Por Humberto Luis Marques e Anderson Oliveira (colaboração e fotos)
A crise sanitária vivida na Ásia tem provocado mudanças profundas no comércio internacional de proteínas de origem animal. Os asiáticos respondem por praticamente 70% da produção mundial de carne suína, com a China sendo responsável por mais da metade deste percentual. Os casos de Peste Suína Africana (PSA), intensificados desde outubro de 2018 na suinocultura chinesa, resultaram em quedas estimadas de até 50% da produção. Em 2018, o mercado chinês consumiu as 54 milhões de toneladas que produziu, mais o total importado de cerca de 1,6 milhão de toneladas.
O gigantesco déficit não é possível de ser suprido por nenhum país, nem mesmo por todo o volume exportável de carne suína no mundo. O cenário alavancou as exportações de frango e bovino rumo à China. A proteína avícola é a de maior potencial no país, já que o consumo doméstico ainda é baixo e o seu preço mais acessível em relação às opções bovina e a própria suína. “Culturalmente, os chineses preferem o consumo de carne suína in natura, mas é preciso acompanhar o processo de mudanças em curso no país. Há uma China dos jovens, formada por pessoas com 20 e poucos anos e extremamente conectados. Esta nova geração também trará mudanças no consumo de proteínas, optando por novidades”, ressalta Alexandre Furtado da Rosa, diretor Superintendente da Agroceres PIC.
Com esta situação sanitária, que também afeta os países do leste europeu, o Brasil passa a ter uma grande janela de oportunidade para expandir suas exportações de proteínas animais. No caso específico da carne suína, o país pode finalmente ultrapassar a barreira das 650-700 mil toneladas e atingir o patamar de um milhão de toneladas embarcadas. Internamente, projetos até então engavetados por cooperativas e indústrias há alguns anos finalmente tem saído do papel. Muitos, relacionados ao otimismo com a economia brasileira, que tende a retomar seu crescimento com o andamento das reformas. Em relação ao cenário internacional, é preciso certa cautela. “Uma aposta forte baseada unicamente no mercado externo é delicada e bem arriscada. Isso porque tem como foco um único cliente, o qual, em cinco ou sete anos, deve ter sua suinocultura reestabelecida”, comenta Furtado da Rosa. “O melhor é aproveitar esta oportunidade de mercado para investir na melhoria das instalações, em genética, nutrição e capacitação. Se preparar para o futuro, para os anos de dificuldades”.
Nesta entrevista, conheça as transformações em curso na China, assim como os impactos no mercado internacional de proteína e os principais beneficiados com toda esta crise sanitária, além de como o Brasil deve aproveitar este momento. Confira.