A inflação ao consumidor mostra uma trajetória de alta persistente quando expurgados os efeitos da alta dos alimentos nos cinco primeiros meses do ano. Para André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), não se pode dizer que a inflação é fruto apenas das consequências do clima sobre os alimentos, uma vez que o núcleo por exclusão dos alimentos aponta alta contínua dentro do Índice de Preços ao Consumidor -Classe 1 (IPC-C1), que considera a cesta de consumo das famílias com renda entre 1 e 2,5 salários mínimos.
Para esse grupo, os preços subiram 0,45% em maio, quando excluídos os efeitos da alimentação, resultado acima do índice cheio, que foi de 0,18% no mês passado. Braz alerta para o comportamento de escalada desse núcleo por exclusão, que foi de 0,12% em março e 0,41% em abril. “A alimentação fez que o índice subisse rapidamente e recuasse rapidamente. Mas a persistência não vem de aumentos pesados, mas de aumentos pequenos, porém contínuos, ao longo do tempo”, frisou Braz. “É a questão ‘de grão em grão a galinha enche o papo'”, acrescentou.
Entre os aumentos verificados no setor de serviços, Braz chama atenção para a barbearia, que acumula em 12 meses terminados em maio alta de 7,35% para as famílias de renda mais baixa, contra 6,31% em abril e 6,15% em março. Comportamento semelhante teve o salão de beleza, com 4,95% acumulados em 12 meses em março, 5,99% em abril e 6,95% em maio.
Nos bens de consumo duráveis, Braz admite que os efeitos da demanda sobre os preços ainda não são claros. Ele observa que nos bens duráveis ainda há uma mistura por conta do fim dos estímulos de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
“Não podemos dizer que esses preços sobem devido à demanda, pois ainda está muito misturado. Mas, passados alguns meses de ajustes na tributação, vai dar para verificar essa questão”, diz Braz.
Ontem, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) informou que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a inflação na cidade de São Paulo abrandou no início de junho, subindo apenas 0,08% na primeira leitura deste mês, após marcar 0,22% na última medição de maio.
Dos sete grupos investigados, dois ficaram no terreno negativo – alimentação, com queda de 0,43%, e transporte, com decréscimo de 0,20%. No fechamento de maio, a primeira classe de despesa teve alta de 0,11% e a segunda, recuo de 0,07%