Redação (23/03/2009) – Fragilizadas por problemas financeiros ou instáveis diante dos solavancos da crise global, empresas procuram reforços. É com expectativa que se aguarda a definição da situação da Sadia, mais uma candidata a protagonizar esse tipo de transação.
Nesta semana, a companhia deve divulgar os resultados de 2008. No mercado, já se sabe que o prejuízo será bilionário – a dúvida é se passará pouco da cada de R$ 1 bilhão ou se alcançará mais de R$ 5 bilhões.
Grandes negócios entre empresas, designados como “fusões e aquisições” no mundo empresarial, têm chamado a atenção dos brasileiros desde o final de 2008. Em janeiro, segundo relatório da PricewaterhouseCoopers, apenas seis transações somaram mais de R$ 16 bilhões.
Se o amálgama da Sadia será com a Perdigão, originando a maior processadora de frango do mundo, ou com outra empresa ainda é uma dúvida, é quase certo que a companhia terá de fundir seus cobres com os de um parceiro mais robusto. "Com falta de dinheiro e crédito difícil, situações específicas fazem com que empresas precisem tomar iniciativas. Foi o caso da Aracruz, é o caso da Sadia, ambas afetadas por perdas com operações no mercado financeiro", observa Alexandre Pierantoni, sócio da Price.
Preservação de 60 mil empregos
Para Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos (Abef), uma associação da Sadia pode preservar 60 mil empregos diretos, além de 100 mil produtores integrados. "Em situação normal, uma concentração deste tamanho preocuparia. Agora, o maior interesse é salvar o negócio. Com tantas unidades, não há temor de grande enxugamento, e um grupo fortalecido poderia retomar investimentos. Sem contar que a marca é valiosa em todo o mundo".
José Roberto Martins, da GlobalBrands, concorda, mas adverte que o valor de uma marca não é estático. Evolui com o tempo e os incidentes que envolvem uma empresa. O desgaste com as notícias negativas em torno da Sadia afeta de forma diferente o público institucional e o de varejo:
Para o comprador de presunto, não faz muita diferença. Ele pensa: “O problema é dos caras lá em cima”.
Luís Motta, da KPMG no Brasil, destaca outra mudança imposta pela crise: a estimativa de risco. "Se antes eu aceitava uma taxa de retorno de 10%, agora posso querer 15% porque o risco é maior".
Enquanto os especialistas veem ambiente pouco propício a fusões, Haroldo Mota, da Fundação Dom Cabral, vislumbra um fenômeno totalmente adequado ao momento. "O mercado encolheu com a crise. Como não dá para todo mundo jogar o jogo, vamos nos unir. E não é só por proteção, é por sobrevivência".