Da Redação 20/12/2005 – Gritos, socos na mesa, tensão, ameaças, divisões, reuniões secretas e muita troca de acusações. Foi assim que os principais ministros dos países mais importantes passaram as últimas 12 horas das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Hong Kong antes da conclusão do acordo para o fim dos subsídios de exportação de produtos agrícolas.
Até o G-20 (grupo criado pelo Brasil, pela China e pela Índia) esteve à beira de um racha. Com o “núcleo duro” da OMC em crise, negociadores apontam que o clima da reunião foi um dos piores já vistos. O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, já se questiona como fazer para que os ministros voltem a se falar em 2006 e completem a rodada. Para o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, “a Rodada Doha tem energia para durar apenas mais um ano”.
O acordo desta semana começou a ser definido às 22h30min de sábado numa reunião entre os 26 principais ministros que terminou apenas às 9h de ontem. Foi a partir do debate da reunião que Lamy produziu o último rascunho da declaração.
Um dos pontos centrais da reunião foi o debate sobre o corte de subsídios. Brasil e EUA, apoiados por Lamy, queriam o fim do mecanismo em 2010, mesma data acordado por todo o G-20. Para os europeus, a única possibilidade seria 2013. Depois de muito debate, China e Índia, parceiros do Brasil no G-20, indicaram que aceitariam a data dos europeus. O anúncio foi seguido por outros países em desenvolvimento, deixando o Brasil isolado.
Nesse momento, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, deixou a sala de negociações e retirou toda a delegação brasileira da reunião. O representante de Comércio da Casa Branca, Rob Portman, abandonou o debate para convencer Amorim a voltar, o que acabou ocorrendo.
Amorim, então, sugeriu que a data de 2013 fosse mantida para o fim dos subsídios, mas exigiu que os europeus realizassem um corte substancial em 2010. Washington saiu em defesa da proposta. Portman lembrou que em vários momentos da noite foi obrigado a consultar a Casa Branca para buscar instruções. Pouco a pouco, vários países emergentes aderiram à idéia.
Lamy indicou ao comissário de Comércio da UE que ele deveria aceitar o acordo. A reação de Mandelson, porém, foi a de atacar Lamy, ex-comissário de Comércio da própria UE:
Sou o responsável pela política comercial européia.
O comissário europeu passou a gritar contra os demais países:
Vocês querem que uma minoria dentro da UE impeça um acordo? questionava aos berros Mandelson. Isso só pode ser um manobra e conspiração dos EUA, Brasil e de Lamy dizia, apontando os dedos aos ministros e a Lamy.
Sob os berros de Mandelson, que se levantou, dava socos na mesa e ameaçava retirar suas propostas, Lamy optou por encerrar a reunião.