Quando falamos de sanidade, a maior preocupação é de se manter o status sanitário do plantel brasileiro, hoje livre das principais doenças que impõem restrições de mercado. Para essa finalidade, os processos de biosseguridade e manejo devem estar bem definidos e padronizados dentro de cada granja, com equipes treinadas e objetivos claros de prevenção e correção de problemas.
Como parte desses protocolos, a realização do vazio sanitário é um dos pilares mais importantes na manutenção de uma baixa pressão de infecção ambiente, e muitas vezes acaba sendo feito de forma equivocada. Em geral, os processos de limpeza, desinfecção e vazio sanitário são bem difundidos em toda a atividade suinícola. Todos os colaboradores de uma granja (gerente, funcionários, lavador, etc.) tipicamente sabem do que se trata, trabalham com isso rotineiramente, e ainda assim precisam lidar com surtos de doenças e desafios sanitários. Por quê, será?
Todo desafio sanitário geralmente ocorre ou por negligência, ou por falha em algum ponto do processo de biosseguridade. Isso abre portas para que a pressão de infecção vá aumentando ao longo do tempo de alojamento, e desencadeie enfermidades como diarréias, epidermites, entre outras que levam muito tempo e dinheiro para serem controladas.
Para ajudar a difundir as informações corretas sobre esse tema, pretendo aqui desmistificar algumas crenças sobre limpeza, desinfecção, e vazio sanitário na produção de suínos.
Detergente…. é necessário?
O uso de detergente na limpeza das baias tem ganhado visibilidade na suinocultura, mas ainda existem granjas que resistem à utilização desse agente, mantendo a boa e velha lavação com água quente ou apenas com enxágue seguido do uso de desinfetante.
A presença de matéria orgânica logo após a saída dos animais, como fezes (normais ou diarreicas), restos de ração, e contaminações em geral, levam à formação de biofilme em todas as superfícies. O biofilme faz com que muitos microrganismos patogênicos encontrem uma barreira de proteção eficaz, e consigam se manter na baia, contaminando o lote subsequente.
A lavação somente com água em alta pressão não é suficiente para quebrar essa barreira e remover os microrganismos. Utilizando-se detergentes alcalinos é possível emulsificar as gorduras e quebrar essa barreira de matéria orgânica com eficácia. O “amolecimento” da sujeira facilita a remoção dos patógenos, reduz o tempo e energia gastos para a lavação, e também o volume de água utilizado.
Um ponto importante neste processo é a escolha de um detergente que tenha alta capacidade de formação de espuma, pois a espuma penetra melhor na superfície das instalações. A espuma precisa ficar aderida às superfícies por pelo menos 30 minutos, tempo suficiente para desincrustar a matéria orgânica dos pisos e paredes. Como mencionado, os detergentes alcalinos são os produtos de escolha para essa função, pelo seu alto poder desincrustaste e maior capacidade de remoção da sujeira.
Dosagem do desinfetante… como deve ser feita? Quem acompanha?
Geralmente, o veterinário sanitarista, gerente da granja ou proprietário primam pela escolha de desinfetantes com amplo espectro de ação, alto poder residual, eficiência em matéria orgânica, e custo razoável. No entanto, a aplicação prática desses produtos, na maioria das vezes, fica a cargo do funcionário que faz a lavação/desinfecção, e muitas vezes a informação sobre dosagem e aplicação não chega até ele. Ainda assim, mesmo quando a informação chega, ao executar o trabalho esse funcionário(a) acaba não sendo acompanhado(a) pelos técnicos responsáveis, e o risco de subdose ou superdose de produtos é aumentado. Esse controle sempre deve ser realizado por profissionais técnicos, ou por equipamentos que ofereçam regulagem automática, de forma que o processo possa ser acompanhado e padronizado.
A experiência diária nos mostra que muitas vezes os desinfetantes são utilizados em concentração superior à indicada, para combater desafios pontuais como diarreia, por exemplo). Dependendo do tipo de desinfetante, isso pode facilitar o desenvolvimento de resistência dos micro-organismos ao princípio ativo utilizado. O acompanhamento da dosagem de desinfetante e também da quantidade de solução aplicada por sala (ml/m2) é primordial para garantir um processo eficaz e consistente, lote após lote.
Vazio sanitário, o que enfrentamos hoje?
Após garantir o correto processo de lavação com detergente, e a correta aplicação de desinfetante nas baias, sabemos que o período de vazio sanitário é necessário para a inativação de alguns patógenos e quebra do ciclo de alguns parasitas e pragas. A ausência de quaisquer pessoas ou animais nas instalações é fundamental na manutenção da sanidade do plantel, reduzindo a pressão de infecção do ambiente.
Apesar disso, muitas granjas não conseguem implementar um protocolo de vazio sanitário ideal por diversos motivos:
- Falta de estrutura para atender a capacidade instalada.
Este é um fator muito comum na produção, pois muitas das granjas foram projetadas para alojar um determinado número de animais, e após um incremento de produtividade e/ou aumento do plantel foram ampliadas sem um dimensionamento apropriado para comportar os novos tamanhos de lotes.
- Desuniformidade nos grupos de matrizes.
Os grupos de matrizes devem ser distribuídos com o máximo de uniformidade possível, em termos de animais e coberturas por semana. Quando não fazemos esse controle, pode haver uma superlotação de fêmeas em período de parto, e por consequência uma desordem em relação ao planejamento de ocupação das baias de maternidade e creche.
- Sistema de criação em fluxo contínuo.
Neste formato de produção, a entrada e saída de animais das instalações é constante, e na maioria das vezes não se consegue fazer um adequado processo de limpeza e vazio sanitário.
Controlar a pressão de infecção ambiente para prevenir enfermidades é uma tarefa desafiadora que demanda muita capacitação, treinamento contínuo das equipes, e um rigoroso cumprimento dos protocolos por todos que transitam na propriedade. O vazio sanitário é apenas parte do trabalho que deve ser feito em biosseguridade para prevenir doenças e melhorar os resultados da granja.