Bruxelas autorizou nessa quarta-feira (06/04) a aquisição pela companhia chinesa do setor químico ChemChina de sua concorrente suíça Syngenta, a segunda operação desse tipo em menos de duas semanas em um mercado em plena concentração.
“A ChemChina propôs importantes medidas corretivas, que respondem plenamente as nossas preocupações em matéria de concorrência, o que nos permitiu autorizar a operação”, disse em um comunicado a comissária europeia do ramo, Margrethe Vestager.
A autorização da Comissão Europeia a esta proposta de aquisição por um montante de 43 bilhões de dólares, a maior realizada por um grupo chinês no exterior, era dada como certa, depois que o organismo regulador da concorrência nos Estados Unidos deu seu aval na véspera.
Em ambos casos, a aprovação foi dada com condições. O executivo comunitário teme especialmente uma redução da concorrência nos mercados de pesticidas e de reguladores do crescimento vegetal.
Concretamente, a ChemChina possui o Adama, o maior distribuidor de produtos fitossanitários genéricos na Europa. Para Bruxelas, seus produtos se solapariam parcialmente aos da Syngenta, que também possui um amplo leque de produtos como herbicidas, inseticidas, fungicidas e reguladores do crescimento das plantas.
Para acabar com as dúvidas da Comissão, o grupo chinês se comprometeu a ceder “uma parte significativa do Adama” no campo dos pesticidas, assim como “alguns pesticidas da Syngenta” e “uma parte significativa das atividades de ‘reguladores de crescimento vegetal para os cereais’ do Adama”, entre outros.
Nos Estados Unidos, o futuro grupo tem que se desfazer do herbicida Paraquat, do inseticida Abamectin e do fungicida Chlorothalonil, três produtos pertencentes à Syngenta.
Fusão no segundo trimestre
A operação, que criará um gigante de 130 bilhões de dólares na Bolsa, acontece em um mercado em plena concentração. Bruxelas autorizou na semana passada a fusão entre os grupos americanos Dow e DuPont, que aguardam a aprovação em seu país.
Essa série de fusões no setor agroquímico, impulsionada pela redução das margens de lucros dos grupos em um contexto de preços baixos, gera preocupação entre as organizações ecologistas.
Embora a Comissão “tenha concluído que as cessões garantirão a manutenção da concorrência efetiva”, a ONG ecologista Amigos de la Tierra advertiu que “permitir a um pequeno número de empresas gigantes controlar o fornecimento de alimentos no mundo inteiro será ruim para os agricultores, os consumidores e o meio ambiente”.
O grupo suíço, que celebrou esta “etapa crucial para a finalização da aquisição” prevista “ao longo do segundo trimestre de 2017”, considerou que a operação “continuará trazendo eleição e inovação aos produtores na Europa e no mundo todo”.
A fusão, anunciada em fevereiro de 2016, deve permitir à China impulsionar sua produção agrícola nacional para alimentar seus 1,3 bilhão de habitantes, em um contexto de redução de terrenos cultiváveis no país.
Pequim dá uma importância crescente ao controle das sementes e das tecnologias suscetíveis de melhorá-las. Antes dessa união, a ChemChina não estava presente na elaboração da comercialização de sementes.
As ONGs também veem com preocupação uma terceira fusão entre grupos agroquímicos, a aquisição por 66 bilhões de dólares da Monsanto pela alemã Bayer. Esta operação, contudo, ainda não foi notificada à Comissão.