Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Conjuntura

A crise do (produtor de) milho

Cultura de milho é economicamente inviável em quase todo País. Custos de produção do cereal estão superiores ao seu preço de venda na maioria das regiões produtoras. Situação pode comprometer abastecimento do grão em médio prazo.

A cultura de milho é economicamente inviável nas principais regiões produtoras do País, segundo levantamento feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós (Esalq) – ambos ligados à Universidade de São Paulo (USP) – e a Universidade Federal de Lavras (Ufla). Esta é a conclusão de um índice de custos e preços que, foi divulgado pela primeira vez ontem pela CNA e passará a ser publicado mensalmente. De acordo com o levantamento, o custo total (levando-se em conta insumos e depreciações, mas não os gastos com capital) para a produção de uma saca de 60 quilos de milho na região de Rio Verde (GO) é de R$ 18,68, enquanto o preço médio da mesma saca é de R$ 13,84, o que significa uma diferença negativa de R$ 4,84.

No caso de Unaí (MG), os custos somam R$ 19,42 e a comercialização é de R$ 16,80 (-R$ 2,62). Para Sorriso (MT), o estudo aponta uma defasagem de R$ 11,13 entre os custos (R$ 17,13) e o preço médio (R$ 6,00) e, para Londrina (PR), uma perda de R$ 5,07, considerando-se custos de R$ 19,63 e comercialização a R$ 14,56. Também no Paraná, a cultura foi considerada inadequada na região de Campo Mourão, já que a diferença entre o custo (R$ 18,36) e o preço médio (R$ 14,56) ficou negativa em R$ 3,80. Em Passo Fundo (RS), o prejuízo seria de R$ 4,50, levando-se em conta custos de R$ 21,66 e preço médio de R$ 17,16. As regiões escolhidas para o levantamento levam em conta, de acordo com a CNA, municípios com mais peso na formação de preço ou os maiores produtores. “Por todo esse quadro percebemos o motivo que levou os produtores a migrarem para a cultura de soja”, considerou a economista da CNA, Rosemeire Santos. A expectativa da Conab é a de que a safra 2009/2010 de soja seja recorde em 66,7 milhões de toneladas. Rosemeire salientou que, além do custo maior de produção, o milho é mais sensível às variações climáticas e registra menos liquidez no mercado em relação à oleaginosa. “Isso pode significar mais endividamento para o setor. Temos que estar alertas”, sugeriu a economista.

De acordo com a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), a entidade buscou parcerias para que o dado fosse considerado imparcial pela sociedade. Ela enfatizou que todos os números, metodologia e contatos estarão à disposição dos interessados que desejarem realizar auditoria no levantamento. Além de servir como um norte para o produtor, a intenção da CNA ao compilar esses dados é a de tornar o setor mais propício a obter financiamentos em bancos e a de embasar o governo na confecção de políticas públicas. “Esse chororô vai ser contínuo, pois a margem (de lucro) é mínima. Quando sobe a arroba do boi, não se vê quantos anos de perda houve, que não há recuperação. É triste, é terrível a situação”, argumentou a senadora.

A presidente da CNA disse como exemplo que o Ministério da Fazenda possui muitos setores para acompanhar e que não pode se ater apenas ao segmento agropecuário. “Agora vão ter esse acompanhamento. Será de uma utilidade nacional”, garantiu. Ela também enfatizou que o dado será útil quando produtores não conseguirem honrar suas dívidas com o setor financeiro. “Alguns nos chamam de caloteiros, pensam que não queremos pagar contas, mas queremos mostrar à sociedade que temos transparência”, defendeu. “Que não seja uma surpresa o não-pagamento aos bancos”, continuou.

Outro objetivo dos indicadores é o de antecipar a percepção de períodos de crise. Kátia Abreu disse que os preços dos produtos estão sempre disponíveis à sociedade, mas que o custo de produção é desconhecido, por isso a CNA resolveu investir nessas pesquisas. “A ideia é poder anunciar alguma ocorrência de crise”, considerou.