terão as maiores cotas argentinas para exportarem à União Européia (UE).
A Argentina, depois de dois meses de atraso, publicou ontem a resolução que distribui a cota Hilton entre 76 empresas habilitadas para o ciclo comercial que vai de junho deste ano a junho de 2011. As maiores fatias ficaram para as brasileiras Marfrig, com 3,141 mil toneladas, e JBS-Friboi, com 2,045 mil toneladas. O Marfrig manteve seu volume anterior – 3,122 mil toneladas, do ciclo passado. Já o JBS perdeu 31,8% das três mil toneladas que obteve na última temporada.
A cota Hilton é o volume de cortes de carne de alta qualidade que a Europa concede aos países exportadores da proteína com condições tarifárias especiais. A Argentina possui 28 mil toneladas e abocanha a metade da Hilton. No último ciclo comercial (junho/2009 a junho/2010), o país vizinho não conseguiu cumprir sua cota em quase 10 mil toneladas. Segundo o setor, não houve cumprimento do prazo hábil para a exportação porque o governo demorou nove meses para distribuir a cota e, assim, conceder as licenças de vendas para outros países.
Outra questão é que os frigoríficos não conseguem gado suficiente para manter os abates. Nos últimos quatro anos, o rebanho perdeu 10 milhões de cabeças em função da política de intervenção do governo no mercado e de uma forte estiagem que assolou o País no ano passado. Os preços da carne subiram 100% em apenas um ano. A política adotada pelo governo também reduziu em quase 40% o número de empresas frigoríficas habilitadas a exportar para a UE, um negócio que movimenta US$ 300 milhões por ano.
Há dois anos, 79 frigoríficos e 40 produtores estavam habilitados para a Hilton. Agora, esses números baixaram para 45 e 31, respectivamente.
As 28 mil toneladas têm que ser embarcadas até o dia 30 de junho de 2011. Entre os demais frigoríficos com maiores cotas estão Friar S.A., com 1.538 toneladas; Frigorífico Gorina S.A., com 1.528 toneladas; Exportaciones Agroindustriales Argentina S.A., com 1.269 toneladas; Arre Beef S.A., com 1.259 toneladas; e Frigorífico Rioplatense, com 1.235 toneladas.
JBS pode deslocar volumes
O Serviço Federal de Inspeção Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) proibiu, ontem, as importações de carne bovina de três unidades da JBS-Friboi e uma quarta a partir do dia 14. A suspensão também vale para carne de aves de uma unidade da Seara Alimentos.
Em comunicado, a empresa afirma que “a Rússia suspendeu a importação de diferentes frigoríficos no Brasil, dentre os quais quatro são plantas de produção de carne bovina da JBS localizadas em Barra dos Garças, Campo Grande, Navirai e Araputanga. A Rússia desabilitou também plantas de outros países, sendo uma pertencente a JBS, localizada nos Estados Unidos, e outra, na Argentina”. Ainda de acordo com o comunicado, “a JBS informa que desconhece o motivo da desabilitação e comunica que manterá o fornecimento aos clientes daquele país através de outras plantas habilitadas no Brasil e nas demais plataformas de produção que a Companhia possui em países habilitados para o mercado da Rússia”.
Ronei Lauxen, presidente do Sindicato da Indústria da Carne e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul (Sicadergs), disse que o setor está sujeito a essas restrições. “A JBS não terá prejuízo econômico, porque pode incrementar esse volume [proibido] a outras plantas da empresa”.
A partir de 14 de setembro, uma quarta unidade do JBS e a Alibem Comercial de Alimentos também não poderão vender para os russos. A assessoria de imprensa da Alibem informou que não tem informações oficiais a respeito da restrição.
Segundo a Rússia, a carne bovina das unidades do JBS tem teor acima do permitido de oxitetraciclina – antibiótico para combater infecções causadas por bactérias. Já na carne de aves da unidade da Seara foi encontrada a bactéria listeria.