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Sadia e Perdigão tem exportações fracas no 1o trimestre

As empresas promoveram paradas técnicas para diminuir em aproximadamente 20% a produção destinada às exportações, a fim de contribuir para a redução do nível dos estoques mundiais.

Redação (02/04/2009) – O arrefecimento da demanda mundial por carne de frango marcou os resultados do quarto trimestre de Sadia e Perdigão e deve deixar herança para o balanço do primeiro trimestre de 2009. Nos três primeiros meses de 2009, as empresas promoveram paradas técnicas para diminuir em aproximadamente 20% a produção destinada às exportações, a fim de contribuir para a redução do nível dos estoques mundiais. Mas ao final deste primeiro trimestre, ao detalhar os resultados de 2008, as duas principais empresas do segmento declararam que a maior parte desse ajuste já foi feita, sinalizando que o fluxo comercial começa a ser retomado com alguns mercados relevantes.

Contudo, o resultado referente aos meses de janeiro a março deve trazer uma significativa queda nas vendas externas. O diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Perdigão, Leopoldo Saboya, afirmou, após apresentar os números de 2008, que os volumes de exportação no primeiro trimestre deste ano foram afetados pela redução drástica nas compras em mercados-chave para o Brasil. O diretor de Relações com Investidores da Sadia, Welson Teixeira Junior, traçou cenário semelhante, ao observar que o período foi marcado por pressão de baixa nos preços internacionais, devido ao movimento de ajuste nos estoques.

Ou seja, as duas empresas adiantaram que os números virão pressionados pelos resultados externos e que o balanço do primeiro trimestre pode ser o pior de um ano que será, no mínimo, desafiador. Apesar de o quarto trimestre de 2008 ter sido marcado pelo agravamento da crise econômica global, que resultou em queda dos preços em relação ao terceiro trimestre, na comparação anual o resultado das operações de mercado externo das duas companhias não ficou comprometido. Os preços do frango no mercado externo subiram tanto ao longo de 2008 que, mesmo com a queda de braço travada com os importadores no final do ano, eles ficaram superiores aos praticados no mesmo intervalo de 2007.

A Perdigão conseguiu compensar a valorização de 28% do dólar entre o quarto trimestre de 2007 e o mesmo período de 2008. O preço médio em reais das exportações de aves praticado entre outubro e dezembro do ano passado pela empresa foi de R$ 4,54 o quilo, 34,7% maior do que o praticado em igual intervalo do ano anterior (R$ 3,37 o quilo). A Sadia, por sua vez, conseguiu um aumento de apenas 19,5%, mas, mesmo assim, os preços praticados por ela foram superiores aos praticados por sua rival, de R$ 4,91 no quarto trimestre de 2008.

Para se ter uma ideia do comportamento do setor como um todo, a receita com exportações das duas companhias somou R$ 2,80 bilhões no trimestre, um avanço de 26% ante a receita média de igual período de 2007. No ano, as exportações de ambas somaram aproximadamente US$ 10,6 bilhões, o que representa uma alta de 37% em relação ao acumulado dos 12 meses de 2007. Contudo, os executivos das duas companhias afirmaram, após a divulgação de seus resultados, que a demanda externa já apresenta recuperação, especialmente nos países do Oriente Médio, que no ano passado foram responsáveis por 27% e 25% das exportações da Sadia e Perdigão, respectivamente.

Na Europa, porém, continente que responde por aproximadamente 20% das vendas externas das empresas, o ritmo de recuperação é mais lento. A expectativa da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef) é de que as exportações do setor apresentem crescimento de 5% este ano, em volume. Na avaliação da Perdigão, no entanto, será difícil realizar um aumento nesse nível. A companhia, que chegou a divulgar expectativa semelhante para o desempenho do mercado externo em 2008, espera um cenário mais estável para as exportações em 2009.

A demora na recuperação das exportações pode atrapalhar o desempenho operacional das empresas, pois as vendas externas são responsáveis por aproximadamente 40% de seu faturamento. Do lado financeiro, os desafios também serão grandes nos próximos meses, especialmente para a Sadia, que tem uma dívida de R$ 1,95 bilhão a vencer no terceiro trimestre. A Perdigão, por sua vez, deve trabalhar para a redução do endividamento causado pelo aumento dos investimentos e aquisições, que fizeram com que a relação lívida líquida/Ebitda atingisse 2,9 vezes no ano, ante 0,5 vez em 2007. Vale lembrar que a delicada situação financeira da Sadia pode resultar, inclusive, em uma fusão com a sua rival, conforme já sinalizou o próprio presidente do conselho de administração da empresa, Luiz Fernando Furlan.

Custos

Se a receita com as exportações deve ficar comprometida devido à queda na demanda, ao mesmo tempo a crise econômica pode contribuir para a redução de custos com a aquisição de matéria-prima. O ano passado foi marcado por uma forte alta no preço das commodities que comprimiu as margens das indústrias de aves. No quarto trimestre, no entanto, com o agravamento da crise econômica, o preço das commodities caiu, inclusive o das agrícolas. Para 2009, a expectativa é de que as cotações do milho e da soja mantenham-se em níveis inferiores aos praticados no ano passado e apresentem menos volatilidade, o que favorecerá o planejamento das companhias.

Mas, ainda que o preço dos insumos ajude, as indústrias do setor devem apresentar margens mais apertadas este ano. A Sadia já avisou aos investidores e acionistas que a margem Ebitda deve ficar entre 8% e 10% em 2009, abaixo dos 10,9% de 2008. A margem Ebitda ajustada, que desconsidera os efeitos da Lei 11.638/07, foi de 12,8% no ano passado. A Perdigão não forneceu qualquer tipo de previsão para este ano.