Redação (14/03/06)- O governador José Orcírio Miranda dos Santos afirmou ontem que o Mato Grosso do Sul não está totalmente livre de um novo foco de febre aftosa, mas entende que a carne bovina sul-mato-grossense deva estar liberada para o mercado externo em seis meses. A declaração do governador surge num momento em que o Estado já começa a perder mercado internacional em virtude da gripe aviária, fator que está gerando desemprego e recessão em todos os municípios. A questão é: um Estado que não conseguiu manter afastado um vírus controlável como o que provoca a febre aftosa terá condições de impedir que uma pandemia de gripe aviária se instale depois que a doença chegar ao país? Com certeza não!
De qualquer forma, um Estado tão dependente do agronegócio deveria possuir uma política de sanidade animal mais eficaz. Vale lembrar que os focos de febre aftosa surgiram num momento delicado para a pecuária. O prejuízo financeiro foi imediato e mais de 40 35 nações embargaram a carne de Mato Grosso do Sul, porém, ficou patente a falta de investimentos em sanidade animal. Se tanto o governo quanto os produtores sabiam que qualquer falha poderia acarretar prejuízos bilionários, por que não zelaram pela sanidade animal dos produtos que são importados?
Resultado: as exportações despencaram 30,38% somente em fevereiro e deixaram um déficit de US$ 83 milhões na balança comercial de Mato Grosso do Sul. Os números da Secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio são preocupantes porque apontam que o Estado possa estar caminhando para uma recessão. Um Estado produtor de alimentos como o Mato Grosso do Sul não pode fechar o mês, ainda que seja um período atípico de carnaval e poucos negócios, exportando apenas US$ 38,6 milhões contra uma importação de US$ 121,7 milhões.
Os governos federal e estadual precisam assumir a obrigação de investir mais em sanidade animal e fiscalização para impedir que o Brasil continue perdendo credibilidade no mercado internacional e tenha as portas fechadas para seus produtos. Por outro lado, os pecuaristas precisam se conscientizar das obrigações sanitárias, pois somente assim, evitarão prejuízos como os que estão sendo registrados no Estado. Fica, mais uma vez, a cobrança para que o governo invista em infra-estrutura e melhores condições de trabalho para os fiscais sanitários de Mato Grosso do Sul.
Em relação a possível chegada da gripe aviária no país, somente uma ação conjunta entre municípios, Estados e União pode impedir uma pandemia. O mundo está em alerta contra a gripe aviária e não poderia ser diferente já que o vírus H5N1 continua matando gente em toda Ásia e já se espalha pela Europa. O medo do surgimento de uma gripe nos moldes da Gripe Espanhola, que matou mais de 20 milhões de pessoas entre 1918 e 1919, está mobilizando agentes de saúde mesmo antes da confirmação que o H5N1 possa apresentar mutação entre os seres humanos.
Não existe, porém, necessidade de evitar consumo de carne de frango já que o contágio da doença só ocorre em contato com a ave infectada. Mesmo assim, a preocupação global se justifica porque quando entra no organismo humano o vírus se manifesta com violência, levando a morte em poucos dias. É pouco provável que ocorra uma epidemia em território brasileiro, mesmo porque os casos confirmados até hoje ocorreram em áreas rurais, onde moradores mantinham pequenas granjas sem a higiene necessária para criar aves. O fato é que mesmo que o risco de epidemia de gripe aviária seja remoto no país, as autoridades sanitárias do Brasil devem aproveitar a experiência da febre-aftosa – onde o governo se revelou pouco competente para debelar a doença – para elaborar um eficiente programa de prevenção, sobretudo nas áreas de fronteira, portos e aeroportos.