A BRF – Brasil Foods continua em negociações para a aquisição de ativos ligados à operação de produção e abate de suínos da Doux Frangosul em Caxias do Sul (RS), afirmou ontem o presidente da companhia, José Antonio do Prado Fay. De acordo com o executivo, o negócio cumpriria as exigências impostas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a criação da empresa – a BRF terá de vender um bloco de unidades e marcas, além de suspender o uso das marcas Perdigão e Batavo. “É uma compra de ativos e não de marcas”, afirmou Fay.
Apesar da afirmação, o Cade já questionou a BRF sobre a compra de ativos da Doux. O órgão antitruste manifestou que a BRF não poderia crescer por meio da compra de outras empresas, mas apenas pela ampliação de sua própria capacidade de produção.
No exterior, as aquisições da companhia permanecem “ativas”, lembrou Fay, fazendo alusão à recente compra de uma unidade de abates de frango na Argentina – país que, segundo ele, “tem potencial igual ou até superior ao do Brasil”, maior exportador mundial de frango.
O presidente de BRF, que divulga hoje seu balanço trimestral, explicou ainda que o processo de alienação de ativos da companhia está em fase de estudos por parte das empresas interessadas “Nós sabemos o quanto eles [os ativos] valem, mas as empresas interessadas precisam avaliar”, disse ele. Sem revelar nomes, reconheceu que há companhias estrangeiras e nacionais interessadas. “Tem espaço para todo mundo”, disse ele.
Questionado sobre o embargo russo às carnes brasileiras, Fay disse que o governo trava uma luta “inglória” com a Rússia, já que as razões para o embargo vão além de questões sanitárias, segundo ele. Na opinião do presidente da BRF, as duas principais motivações para o embargo são a aceitação da Rússia na Organização Mundial de Comércio (OMC) e a pretensão do país de se tornar autossuficiente em suínos e frangos até 2020, protegendo, para isso, os produtores locais.
O executivo da BRF participou ontem de debate no 22º Congresso Brasileiro de Avicultura, em São Paulo. Também presente ao encontro, o diretor-geral da Seara Alimentos, Mayr Bonassi, disse que o Brasil travará uma “dura” competição com as exportações de carne de frango provenientes de países como Rússia, Argentina e Ucrânia nos próximos cinco anos. “Você começa a ver contêineres de Argentina, Ucrânia e Turquia no Oriente Médio”.
Apesar da preocupação, o diretor da Seara, controlada pela Marfrig, acredita que os concorrentes não terão fôlego no longo prazo, por conta das dificuldades climáticas e da indisponibilidade de área agricultável para a produção de grãos, usados como insumos no processo de produção de carne de frango.