O recente interesse de grandes indústrias de suco de laranja radicadas em São Paulo pelo Paraná fez com que a Cocamar, cooperativa com sede em Maringá, optasse pela venda de sua unidade para a Louis Dreyfus Commodities.
Multinacional de origem francesa, a LD concentra seus negócios de suco no interior paulista, onde compete com as brasileiras Citrosuco e Citrovita, que estão em processo de integração das operações, e Cutrale. O negócio entre Cocamar e Dreyfus foi anunciado na semana passada, e a fábrica de processamento da cooperativa mudará de mãos no começo de abril.
“Enquanto as grandes estavam apostando no interior de São Paulo, tudo bem, mas não temos como competir com elas aqui”, afirmou ao Valor o presidente da Cocamar, Luiz Lourenço. Ele contou que, em um ano, foi procurado por três empresas do ramo. Se quisesse permanecer na área, teria de fazer investimentos para ganhar escala.
Não é a primeira vez que a Cocamar decide se concentrar nos grãos, seu principal negócio. Em 2006, vendeu sua usina de etanol para o grupo Santa Terezinha; naquele mesmo ano, deixou de industrializar casulos de seda.
O valor da venda da fábrica de suco não foi revelado, mas Lourenço disse que o dinheiro vai engordar o capital de giro. “O trabalho que estamos fazendo na Corol [cooperativa arrendada em 2010] exige recursos em estrutura, como balanças, tombadores e outras coisas que movimentam a soja”, comentou o executivo.
Lourenço lembrou que o projeto com laranja foi difícil desde o começo e que “não estava no tamanho adequado”. A iniciativa de investir em citricultura começou nos anos 80 e contou com o apoio do governo do Estado. A ideia era fomentar uma nova atividade econômica no noroeste paranaense.
A indústria foi instalada em 1993 e teve altos e baixos por causa de crises de preços. A ideia da cooperativa era chegar a 10 milhões de caixas da fruta processadas em 2010, mas até 2011 o volume não ultrapassou 6 milhões de caixas.
Para competir na área, Lourenço estima que teria de chegar a 20 milhões de caixas. “Consultamos os cooperados e colocamos nossa dificuldade em competir”, explicou. “Poderíamos até prejudicar o produtor se insistíssemos.”
A escolha pela LD, segundo o executivo, foi motivada pela parceria firmada entre as duas partes. A Cocamar vai gerenciar a produção, com fornecimento de insumos, assistência técnica e recebimento das laranjas, que depois serão repassadas para a nova dona da fábrica.
Lourenço descartou aportes em outra atividade industrial fora do “core business”, mas disse que vai continuar atuando no varejo com suco, óleo, margarina e maionese.
Mesmo com a venda, o dirigente informou que a queda no faturamento não será grande. A unidade de laranja gerava R$ 70 milhões em receitas por ano. Em 2011, a Cocamar, que comemorou 49 anos na terça-feira, faturou R$ 2 bilhões, com sobras (lucros) de R$ 35 milhões.