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Agroindústrias

Troca de ativos pode ser opção para a BRF

Presidente da Brasil Foods descarta eventual troca de ativos no segmento de bovinos: "Nosso negócio não é boi".

A BRF Brasil Foods pode recorrer a uma troca de ativos para concretizar a alienação de unidades e marcas prevista no acordo acertado há quase dois meses com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A venda do bloco de ativos e a suspensão da marcas Perdigão (por três a cinco anos em algumas categorias) e Batavo, por quatro anos, foram as condições impostas pelo Cade para aprovar a união entre Perdigão e Sadia, que deu origem à BRF.

“Podemos trocar ativos com qualquer um [empresa] que tenha ativos fora do Brasil. Não posso trocar no Brasil porque o Cade não vai deixar”, disse José Antônio do Prado Fay, diretor-presidente da BRF, em entrevista ao Valor na quinta passada.

Segundo ele, a troca de ativos poderia ocorrer dentro do próprio Brasil se o eventual interessado nas unidades da BRF fosse de outro setor. O executivo afirmou, porém, que a BRF não pretende ingressar em outro segmento. Fay também garantiu que não haveria uma troca de ativos no segmento de bovinos. “Bovinos não é nosso ‘core’ e não vai ser”, reforçou.

Ainda que o executivo não faça menção às empresas que estariam interessadas nos ativos da BRF, no mercado só se fala de Marfrig, JBS, Minerva e da americana Tyson Foods. Os três primeiros atuam principalmente em carne bovina. Já a Tyson é líder em frango nos Estados Unidos e tem uma operação ainda pequena de aves no Brasil.
 
Uma eventual troca de ativos no exterior se encaixa perfeitamente na estratégia de internacionalização da Brasil Foods, reforçada após o acordo com o Cade. “A internacionalização já era uma estratégia central da companhia e agora mais do que nunca”, comentou.

Segundo Fay, por meio da internacionalização a BRF poderá repor o que vai perder de faturamento com a venda dos ativos e das marcas. “São R$ 2,9 bilhões que saem do faturamento ano que vem. Então temos como uma das possibilidades de reposição aquisições fora [do Brasil], faturar mais fora do Brasil”. O valor se refere ao impacto da venda de ativos e da suspensão temporária de marcas.

Ele observou que compras de ativos dentro do Brasil ficaram mais restritas após o acordo com o Cade, que visa criar uma empresa concorrente da BRF no mercado brasileiro. “Só posso comprar coisas muito básicas, não posso comprar marca e fora posso comprar o que quiser”. O dólar desvalorizado também dá “mais poder de fogo” para adquirir ativos fora do Brasil.

Atualmente, a Brasil Foods tem duas unidades no exterior, na Holanda e Inglaterra. Mas negocia com a chinesa Dah Chong Hong Limited a criação de um joint venture na distribuição de produtos na China e no processamento de carnes em fábricas no país. Além disso, a BRF anunciou, em agosto, investimentos de US$ 120 milhões para construir fábrica de processados nos Emirados Árabes Unidos.

A expectativa da Brasil Foods é de que a alienação dos ativos acertada com o Cade ocorra até o fim do primeiro semestre de 2012. A empresa contratou o BTG Pactual, que já finalizou a avaliação do negócio e tem mandato para conversar com eventuais interessados.

Fay não acredita que a crise financeira que afeta EUA e Europa possa adiar a venda dos ativos, mas admite que a negociação pode ficar “mais complicada”. Ele disse não acreditar num cenário em que não exista comprador para tais ativos. “Tem que ter. (…) Porque esse é um ativo que tem valor e é uma porta aberta no mercado brasileiro que não tinha mais”. A última grande operação envolvendo carnes de frango e suína foi a venda da Seara para a Marfrig, em 2009.

Mas e se houver uma mudança brusca de cenário econômico atual? “Em princípio, vamos tentar não discutir mais nada e fazer o que está combinado [no acordo para a venda]. (…) Agora se a crise piorar muito, se acontecerem coisas muito fortes, aí tem que reavaliar”, reconheceu.

Fay rebateu os que afirmam que as unidades colocadas à venda pela BRF valem pouco e não são boas. “No Brasil, não há ativos melhores que esses”. Ele disse que tais alegações são decorrência de “fantasmas” que o processo da BRF no Cade enfrentou, por conta de casos anteriores, como o da Ambev. Naquele processo, houve quem considerasse que a gigante de cerveja alienou fábricas ineficientes.

Segundo o executivo, as unidades foram postas à venda seguindo uma lógica definida pelo Cade de criar um sistema nacional. As fábricas estão espalhadas da Bahia até o Rio Grande do Sul e algumas delas eram as únicas da BRF em seus Estados, como a de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, e a de São Gonçalo, na Bahia. “Se pudesse, não venderia. Quero é vender bem”.

Para substituir a capacidade perdida no Rio, a empresa analisa a possibilidade de construir uma nova fábrica no Sudeste, conforme Fay. Outras possibilidades para repor a capacidade são ampliações de unidades, aquisição e mais turnos de produção.

Já para compensar a suspensão das marcas Perdigão e Batavo por um período de anos, a BRF aposta no lançamento de novos produtos. O intuito, disse Fay, é compensar a falta de determinadas categorias, com a lasanha Perdigão, por exemplo. “Embora a solução tenha sido dura, ela foi palatável para o nosso negócio”, argumentou.

As restrições, de fato, não afetam o otimismo de Fay em relação aos ganhos de sinergia decorrentes da união entre Perdigão e Sadia. A BRF vai até revisar o valor, inicialmente estimado em R$ 500 milhões ao ano a partir de 2012. “Tenho expectativa muito positiva em relação à logística”. A integração dos processos comerciais das duas empresas, possível desde a última decisão do Cade, é um passo importante para esses ganhos.