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União com a Perdigão é a saída mais natural à Sadia, mas com BNDES

As duas companhias admitiram que conversas foram feitas, mas divergem no fato de haver algo concreto entre as partes.

Redação (19/03/2009) – A fusão das empresas de alimentos Sadia e Perdigão voltou ao noticiário nacional nesta semana e com muito mais intensidade. Desde o anúncio da perda de R$ 760 milhões em liquidações de operações com derivativos,  anunciada em setembro do ano passado, a Sadia vem sendo alvo de rumores no mercado. As duas companhias admitiram que conversas foram feitas, mas divergem no fato de haver algo concreto entre as partes.

Especialistas consultados pela Agência Leia apostam em um anúncio em curto prazo de uma fusão ou união de operações das duas companhias e acreditam que o governo federal, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), entraria na operação – seja com dinheiro ou com a compra de ações -, em uma operação parecida com o modelo de fusão da Votorantim Papel e Celulose (VCP) e Aracruz.

O boato ganhou força quando a revista "Veja", em sua última edição, publicou uma nota dizendo que as empresas estariam retomando conversas para uma possível união. Até o meio do dia da segunda-feira, as companhias evitavam falar sobre o assunto, afirmando que não comentavam boatos de mercado.
   
Na noite de segunda-feira, porém, a Sadia enviou comunicado admitindo a "realização de entendimentos recentes com a Perdigão S.A.",dando margem à interpretação de que pode haver uma associação em breve. Já a Perdigão foi mais clara: "embora tenham se desenvolvido discussões preliminares para uma eventual associação entre esta companhia e a Sadia S.A., as partes não chegaram a qualquer entendimento sobre a matéria. Desta forma, não há, nesta data, qualquer negociação em curso."
   
Com a expectativa da união, as ações listadas na BM&FBOVESPA dispararam. Desde sexta-feira (13) até terça-feira (17), os papéis ordinários da Perdigão (PRGA3) avançaram 11,97%. Já os preferenciais da Sadia (SDIA4) subiram 12,39%, enquanto os ordinários (SDIA3) valorizaram 28,33%. Ontem, houve uma realização de lucros sobre os papéis das empresas: as ON da Perdigão (PRGA3) caíram 3,21%, a R$ 31,65, as PN da Sadia (SDIA4) recuaram 3,35%, a R$ 2,88, e as ON da Sadia cederam 5,12%, a R$ 5,37. "Acredito que até junho seja anunciada uma solução para esse assunto. Se
não for uma fusão completa, veremos, pelo menos, uma unificação operacional, de logística e distribuição", aposta o sócio-diretor da DLM Invista, Daniel Castro. Para ele, a possibilidade de um competidor internacional comprar a Sadia não ocorrerá porque é interesse do governo brasileiro manter o controle das empresas com investidores nacionais, o que aumenta as chances de o BNDES participar da operação."Para a Sadia, a operação é um pouco complexa, mas há a necessidade imediata de resolver a sua situação. Para a Perdigão, pode ser que no curto prazo seus papéis sejam pressionados, pois a empresa passará a ser dona de uma companhia endividada e com uma gestão não tão transparente quanto a dela", afirma Castro.

Caso esse interesse do governo federal se concretize, os especialistas não vêem uma restrição do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ou da Secretaria do Direito Econômico (SDE). "Elas são as maiores do setor, mas o mercado ainda é pulverizado. E a saída natural para a Sadia seria uma fusão com outro grupo, de preferência nacional", atesta o diretor da Renato da Veiga Advogados, Renato da Veiga.

Para o analista da Link Investimentos, Rafael Cintra, o Cade também não impediria a união das duas empresas pelo apelo de "salvar uma companhia
nacional". A entrada do BNDES na operação seria por meio de troca de ações e não por aporte de capital. "As alternativas para a Sadia estão cada vez mais escassas. Ela tem uma dívida de curto prazo, ao redor de R$ 1 bilhão, que está aumentando a cada dia", diz.

Cintra acha que com o episódio dos derivativos, a Sadia apresente um prejuízo líquido de R$ 2 bilhões no quarto trimestre de 2008 e cerca de R$ 2,3

bilhões em 2008. Por isso, sugere a manutenção das ações preferenciais da companhia (SDIA4) até que a questão se resolva. Para as ações ordinárias da Perdigão (PRGA3) a sugestão é de compra, já que aposta na apresentação de bons resultados pela companhia nos períodos, com lucro. Os preços-alvo estão em revisão.

Há outras informações de mercado que afirmam que as duas companhias teriam assinado, por volta de 20 de janeiro, um contrato de confidencialidade e exclusividade por 60 dias para tentarem alcançar um acordo de fusão. Perto de completar o prazo, o consenso sobre o assunto não teria acontecido por conta das famílias controladoras da Sadia, que queriam um valor que a Perdigão não estaria disposta a pagar.
 
"A família controladora da Sadia também tem de ceder mais, porque caso o BNDES entre na operação, a fatia deles seria menor ou até teriam de sair do controle acionário", destaca a analista da Brascan Corretora, Denise Messer. A Brascan prevê um lucro líquido de R$ 32 milhões para a Perdigão no quartotrimestre de 2008, com uma receita líquida de R$ 3,134 bilhões e um Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 425 milhões.
 
Já para a Sadia, no mesmo período, a Brascan projeta um prejuízo líquido deR$ 2,014 bilhões, com uma receita líquida de R$ 2,914 bilhões e um Ebitda de R$338 milhões. As recomendações e preços-alvo estão em revisão. "Nesse momento de crise é muito mais fácil realizar esse tipo de operação
para ganhos mais rápidos de sinergias e redução e otimização de custos. Todos os setores estão passando ou vão passar por uma situação parecida", afirma o analista do Terra Futuros Corretora, Daniel Negrisolo. O analista foi o único a discordar, dentre os especialistas ouvidos pela
Agência Leia, da entrada do BNDES na operação entre Sadia e Perdigão. "Acho que a chance de participação do governo nesta união é bem baixa, já que a situação da Sadia é preocupante, mas não é de desespero. A companhia tem caixa e suas operações apresentam bons resultados, O problema é a parte financeira e a gestão da empresa", declarou Negrisolo.
   
Em relatório de mercado, o BES Securities destaca que a fusão pode acontecer por conta do atual cenário, mas que mesmo assim teria de haver uma
capitalização para apoiar a operação, seja ela do BNDES ou de outro investidor. "Se considerarmos as estimativas da relação dívida líquida e Ebitda das duas companhias (4,8x para a Sadia e 2,2x para a Perdigão), a nova empresa nasceria com uma alavancagem de 3,6x, considerada alta pelo mercado", destaca a instituição.
  
Para o BES, a fusão das companhias levaria à sobreposição de marcas em vários segmentos e em participação de mercado superior a 50%, o que poderia implicar na aprovação da operação pelo Cade. "Por exemplo, a Sadia e Perdigão controlariam 60,3% do mercado de margarinas", aponta o informe do banco português.

O BES recomenda a compra das ações ordinárias da Perdigão (PRGA3) a um preço-alvo de R$ 44,50. O potencial de ganho é de 40,60%, com relação ao fechamento de ontem (R$ 31,65). Já para as ações preferenciais da Sadia (SDIA4) a sugestão é de manutenção, com um preço-alvo de R$ 5,50. O potencial de ganho é de 90,97%, ante a cotação encerrada ontem (R$ 2,88). Enquanto um comunicado mais objetivo vindo das duas empresas não for divulgado, o mercado vai continuar se abastecendo de especulações. No entanto, o que está bem claro entre os analistas é que com a fusão de Sadia e Perdigão surgiria a maior empresa brasileira do setor de aves e suínos, com lácteos (por conta de Eleva, pertencente à Perdigão). Isso traria ganhos de sinergia e criaria um diferencial do Brasil no competitivo mercado externo.
 
A nova empresa nasceria com uma receita líquida de R$ 15,256 bilhões, com 30 unidades no País (14 da Sadia e 16 da Perdigão). O guidance da Sadia para o ano de 2008, divulgado no resultado do terceiro trimestre do ano passado, previa um faturamento bruto de R$ 12 bilhões em 2008. A Sadia, até o fim de setembro, tinha obtido uma receita líquida de R$ 7,663 bilhões e a Perdigão, R$ 3,040 bilhões. A Perdigão anunciará seus resultados do quarto trimestre de 2008 e de 2008 na segunda-feira (23), após o mercado e a Sadia na sexta-feira (27) também após o mercado.