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BRF

Risco de demissões?

Exigências impostas pelo Conselho Administrativo de Direito Econômico são insuficientes para criadores e empregados da BRF.

As exigências impostas pelo Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade) para quem vier a adquirir ativos da BRF-Brasil Foods foram insuficientes para tranquilizar os empregados e criadores integrados de aves e suínos vinculados às unidades que serão vendidas. Para a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) e para a Federação dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação do Estado (FTIA), os termos da decisão geram “insegurança” nos dois segmentos porque estabelecem compromissos muito brandos para o comprador.

As entidades avaliam que, em tese, a desconcentração do mercado é positiva. Mas, segundo o secretário-geral da FTIA, Valdemir Corrêa, a garantia de manutenção do nível de emprego por seis meses nas unidades vendidas não basta. “E depois, como é que fica?”, indaga ele, que ainda desconfia do compromisso da BRF de “minimizar os impactos decorrentes da mudança de controle” dos ativos. “Se falam em minimizar é porque teremos problemas.”

O presidente da Fetag-RS, Elton Weber, entende que o prazo também vale para a manutenção dos integrados, o que configura uma garantia apenas “temporária” para os criadores. Ele teme que após esse período o futuro comprador reduza o número de criadores vinculados às plantas e reclama que o Cade deveria ter determinado compromissos mais rigorosos. “Quem comprar pagará menos do que pagaria se não houvesse uma decisão do Cade e por isso deveria dar uma contrapartida maior.”

De acordo com informações disponíveis na página da BRF na internet, o Rio Grande do Sul concentra o maior número de unidades industriais da empresa (18 de 60) além de cinco centros de distribuição. O número de funcionários no Estado, conforme a FTIA, chega a 12 mil, sendo que 90% trabalham nos frigoríficos e fábricas de embutidos, empanados e ração em Lajeado, Marau e Serafina Corrêa.

De acordo com Weber, da Fetag-RS, a BRF também detém o maior contingente de integrados do Rio Grande do Sul, com uma participação de cerca de 20% sobre o total de 15 mil criadores do Estado. A segunda maior é a Doux Frangosul, que desde 2009 vem atrasando os pagamentos aos seus 2,2 mil fornecedores gaúchos. “No papel, a Doux paga 20% a mais do que a BRF, mas pelo menos a BRF paga em dia”, diz o dirigente.

Pelo lado dos trabalhadores, as negociações salariais ficaram bem mais “duras” depois da compra da Sadia pela Perdigão, em 2009, lembra Corrêa, da FTIA. Neste ano, porém, com o crescimento do mercado e a disputa por mão-de-obra entre as indústrias de alimentação e de outros setores, a BRF teve que mudar a política. Com isso, houve um reajuste de quase 24% no piso salarial da empresa, para R$ 755.

Para Losivanio Luiz de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), os produtores sentiram perdas nos últimos dois anos. “A indústria tomou o que tinha de mais vantajoso nos dois modelos e o produtor integrado perdeu em remuneração.” Para ele, a oficialização da fusão agravará a questão.

Já Valdemar Kovaleski, presidente do Sindicato Patronal dos Criadores de Aves do Estado de Santa Catarina (Sincravesc), vê a fusão com otimismo. Kovaleski avalia como “altamente positiva” a decisão do Cade, pois não interfere na atuação internacional da BRF.

Na avaliação do representante sindical, a presença forte de uma marca global vai ajudar a avicultura catarinense, voltada à exportação, a retomar as vendas. No primeiro semestre, a avicultura catarinense reassumiu a liderança nos embarques para o exterior. Segundo dados divulgados pela União Brasileira de Avicultura (Ubabef), o Estado exportou 520,1 mil toneladas, com alta de 9,2%.

O diretor-executivo da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Ricardo Gouvêa, também vê a decisão com bons olhos: “A fusão está unindo duas empresas que sempre trouxeram um alto grau de desenvolvimento para a avicultura catarinense”. Segundo ele, a preocupação com o direito econômico foi atendida com as medidas do Cade. O diretor também afasta perdas com a venda de ativos da Perdigão no Estado. “As unidades não vão fechar, vão ser vendidas para concorrentes.”