Redação (12/11/2008)- Falta de crédito, aumento de custos e incertezas dos agricultores com relação ao comportamento do mercado em meio à crise internacional provocaram um fato raro: o primeiro prognóstico da próxima safra elaborado pelo IBGE aponta para uma queda em relação à safra anterior. Pesquisadores do instituto não se lembram de quando isso ocorreu pela última vez.
Se for confirmado esse prognóstico – que é reforçado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no seu estudo Acompanhamento da safra brasileira -, será a primeira redução da safra desde 2005, quando a produção agrícola, sobretudo na Região Sul, foi severamente prejudicada por fatores climáticos. Nos dois anos seguintes, a produção foi recorde.
Por causa de diferenças metodológicas, há variações nas duas pesquisas: a do IBGE prevê queda de 3,3% da produção, que deve alcançar 140,8 milhões de toneladas; a Conab prevê que a queda pode variar de 2,9% a 1,4%, ou seja, deve ficar entre 139,7 milhões e 141,8 milhões de toneladas – mas tanto a previsão do IBGE como a da Conab anunciam um ano pior para o campo.
Nos últimos meses, os agricultores se queixavam da alta nos preços dos insumos, num momento em que os preços internacionais dos principais produtos estavam caindo. Mesmo agora, alguns produtores consideram que os preços dos insumos continuam num nível muito alto, “dos tempos de euforia”, como comparou o coordenador de agropecuária do IBGE, Flavio Bolliger, enquanto as cotações das principais commodities agrícolas já foram atingidas pela crise. A valorização do dólar em relação ao real, que provocou o aumento da cotação em moeda nacional, não entusiasma os agricultores, que balizam suas decisões de plantio no preço do produto na moeda americana.
A esse descompasso entre custo de produção e preço de venda se juntou uma aguda escassez de crédito. As tradings, que tradicionalmente financiam a produção, saíram do mercado. Os bancos aumentaram suas exigências – só produtores com a dívida regularizada estão recebendo empréstimos novos -, além de terem elevado os juros. Em conseqüência, os investimentos diminuíram. Por isso, é menor o uso de tecnologia no plantio da nova safra, que se estende até o fim do ano.
O efeito previsível será uma produtividade menor no campo, o que as duas pesquisas indicam. Ambas projetam um pequeno aumento na área plantada – de 1,2%, para 47,8 milhões de hectares, segundo o IBGE – e uma produção menor. Para a Conab, o rendimento da soja cairá de 2.816 quilos por hectare da safra anterior para 2.772 quilos por hectare.
Uma das mudanças mais notáveis deverá ocorrer com o cultivo do milho da 1ª safra. Em 2008, sua produção foi 10,6% maior do que a de 2007. Em 2009, deverá registrar queda de 6% em relação à de 2008. É essa cultura, segundo o IBGE, que sente o impacto mais forte da combinação de altos custos de produção e queda da cotação por excesso de oferta. A Conab assegura que não haverá risco de falta do produto, pois os estoques privados de milho somam 8 milhões de toneladas.
O plantio de produtos essenciais à mesa do brasileiro, porém, não deve ser fortemente afetado pela crise. A produção de arroz deve crescer 1,9% e a de feijão, estimulada pelos bons preços internos, deve aumentar 17,5%. O presidente da Conab, Wagner Rossi, atribui o bom desempenho dessas duas culturas às políticas de apoio ao mercado adotadas pelo governo.
Rossi informou que o governo reservará de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões para as políticas de apoio à comercialização agrícola. Esse dinheiro vai se somar aos R$ 4 bilhões incluídos no Orçamento para 2009. O objetivo é evitar que as incertezas sobre os preços desestimulem os produtores. Na reunião da última quinta-feira do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo vai comprar produtos agrícolas e fazer estoques para assegurar preços adequados aos produtores. Já está decidido, por exemplo, que o governo comprará parte da oferta excedente de leite e intensificará as compras de milho.