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Economia

A economia brasileira parou de "bombar"?

Não há nada ainda definido sobre o rumo da política monetária. Mercado aguarda ata do Copom.

Nada ainda definido sobre o rumo da política monetária. O comunicado apresentado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada não se comprometeu com novas altas da Selic ou mesmo com uma parada.

No entanto, aumentou a probabilidade de que o ciclo iniciado em janeiro possa mesmo ter acabado.

A ata que sai nesta quinta-feira pode esclarecer essa dúvida. O fato é que se o Banco Central (BC) quer levar a inflação para o centro da meta em 2012, tem de fazer a economia desacelerar. E talvez seja essa a indicação mais relevante da ata. Como a autoridade monetária está vendo o crescimento nos próximos trimestres?

Os indicadores conjunturais mostram alguma desaceleração “na margem”, para usar um temo da academia.

Mas se ampliarmos um pouco o horizonte, se avaliarmos essa questão de uma perspectiva conjuntural?

O diretor-gerente do Nomura Securities e chefe de pesquisas para a América Latina, Tony Volpon, fez tal exercício e diz ter a percepção de que um ciclo de crescimento está se encerrando.

Segundo o especialista, desde 2005 assistimos a um processo turbinado de alta de commodities, abundantes fluxos de capital e firme crescimento do crédito.

A China tem grande participação nisso, já que sua enorme demanda por commodities resultou em grandes excedentes de capital por aqui, o que gera uma série de efeitos sobre renda, investimentos, câmbio e mesmo ganhos na bolsa de valores.

Mesmo assumindo que a China vai bem nos próximos cinco anos, Volpon não acredita que Brasil vá se beneficiar muito disso, pois dois poderosos condicionantes da demanda domésticas estão prestes a sair de cena.

Segundo o especialista, as limitações de produtividade da economia, que impedem maior crescimento do emprego e da renda, aliadas aos limites naturais do mercado de crédito, reflexo de uma altíssima taxa de juros incidindo sobre um estoque crescente, vão atacar a robusta demanda local.

Olhando com mais atenção a questão do crédito, o que se percebe é que o mercado brasileiro seria “auto limitado”. As taxas de empréstimos são tão elevadas que criam uma barreira para uma expansão ainda maior do estoque de crédito.

Isso não é muito visível ainda, segundo o especialista, pois o estoque de crédito ainda não teria atingido tal patamar.

É difícil determinar que linha limítrofe é essa, mas consumidores gastando cerca de 30% da renda com financiamentos indica que esse ponto crítico não está longe de ser atingido.

Outra questão que sempre deve ser considerada quando se fala em crédito no Brasil é o dinheiro subsidiado, seja via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou outros programas especiais.

Esse dinheiro “mais barato”, que privilegia empresas e parte dos consumidores, passa de 30% do estoque total e “atrasa” qualquer retração eventual do crédito conforme o estoque e as taxas sobem.

Na avaliação de Volpon, mesmo que a China continue ajudando o Brasil, o atual modelo de crescimento está fadado a encontrar um limite por meio de uma redução endógena na formação de crédito. “Comparar os dados de crédito do Brasil com outros países é irrelevante. Nenhum outro país do mundo tem essas taxas de juros.”

Volpon não enxerga um “crash” na economia brasileira, mas sim uma constante desaceleração no crescimento, conforme um ciclo de crédito que já dura muitos anos e começa a se exaurir.

E alguns sintomas de um período de menor crescimento começam a aparecer. Os mais evidentes são a estagnação da indústria e esta sofrível performance da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que cai 13% no ano.

“A queda da bolsa é sintomática desse movimento que ainda não foi ‘percebido’ por outros mercados, como renda fixa ou câmbio”, diz Volpon. No caso do câmbio, cabe um adendo, pois o real forte deve continuar sendo sustentado pela alta taxa de juros e demanda por commodities.

“Não vejo um crash, mas sim uma economia se esvaziando em função dessas limitações estruturais e de crédito. O crescimento vai bater na parede, e vamos descobrir que o Brasil não tem condição de crescer 4,5% sem finalmente executar as reformas colocadas de lado durante os últimos oito anos”, explica Volpon.

Ainda de acordo com o diretor do Nomura, o Brasil meio que se convenceu que o boom da China é para sempre e decidiu partir para o consumo.

O governo tem sua parcela de culpa nisso, mas no fim das contas esse também foi um consenso de toda a sociedade (gastar na bonança ao invés de fazer poupança).

“Só que a China não resolve tudo. Não rompemos com limites que vão nos aprisionar em um fenômeno bem conhecido, o “middle income trap”, em que o crescente custo da mão de obra nos retira de muitos mercados, ao mesmo tempo que não temos a educação, infraestrutura e tecnologia para competir com os desenvolvidos”, conclui.

Nesta segunda-feira, atenção à alguma reação dos juros e do dólar a entrevista que a presidente Dilma Rousseff deu na sexta-feira.

Os recados foram claros, “pouso suave” da economia e nada de intervenção no câmbio em função das incertezas que rondam tanto os Estados Unidos quanto a Europa.