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Seara diz estar pronta para voltar a crescer

<p>A Cargill prepara-se para investir em duas novas unidades industriais.</p>

Redação (26/09/06)- No fim de 2005, pouco mais de um ano depois de ter adquirido a Seara Alimentos, a Cargill embarcou na montanha-russa que se tornou o mercado de carnes nacional após o “advento” da gripe aviária no mundo e o ressurgimento da febre aftosa no Brasil. E para enfrentar o sobe-e-desce brusco, teve de tomar medidas duras. Mal terminara os ajustes que a compra da empresa brasileira precipitou em suas operações no mundo (como o fechamento de unidades na Bélgica e Irlanda), a gigante americana decidiu dar férias coletivas, demitir funcionários e foi obrigada a guardar na gaveta – temporariamente – seus planos de expansão no Brasil no segmento de carnes.

Agora, a Cargill garante já estar colhendo os resultados de tais ações e prepara-se para investir em duas novas unidades industriais, uma no Mato Grosso do Sul e outra no Estado do Paraná. As férias coletivas e as demissões, que ocorreram no primeiro semestre deste ano e que levantaram questões no mercado sobre as intenções da Cargill em relação à sua operação carnes no país, foram consequência de um período de “inferno astral” na indústria de aves e suínos, como define Sérgio Rial, diretor-presidente da Seara.

Tudo começou com a queda da demanda internacional por carne de frango por causa do avanço da gripe aviária na África e Europa. Depois, a Rússia suspendeu as compras de carne suína de oito Estados em decorrência de casos de aftosa no país em outubro passado. Para coroar o quadro desfavorável, o câmbio valorizado diminuiu a competitividade brasileira no exterior. “Quando a Cargill comprou a Seara, foi contemplado o efeito da gripe aviária. O que não se antecipou é que o real sofreria a ão curto de tempo [ante o dólar]. Em cerca de dois anos, a valorização foi de 30% a 40%”, afirma Rial, que também é diretor-regional da Cargill para a América Latina. Com 70% de seu faturamento proveniente da exportação, a Seara previu que sentiria o golpe e decidiu ajustar sua oferta ao novo quadro de demanda. Para isso, deu férias coletivas nas nove unidades, reduziu turnos e demitiu 450 funcionários no primeiro semestre.

Também adiou seu plano de expansão. “Existiam várias oportunidades [de compra], mas decidimos não avançar de forma agressiva, o que foi uma decisão acertada”, diz Rial. De fato, durante boa parte de 2005 e também deste ano, havia informações no mercado de carnes de que a Cargill estaria negociando a compra da Avipal, assunto que o executivo não comenta. Segundo ele, o fato de a Seara estar atrelada à estrutura de carnes da Cargill atenuou o impacto da crise, e algumas empresas sofreram mais porque haviam ampliado suas operações, de olho no mercado externo.

É o raciocínio do “vamos conquistar o mundo”, ironiza. Mas ao colocar o pé no freio, a Cargill acabou suscitando dúvidas sobre seus planos para carnes no Brasil. Desde a saída do negócio suínos até a eventual venda da Seara, tudo foi aventado no mercado. Possibilidades que Rial descarta. “Entramos nesse negócio para ganhar dinheiro, crescer, vencer”, afirma. Ele entende que a empresa é hoje uma das mais atraentes do mercado brasileiro. “É inquestionável o papel da Seara na consolidação [do mercado]. A Cargill está comprando, ”fusionando”.

A opção venda não se justifica neste momento”, garante o executivo. Ele também nega a intenção de sair do segmento de suínos, já que as perspectivas são positivas para a Seara. “Fomos a única empresa no Brasil habilitada para exportar carne suína cozida para o Japão”, afirma. O novo cliente vai reduzir a dependência do mercado da Rússia, que mantém o embargo à carne suína brasileira proveniente de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Goiás e Minas Gerais e reabriu as compras de Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Rial garante que as medidas tomadas no primeiro semestre pavimentaram o caminho para uma recuperação mais rápida da empresa. Segundo ele, as operações já foram normalizadas após as férias coletivas e todos os 450 funcionários demitidos foram recontratados. A Seara tem hoje 16,2 mil empregados. A empresa também já conseguiu recuperar volumes de exportação. Os embarques de carne de frango para a Ásia aumentaram, principalmente para Hong Kong e Cingapura, e a previsão é que o faturamento total da companhia cresça 20% sobre os R$ 2,2 bilhões de 2005, segundo Rial. Já o resultado líquido vai depender do desempenho deste segundo semestre, que ainda apresenta margens apertadas, conforme o executivo. Um número igual ao de 2005, quando a empresa teve um prejuízo de R$ 1 milhão, significaria que as perdas do primeiro semestre foram compensadas, diz. Para Rial, se o resultado for pior, “não será muito pior” (queda de 10% a 15% sobre 2005).

O mesmo vale para um resultado positivo, que seria “não muito melhor” (alta de 10% a 15%). Além de continuar olhando “boas oportunidades”, a Cargill também deve investir R$ 100 milhões, “numa primeira fase”, em fábrica de termoprocessados de frango em Sidrolândia (MS), onde a empresa já tem unidade. O destino do produto é a Europa. Também construirá abatedouro no Paraná, para produção de frango inteiro, que terá como destino o Oriente Médio, segundo Rial. O local e o valor do aporte ainda não estão definidos. Ele explica que o Paraná atrai pela disponiblidade de milho para a ração e pela logística.