Da Redação 04/11/2002 – O valor de mercado do frigorífico Chapecó, controlado pelo grupo argentino Macri, caiu 56% no acumulado deste ano (até outubro), para R$ 340,99 milhões, de um total de R$ 784,84 milhões em dezembro de 2001, de acordo com a consultoria Global Invest.
O aumento dos preços das matérias-primas (insumos), cotados em dólar, as barreiras impostas, sobretudo pela União Européia (UE), e a superoferta de frango e suínos no mercado internacional, pesam de forma negativa no resultado da empresa, mas não são o principal fator do baixo desempenho da companhia, que tem um alto grau de endividamento, segundo informam analistas de mercado.
Crédito restrito
Com o crédito restrito no mercado, a empresa procura novo sócio estratégico para dar maior fôlego à companhia. A multinacional norte-americana Tyson Foods e fundos de investimentos foram cogitados como possíveis parceiros por Alex Fontana, presidente da empresa.
“No curto prazo, nada pode ser definido”, diz o executivo citando o pessimismo no mercado internacional. “O cenário atual não é de investimento. Os investidores não estão interessados em fechar nada de concreto no momento”, diz.
A empresa já teria informado a seus acionistas a venda de participação da companhia com objetivo de se capitalizar. Até o final deste ano a negociação estaria concluída. “Ainda não vi nenhuma dessas participações negociadas, mas de qualquer forma acredito que a Chapecó será totalmente vendida”, diz Andréia Martins Alcalde, analista da Socopa.
De acordo com a consultora, a Chapecó não publicou seus resultados desde 31 de março, data em que a empresa registrou prejuízo líquido de R$ 11 milhões. “Uma empresa que atrasa tanto seus resultados não deve ter bons números para mostrar”, diz Andréia.
No mercado, há informações de que a companhia já não está honrando os pagamentos aos seus fornecedores de matérias-primas, sobretudo ração animal. O não-pagamento estaria ocorrendo desde 2001. Fábricas da empresa no Sul do País deixaram de funcionar por conta da falta de insumos, segundo uma fonte.
A empresa não comenta o assunto. Segundo uma fonte de mercado, “todos batem na porta da Chapecó, mas nenhum negócio é concretizado por conta do alto endividamento da empresa”.
Analistas afirmam que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) poderia ajudar a Chapecó na captação de crédito no mercado. O BNDES detém 29,65% de participação acionária do frigorífico.
Segundo a fonte de uma instituição financeira, se realmente a Tyson Foods entrar no Brasil – a empresa desde 2000 visita frigoríficos brasileiros -, dificilmente compraria uma empresa com alto grau de endividamento. Maior processadora de carne mundial de carne, a companhia norte-americana ganhou mais força com a aquisição da IBP, processadora de aves e suínos. Procurado pela reportagem, Ed Nicholson, diretor de comunicação da Tyson Foods, informou que a empresa não comenta rumores de mercado.
Pela atual composição acionária da Chapecó, o empresário Francisco Macri detém diretamente 16,3% da empresa, além dos 49% por meio da empresa Alimbras S.A.. O restante está com o BNDES (29,65%) e outros acionistas minoritários.
Reestruturação
Fundada em 1952, a empresa tem cinco fábricas no País, das quais três são abatedouros de aves, em Xaxim (SC), Cascavel (PR) e Amparo (SP), e outras duas de suínos, em Chapecó (SC) e Santa Rosa (RS). Em 1999, a empresa passou por uma reestruturação, com a transferência do controle acionário para o grupo Macri.
Ao mesmo tempo que se encontra em uma situação delicada, a agroindústria ainda pode atrair investidores, diz um analista. Segundo ele, o Brasil tem os menores custos do mundo, o que pode atrair estrangeiro. “Se for negociada, é muito provável que o sócio da empresa seja uma empresa. Os riscos são grandes para que fundos de investimentos se arrisquem.”