A substituição de proteínas em tempos de crise econômica deflagrada pela pandemia da covid-19 e a redução da oferta doméstica de carne bovina abriram espaço para que as cadeias brasileiras de carnes de frango e suínos estejam com produção e exportações relativamente firmes este ano.
Em apresentação virtual à imprensa, Ricardo Santin, diretor-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), lembrou que, em cenários de crise, é normal que esse movimento de substituição de proteínas por parte do consumidor privilegie sobretudo carne de frango e ovos, como de fato vem acontecendo este ano.
Santin também observou que, além disso, a oferta de carne bovina no país está restrita, como apontaram dados que indicaram a redução de abates de animais. Nesse cenário de carne bovina sustentada pela oferta restrita, portanto, sua substituição por alternativas mais baratas ganha impulso.
No front externo, Santin observou que a Ásia deverá continuar a puxar os embarques brasileiros de carnes de frango e suína. No caso da China, principal destinos das exportações do Brasil nos dois casos, a produção de carne de frango deverá crescer em 2020, mas, segundo o executivo, o déficit continuará grande. Já a produção chinesa de carne suína, ainda prejudicada pela peste suína, deverá voltar a cair este ano.
Embora o cenário possa ser considerado positivo para o segmento nesses tempos de pandemia, Francisco Turra, presidente da ABPA, reforçou que os custos da indústria estão em alta. Em parte, essa alta decorre da valorização dos grãos usados nas rações, em parte por causa do câmbio favorável.
Outro ponto de preocupação no segmento — e de elevação de custos — continua a ser com a segurança dos funcionários dos frigoríficos por causa da covid-19. Pelas características das linhas de produção de carnes, onde os funcionários trabalham “cotovelo a cotovelo”, a disseminação da doença, se não houver medidas de controle, pode ser facilitada.
Alegando justamente a contaminação de funcionários, a China suspendeu as habilitações de alguns frigoríficos brasileiros nas últimas semanas, como já informou o Valor. A expectativa de fontes desse mercado é que o país asiático ainda barre outras unidades.
A ABPA reforçou que vem orientando as empresas do segmento a respeitarem as medidas exigidas pela portaria interministerial que buscou harmonizar essas regras.
A entidade também contabilizou mais de R$ 500 milhões em ajuda das unidades do ramo a comunidades no combate ao novo coronavírus e suas consequências.