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Agroindústrias

Tyson faz oferta por Hillshire e dá início a batalha de gigantes com JBS

A americana Tyson Foods Inc. fez uma oferta de US$ 6,1 bilhões pela Hillshire Brands Co.

Tyson faz oferta por Hillshire e dá início a batalha de gigantes com JBS

A americana Tyson Foods Inc. fez uma oferta de US$ 6,1 bilhões pela Hillshire Brands Co., grande fabricante de linguiças e salsichas, deflagrando uma batalha de pesos pesados com a rival JBS SA por um dos mais suculentos ativos remanescentes na indústria da carne. A oferta em dinheiro da Tyson foi feita dois dias depois que a Pilgrim’s Pride Corp., subsidiária da JBS, fez uma oferta não solicitada pela Hillshire que a avaliou em cerca de US$ 5,5 bilhões.

Qualquer uma das ofertas pela Hillshire, se bem-sucedida, marcaria a maior fusão já feita na indústria da carne, de acordo com o provedor de dados Dealogic. Ambas as ofertas atrapalham os planos da Hillshire, anunciados três semanas atrás, de adquirir a fabricante de alimentos embalados Pinnacle Foods Inc. por US$ 4,3 bilhões. Vários fatores estão impulsionando a onda de fusões da indústria de alimentos. O crescimento geral dos gastos dos consumidores em alimentos permanece lento e grande parte do poder de definição de preços da indústria passou para as mãos de grandes varejistas como o Wal- Mart Stores Inc. Frigoríficos de peso como a Tyson e a JBS estão tentando reforçar sua carteira de marcas de alimentos embalados, que geralmente carregam margens de lucro mais elevadas do que o frango e a carne vendidos nos supermercados.

A Tyson e a JBS já são dois dos maiores frigoríficos do mundo e rivais de longa data. A Tyson e a JBS, esta por meio de sua participação majoritária na Pilgrim’s, são os principais processadores de frango dos Estados Unidos. Ambas estão com o caixa gordo num momento em que os consumidores passam a preferir o frango, já que a seca e doenças reduziram os rebanhos nos EUA e elevaram os preços da carne bovina e suína. “Tanto a Tyson quanto a Pilgrim’s desfrutam hoje de uma lucratividade muito boa, mas a Hillshire ajudaria a garantir o crescimento futuro dos lucros de ambas as empresas porque, num certo ponto, o ciclo do frango vai reverter”, diz Farha Aslam, analista da Stephens Inc. As fabricantes de alimentos embalados, por outro lado, estão tentando cortar custos e entrar em novas áreas de interesse do consumidor. Em abril, a própria Hillshire comprou a Van’s Natural Food, de alimentos naturais, por cerca de US$ 165 milhões, colocando um pé no setor de produtos sem glúten.

A oferta de aquisição da Pinnacle, agora ameaçada, criaria uma empresa de US$ 6,6 bilhões em receita combinada e marcas que incluem molhos de salada, picles e panquecas congeladas. Outras empresas de alimentos com um portfólio muito carregado com produtos a base de carboidratos estão buscando adquirir marcas mais nutritivas em resposta à mudança de hábitos dos consumidores. No mês passado, a fabricante de cereais matinais Post Holdings Inc. comprou a Michael Foods Inc., que se concentra em produtos lácteos e a base de ovos, por US$ 2,45 bilhões. Outros acordos do setor de alimentos também incluem a aquisição, no ano passado, da processadora americana de carne de porco Smithfield Foods Inc. pela maior processadora de carne suína da China, por US$ 4,7 bilhões, e a compra de H.J. Heinz Co. pela brasileira 3G Capital e a Berkshire Hathaway Inc., de Warren Buffett, por US$ 23 bilhões.

As empresas de alimentos estão fazendo aquisições porque “se elas não encorparem, correm o risco de serem engolidas”, diz Nicholas Fereday, analista do setor para o banco Rabobank. Os produtos da Hillshire, que incluem também frios e as sobremesas Sara Lee, estão entre as marcas de carne mais conhecidas nos supermercados americanos. Essa vantagem há muito faz da empresa de Chicago um alvo potencial para aquisição pelos grandes frigoríficos. O faturamento anual da Hillshire, de US$ 4 bilhões, é bem menor que o da Pilgrim’s e o da Tyson, mas o seu negócio em geral é mais lucrativo. Em 2013, margem operacional da Hillshire foi de 9,3%, ante 7,8% da Pilgrim’s e 4,7% da Tyson, segundo as empresas.

A Tyson fez uma oferta de US$ 50 por ação, um negócio avaliado em US$ 6,1 bilhões com base no número de ações da Hillshire no fim de março. Segundo a Tyson, sua oferta é de US$ 6,8 bilhões, incluindo dívidas. A oferta da Pilgrim’s foi de US$ 45 por ação. O acordo com a Hillshire vai “acelerar a estratégia de crescimento”, disse o diretor-presidente da Tyson, Donnie Smith. A Hillshire informou que vai analisar a oferta da Tyson e a Pilgrim’s disse que está revendo suas opções. A Pinnacle não respondeu a pedidos de comentário. O diretor-presidente da Hillshire, Sean Connolly, deveria desistir do negócio com a Pinnacle, “declarar vitória e aceitar a maior oferta”, diz Mario Gabelli, diretorpresidente da Gamco Investors Inc., firma de investimento que detém 4% das ações da Hillshire. “É insustentável continuar com a oferta para a Pinnacle Foods.” A cotação das ações da Hillshire saltou 17,7% ontem, para US$ 52,76, indicando que alguns investidores acreditam que as ofertas vão aumentar.

Já as ações da Tyson subiram 6,1%, para US$ 43,25, e as da Pilgrim’s recuaram 1,1%, fechando em US$ 25,09. A Tyson e a JBS usaram as aquisições para expandir seus impérios na indústria de carnes americana, que vem passando por uma forte consolidação nas últimas décadas. A Tyson e a Pilgrim’s estão entre as cinco empresas que controlam cerca de 60% do processamento de frango nos EUA. Tyson e JBS – juntamente com outros três empresas – processam 70% da carne suína do país e estão entre as quatro que controlam mais de 80% do setor de carne bovina. Em 2009, a JBS comprou a Pilgrim’s Pride quando esta estava em recuperação judicial.

A Tyson superou a Smithfield para comprar a IBP Inc., em 2001, o que ajudou a fazer dela o maior frigorífico americano em vendas. A consolidação gerou preocupações com a concorrência em outros segmentos de carne. Em 2009, a JBS, o maior produtor de carne bovina do mundo, cancelou seu plano de adquirir a National Beef Packing Co. depois que o Departamento de Justiça dos EUA contestou a operação, argumentando que a compra iria derrubar os preços pagos aos fornecedores de gado e elevar os preços da carne para o consumidor. Tim Tiberio, analista da Miller Tabak & Co., disse não acreditar que a compra da Hillshire pela Tyson irá levantar preocupações semelhantes porque o segmento de comidas prontas representa só cerca de 5% do lucro operacional da Tyson. A compra da Hillshire irá elevar esta fatia para 20%, informou a Tyson ontem.