Redação (13/03/2009)- Abastecida com um orçamento US$ 10,3 bilhões para o atual ano fiscal, a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA, na sigla em inglês) acaba de concluir um amplo processo de reformulação e vai alterar a estratégia de atuação no Brasil.
A partir de abril, quando começa o novo ano fiscal japonês, o modelo de cooperação passará a usar a proximidade cultural e a liderança global brasileiras para ampliar acordos tripartites em agricultura e saúde com nações de língua portuguesa na África e países da América do Sul. Hoje, a cooperação nipo-brasileira está alicerçada no modelo bilateral.
"Essa é a tendência. O Brasil não só receberá cooperação técnica japonesa, mas passará a ajudar terceiros países como doador dessa cooperação", resume o coordenador de projetos de Meio Ambiente e Agricultura da JICA, Kazuaki Komazawa.
Dona do segundo maior orçamento entre os organismos de cooperação internacional, atrás do Banco Mundial, a JICA completa 50 anos de atuação no Brasil em 2009. A carteira ativa da agência japonesa no país soma quase US$ 1 bilhão.
É a maior da América do Sul e a sexta no mundo. A cooperação entre os dois países está em declínio em razão do acelerado crescimento econômico brasileiro, o que levou o governo japonês a mudar o foco da atuação para países mais pobres nas áreas de saúde, agricultura, recursos hídricos e governança. O auge da parceria ocorreu na década de 70, com o desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer) e estudos de recursos minerais.
Os projetos de cooperação incluem treinamento de brasileiros no Japão, envio de especialistas japoneses ao Brasil, doação de equipamentos e formulação de programas.
Com escritórios em 90 países e 1,6 mil funcionários, a nova JICA passou a centralizar, desde outubro, as ações de cooperação internacional do Japão. Incorporou as operações financeiras e econômicas sob gestão do Banco Japonês para Cooperação Internacional (JBIC) e parte das ações de assistência a fundo perdido ligadas ao Ministério de Negócios Estrangeiros. A nova JICA passou a privilegiar ações globais em mudanças climáticas, água, alimentos, energia, doenças infecciosas e crise econômica, além de focar a redução da pobreza, fortalecimento institucional e reconstrução de países afetados por guerras e desastres.
No Brasil, a JICA mantém uma carteira de 15 projetos de financiamento ativos. São cerca de US$ 2,5 bilhões emprestados a juros anuais baixíssimos de 0,6% a 1,7% com prazos de até 25 anos e sete de carência. A JICA negocia dois novos projetos de US$ 200 milhões no país.
O novo tripé prioritário para a agência japonesa no Brasil passou a privilegiar ações de meio ambiente (Amazônia e biocombustíveis), desenvolvimento social (infraestrutura e agricultura nas regiões Norte e Nordeste) e cooperação tripartite em agricultura e saúde na África e América Latina.
No setor agropecuário, há três projetos ativos. Uma cooperação técnica de US$ 3 milhões na região de Alexandria (RN) dá apoio a pequenos produtores de biodiesel e ração animal a partir do plantio de girassol e pesquisas com pinhão manso. Em cooperação tripartite, a JICA mantém programas de treinamento de especialistas de países amazônicos em sistemas agroflorestais ao custo de US$ 60 mil. Também treina profissionais africanos e sul-americano no cultivo e manejo de hortaliças na Embrapa Hortaliças, no Gama (DF), e ensina técnicas de plantio e conservação genética da mandioca na Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, em Cruz das Almas.