Da Redação 18/08/2005 – A Sadia deve assinar nos próximos dias protocolo de intenções com o governo do Mato Grosso para a implantação de um complexo industrial em Lucas do Rio Verde, na região central do Estado. Conforme apurou o Valor, os detalhes do protocolo de intenções estavam sendo discutidos ontem por diretores da empresa e pelo governo mato-grossense. Procurada, a Sadia informou que não comentaria o assunto. Mas no ano passado, o então presidente da companhia, Walter Fontana, chegou a admitir que uma unidade poderia ser construída para diminuir os gargalos existentes na empresa.
A decisão de ampliar os investimentos no Mato Grosso, onde a Perdigão também acaba de entrar após adquirir o Mary Loise em Nova Mutum, faz parte da estratégia de buscar regiões com grande oferta de grãos, o que reduz os custos de produção de aves e suínos. A Sadia já tem indústria em Várzea Grande, no sul do Mato Grosso.
Para implantar o complexo industrial em Lucas do Rio Verde, com abatedouro de frango – e no futuro, de suínos – além de fábrica de rações, a Sadia ocupará a área que estava destinada ao projeto Ema (Empresa Mato-grossense de Alimentos), de 50 hectares, e mais 350 hectares serão desapropriados.
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O projeto Ema foi lançado em agosto do ano passado por um grupo de cinco produtores de grãos interessados em agregar valor ao milho cultivado na região. O plano era construir um abatedouro de frango com capacidade de abate de 300 mil cabeças por dia em dois anos. Nos últimos meses, os idealizadores do projeto começaram a oferecê-lo a grandes indústrias, como Sadia e Perdigão. A Sadia interessou-se pela área.
Parte das obras do projeto Ema já estava em curso – terraplanagem e um dos prédios -, mas foi interrompida após a decisão da Sadia de investir na cidade. O grupo de produtores que lançou o projeto – e já tinha investido R$ 6 milhões nas obras -, receberá uma indenização da Sadia. A construção do complexo deve ser iniciada ainda neste semestre. Numa primeira fase, a Sadia deve abater 170 mil aves por dia na nova unidade de Lucas de Rio Verde. O plano, segundo fontes ouvidas pelo Valor, é alcançar 500 mil aves/dia futuramente. E também implantar o abate de suínos em Lucas. Os cerca de 400 produtores que estavam envolvidos no projeto da Ema devem se integrar ao novo abatedouro da Sadia, de acordo com uma fonte.
Os investimentos em Lucas do Rio Verde fazem parte dos cerca de R$ 500 milhões anunciados recentemente pela Sadia. Um especialista do setor avalia que a construção de um abatedouro de frango deve demandar cerca de R$ 70 milhões e a fábrica de rações, mais R$ 30 milhões. Além disso, haverá ainda investimentos por parte dos integrados nas granjas e aviários.
O investimento da Sadia em Mato Grosso mostra um acirramento da disputa entre a companhia e a Perdigão, diz um analista. As duas empresas vêm apostando na Centro-Oeste por conta da disponibilidade de grãos e recentemente fizeram movimentos importantes na região. A Sadia comprou a Só Frango em Brasília enquanto a Perdigão arrendou a Prontodelis em Santa Maria (DF) e comprou o Mary Loise m Nova Mutum.
Em ambos os casos, as empresas estão buscando ampliar a produção principalmente por conta do avanço das exportações de carne de frango.
Analistas acreditam que a Sadia, assim como ocorreu com a Perdigão em Rio Verde (GO), deve enfrentar dificuldades para implantar o projeto de integração em Lucas do Rio Verde. “Começar do nada demanda tempo”, afirma um especialista. Ele observa que a estrutura fundiária no Mato Grosso, com grandes e médios produtores, é diferente do Sul do país e pode levar tempo até que os integrados se adaptem ao sistema.
