Da Redação 27/05/2003 – A Sadia reduziu seu endividamento líquido em R$ 140 milhões com a criação de um fundo formado por recebíveis da própria empresa. A carteira, montada pela corretora da companhia, a Concórdia, é formada por créditos da companhia com clientes nacionais.
O diretor financeiro e de relações com investidores da Sadia, Luiz Murat, afirmou que a iniciativa é pioneira e existe espaço para outros produtos similares. De acordo com o último dado disponível, a empresa fechou março com uma dívida líquida de R$ 1 bilhão.
A Concórdia Corretora anunciou o lançamento de um fundo de investimentos fechado composto por recebíveis da Sadia, originados das atividades da empresa no mercado nacional. O patrimônio do portfólio é de R$ 150 milhões.
Esses recursos representam caixa para a companhia – o que reduz sua dívida.
A carteira tem liquidação prevista para daqui três anos, mas pode ser renovada.
O diretor de renda fixa da Concórdia, Joel Rosa, contou que, do patrimônio total, R$ 120 milhões vieram do Rabobank International Brasil, R$ 20 milhões foram aplicados pela fundação da empresa e outros R$ 10 milhões pela própria Sadia. A redução do endividamento é inferior ao patrimônio do fundo, por não incluir os recursos aplicados pela companhia.
O Rabobank adquiriu cotas seniores do fundo, que terão rentabilidade de 95% do CDI e não têm risco de inadimplência dos recebíveis. Esse risco ficou embutido apenas nas cotas subordinadas, que foram subscritas pela Sadia e pela fundação da empresa. Essas últimas embutem ainda todo o custo de desenvolvimento e manutenção do fundo.
Murat afirmou que a idéia do produto surgiu dentro da Sadia, por causa do custo elevado do capital de giro necessário para as suas atividades operacionais. A empresa fornece prazo para os clientes fazerem o pagamento das mercadorias, o que acaba elevando ainda mais seu custo financeiro. São esses recebíveis que formaram o fundo.
“Todo mundo sabe que trabalhar com desconto de duplicata é caríssimo no Brasil”, ressaltou Murat. Esse mecanismo permite ao empresário adiantar o recebimento dos recursos do cliente por meio de uma instituição financeira, mas tem o custo atrelado ao CDI, o que encarece a operação.
De acordo com o executivo, não existe uma limitação para a formação de novos fundos desse gênero, pois não há restrições para uso dos recebíveis com essa finalidade. Segundo Murat, a Sadia tem um faturamento anual doméstico de R$ 2,5 bilhões, gerando cerca de R$ 200 milhões mensais em recebíveis. No entanto, no momento, não existem novas carteiras desse tipo em estudo.