Redação (05/02/07) – Após comemorar os resultados recordes obtidos em 2005 em encontro com analistas no início do ano passado, a direção da Sadia sabia que teria dificuldades pela frente, mas estava confiante. Apesar do câmbio pouco favorável às exportações, previa para 2006 uma melhoria qualitativa dos resultados, a manutenção dos investimentos e acreditava que o Brasil seria até beneficiado pela disseminação da gripe das aves, que até então estava concentrada na Ásia.
Com o avanço da doença no Leste Europeu e depois na própria Europa Ocidental, contudo, a confiança inicial do maior frigorífico de aves e suínos do país derreteu. Consumidores do Velho Continente entraram em pânico e simplesmente pararam de comprar frango. Em alguns países, a demanda caiu mais de 30%, os preços tombaram nos mercados externo e interno e as prioridades mudaram. Produtos industrializados, imunes ao vírus da gripe, ganharam importância, e graças sobretudo a eles, as vendas no Brasil ganharam novo fôlego.
No fim, a gripe aviária não beneficiou o Brasil, o câmbio repetiu o papel de vilão, as exportações da companhia tombaram e com isso a maior parte de seus resultados foi afetada . Mas a empresa fechou 2006 no azul e os investimentos realizados bateram recorde apesar da fracassada oferta para adquirir a concorrente Perdigão – o que, devido às circunstâncias, foram mais que um alento.
“Foi um ano muito difícil. Mas houve uma recuperação importante no quarto trimestre de 2006 e estamos em vôo de cruzeiro neste início de ano. São boas as perspectivas”, disse na sexta-feira Walter Fontana Filho, presidente do conselho de administração da Sadia, no primeiro encontro com analistas em 2007.
Aparentemente tranqüilo, como de costume, Fontana mostrou-se preocupado com a escalada dos preços de milho e soja, matérias-primas cujos preços estão muito contaminados pela “febre do etanol” sobretudo nos EUA, uma vez que cálculos da empresa sinalizam que os custos do milho deverão ser em média 25% maiores em 2007 do que em 2006. Mas previu uma “dinâmica mais interessante” para as exportações de frango – apesar de novos casos de gripe no Japão, Rússia e Hungria, entre outros países -, melhorias nos resultados e gordos investimentos.
Na apresentação que fizeram, tanto o diretor-presidente da Sadia, Gilberto Tomazoni, quanto o diretor de relações com investidores da empresa, Welson Teixeira Júnior, deixaram claro que a gripe aviária, atualmente, motiva nos consumidores reações menos emocionais e mais racionais, daí a expectativa de que as exportações não enfrentem, em 2007, as adversidades de 2006 mesmo que apareçam casos no mal em grandes mercados importadores.
“E os investimentos no segmento de produtos industrializados também funcionam como proteção neste caso”, disse Teixeira. Os industrializados representaram 11% das exportações de R$ 3,4 bilhões da Sadia no ano passado, ante 10% em 2005, quando os embarques somaram R$ 4,1 bilhões. No mercado doméstico, a participação subiu de 77% para 79%, sendo que nesta frente a receita da empresa subiu 5,4%, para R$ 4,5 bilhões.
No país e no exterior, a companhia projeta investir entre R$ 900 milhões e R$ 950 milhões ao longo de 2007, ante o recorde de R$ 1,055 bilhão do ano passado. Cerca de R$ 400 milhões serão aplicados no complexo de aves e suínos de Lucas do Rio Verde (MT), cuja primeira etapa deverá ser concluída em meados do ano, e outra fatia expressiva será destinada ao projeto em andamento na Rússia. Outras unidades do país terão aportes, a logística terá melhorias e entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões vão para matrizes.