Um dos maiores produtores de proteína animal do País, o Paraná produziu 4,87 milhões de toneladas de carne de frango, porco e boi nos três primeiros trimestres de 2022. A maior proporção é no segmento avícola, com quase 3,8 milhões de toneladas de carne de frango processadas entre janeiro e setembro, 4,3% a mais que no mesmo período do ano passado.
Nos últimos anos as cooperativas foram as que mais investiram na produção no estado. Para Alfredo Lang, presidente da C. Vale, como elas são originadoras de soja e milho, têm a vantagem de produzir carne de frango de maneira bastante competitiva. “Eu destacaria também a preocupação das cooperativas em fazer com que o produtor melhore seus resultados para tornar a atividade mais rentável e que ele siga investindo no segmento. E um terceiro ponto é a preocupação com a qualidade do produto que chega ao consumidor”.
Lang atribui o protagonismo da cooperativa a agroindustrialização e a ampliação da área de atuação. “Começamos a agregação de valor à produção primária, em 1997, pelo segmento frango, depois mandioca e mais tarde o peixe. Também atuamos na produção de suínos e de leite. A agroindustrialização nos permitiu não só incrementar as receitas, mas reduzir nossa dependência do clima, que nos deixava muito expostos. Além disso, o produto industrial deixa uma margem de lucro maior que a venda de grãos”, afirmou
Em entrevista exclusiva para a Revista Avicultura Industrial, Lang fala dos fatores que levaram a C. Vale a ser uma das maiores empresas de agronegócio do país e quais as perspectivas para o futuro. Confira:
Avicultura Industrial – O Paraná ocupa hoje a posição de líder em produção e exportação avícola. Que fatores são determinantes para o Estado tem atingido tamanha eficiência na avicultura, e no agro de uma maneira geral?
Alfredo Lang – Basicamente são dois fatores: vocação para a diversificação e abundância de milho e soja. Quando você tem matéria-prima em grande quantidade para produzir ração e transformá-la em carne, você tem a vantagem de produzir com um custo mais baixo que outras regiões. Combinando esse fator com a vocação do produtor do Paraná para a diversificação de atividades, temos o estado liderando a produção e a exportação de carne de frango do Brasil.
AI – O senhor considera que este sucesso com a avicultura se deve em grande parte as cooperativas?
Alfredo Lang – Se você analisar os últimos anos, as cooperativas foram as que mais construíram frigoríficos. Como elas são originadoras de soja e milho, têm a vantagem de produzir carne de frango de maneira bastante competitiva. Eu destacaria também a preocupação das cooperativas em fazer com que o produtor melhore seus resultados para tornar a atividade mais rentável e que ele siga investindo no segmento. E um terceiro ponto é a preocupação com a qualidade do produto que chega ao consumidor.
AI – Logística se transformou em algo fundamental para a competitividade dentro de um setor econômico. O Paraná tem vários projetos ligados à infraestrutura logística. Como isso irá facilitar o escoamento e distribuição de sua produção?
Alfredo Lang – Logística é um componente importantíssimo dos custos. Precisamos realizar melhorias nas ferrovias para reduzir esse custo e, nesse aspecto, é importantíssimo viabilizarmos investimentos na Ferroeste para ampliarmos o transporte da carne de frango, principalmente do Oeste, onde está a maior concentração de frigoríficos, até o Porto de Paranaguá. O Brasil se tornaria ainda mais competitivo em relação aos concorrentes no mercado internacional.
AI – Qual o papel da inovação tecnológica para que atividades como a avicultura agreguem novos ganhos de eficiência e econômicos?
Alfredo Lang A inovação é fundamental para um segmento ser competitivo. Quando a C.Vale decidiu atuar na avicultura, nós fomos conhecer as melhores tecnologias do mundo para esse segmento. Adotamos a climatização dos aviários para a produção comercial de frangos e conseguimos indicadores de desempenho bem melhores que no sistema convencional. Isso nos deu vantagem e permitiu que ganhássemos espaço num mercado disputado por gigantes. Depois, essa tecnologia foi adotada por todas as empresas do setor. Você precisa sempre estar buscando esses diferenciais, fazendo a sintonia fina para melhorar seus índices de desempenho.
AI – A C.Vale está entre as maiores empresas de agronegócio do país, atuando em vários segmentos agrícolas e pecuários. Dentro dessa trajetória de mais de 50 anos, quais as estratégias adotadas que impulsionaram a cooperativa à posição que ela ocupa hoje?
Alfredo Lang – Agroindustrialização e ampliação da área de atuação. Começamos a agregação de valor à produção primária, em 1997, pelo segmento frango, depois mandioca e mais tarde o peixe. Também atuamos na produção de suínos e de leite. A agroindustrialização nos permitiu não só incrementar as receitas, mas reduzir nossa dependência do clima, que nos deixava muito expostos. Além disso, o produto industrial deixa uma margem de lucro maior que a venda de grãos. O outro ponto foi a busca por novas áreas de atuação. Ampliamos nossa área de abrangência e agora atuamos em cinco estados e no Paraguai. Isso nos permite minimizar danos provocados pelo clima. Quando um estado sofre danos pelo clima, outro pode compensar. Com isso, nossas receitas ficam mais estáveis, podemos planejar melhor os investimentos.
AI – Como a cooperativa tem trabalhado seu plano estratégico futuro em termos de mercado e produtos? A C.Vale pretende expandir sua atuação no mercado interno, trabalhar com produtos de maior valor agregado?
Alfredo Lang – Na verdade, já estamos fazendo isso oferecendo alimentos prontos para o consumo. É uma tendência que se fortalece a cada ano porque homens e mulheres trabalham fora e não dispõem de muito tempo para preparar as refeições.
Outro caminho que estamos seguindo desde quando começamos nosso processo de agroindustrialização é fornecer alimentos de alta qualidade. Isso precisa ser constante, qualidade constante e não eventual. Você fideliza seus clientes com essa estratégia. E eles pagam mais por isso. O consumidor está disposto a pagar mais por um produto que ele sabe que é de alta qualidade.
AI – A C.Vale possui um direcionamento de suas ações estratégicas chamado Plano de Modernização. Em que consiste esse plano?
Alfredo Lang – Nosso plano é industrializar cada vez mais a produção dos associados, é agregar valor. Agora, por exemplo, estamos investindo em torno de R$ 1 bilhão em uma esmagadora de soja. Num primeiro momento a indústria vai produzir farelo de soja para ser usado na fabricação de rações. Numa segunda etapa, vamos agregar mais valor transformando a soja em margarina, óleo e maionese.
AI – As cooperativas agropecuárias passarão a ter uma posição cada vez mais estratégica dentro do mercado brasileiro de carnes, ocupando a liderança tanto no mercado interno quanto nas exportações?
Alfredo Lang – Creio que a preocupação maior deva ser a busca por negócios rentáveis, que garantam a sustentabilidade das operações. Claro que as cooperativas têm uma fatia significativa do mercado, mas precisamos levar em conta que temos milhares de produtores e funcionários ligados à avicultura a quem precisamos gerar renda. Para isso, devemos buscar a rentabilidade mais do que uma eventual posição de liderança.
AI – A C.Vale é uma das filiadas da Coopercentral Frimesa, que inaugurou um dos maiores frigoríficos de suínos do País. Como esse investimento vai impactar o setor de proteína animal?
Alfredo Lang – Será mais uma fonte de renda para muitos produtores rurais e para milhares de trabalhadores. Vai aumentar a oferta de carne suína e precisamos melhorar o consumo no mercado interno para absorver essa produção extra. Ao mesmo tempo, precisaremos do empenho do governo federal para a abertura de novos mercados no exterior. Temos boas condições de sanidade na suinocultura e devemos tirar proveito disso.
Outro impacto que o frigorífico vai ter é sobre o mercado de trabalho e infraestrutura. Precisamos trabalhar em sintonia com o poder público para qualificar a mão-de-obra, para garantir moradia, escola e postos de saúde para todo esse pessoal.
AI – A C-Vale é uma das cooperativas mais premiadas no Prêmio Quem é Quem: Maiores e Melhores Cooperativas Brasileiras de Aves e Suínos. A que o senhor atribui esse resultado e quais as expectativas para a premiação de 2023?
Alfredo Lang – Creio que dois fatores tenham contribuído para isso. Quando você abate 600 mil frangos/dia significa que você tem uma participação razoável no mercado e tem alguma visibilidade. O outro ponto que pode ter contribuído é a qualidade da carne que fornecemos. O consumidor valoriza um produto quando percebe a qualidade que ele apresenta. Isso nos deixa esperançosos de alcançar mais uma premiação este ano.
AI – Como o senhor projeto o ano de 2023 para o agronegócio e o Brasil em geral?
Alfredo Lang – Esperamos que o clima permita safras melhores em 2023 e que o governo federal traga os juros básicos da economia para patamares bem inferiores aos atuais já que a inflação está bem mais comportada. Com melhor desempenho das lavouras e com custos menores via redução dos juros, o produtor tem mais estímulo para investir seja em maquinários, seja na diversificação de atividades.