Redação (11/12/2008)- O irlandês Padraig Walshe confessava ontem estar numa situação "bastante desconfortável" e admitia que os brasileiros podiam "até dar algumas risadas". Divulgação
Padraig Walshe, que comandou campanha contra carne brasileira na UE
Como presidente da influente Associação dos Produtores Rurais da Irlanda, ele comandou na Europa a mais dura e virulenta campanha contra a carne bovina brasileira, alegando que havia problemas sanitários capazes de ameaçar a saúde humana, e conseguiu que a União Européia restringisse a entrada do produto no bloco.
Mas ontem Walshe estava na defensiva, com os casos de suínos e bovinos da Irlanda contaminados com dioxina, substância que pode causar câncer. O escândalo provocou o embargo de mais de 20 países.
Numa ação relâmpago, a agencia sanitária européia, a European Food Safety Authority, anunciou ontem que o consumo do suíno irlandês contaminado não representa risco à saúde humana. O atestado foi recebido como um "grande alívio" para os 100 mil produtores de carne irlandeses. Walshe admitiu, porém, que o estrago na reputação do produto irlandês é inevitável. A notícia que se propagou foi de que a carne suína tinha níveis de dioxina até 200 vezes maiores que os admitidos na UE, transformando a crise num problema de saúde e comercial.
Por isso, ele vai lançar rapidamente uma campanha no mercado europeu, desta vez para tentar convencer comerciantes e consumidores de que não há real perigo para quem consome o produto irlandês. "Certamente vamos enfrentar dificuldades e precisaremos ir a ao consumidor", disse.
Apesar da situação, o dirigente irlandês não perdeu a oportunidade de alfinetar o Brasil. "O caso aqui pelo menos mostrou que a Europa tem regulação e age rápido", afirmou. "E isso ilustra o quanto é importante a rotulagem de produtos de carne para dar garantias ao consumidor".
Analistas irlandeses consideram cedo para dizer até que ponto o escândalo da dioxina terá impacto sobre os consumidores, mas reconhecem um golpe sobre a imagem do setor agrícola local. Ainda mais que o setor de carne irlandesa passou por uma enorme transformação para se tornar um nicho de produto de alta qualidade.
Nos anos 90, a Irlanda exportava muita carne para o Oriente Médio e Rússia graças aos milionários subsídios dados pela UE. Com a redução das subvenções, o país perdeu esses mercados para o Brasil e se concentrou num nicho de maior preço. A campanha que fez contra o Brasil foi para aumentar sua fatia nesse mercado.
No começo do ano, Walshe estimou que, com a menor concorrência brasileira, a produção irlandesa de carne bovina poderia crescer 20% em quatro anos – cerca de 100 mil toneladas a mais – e ampliar a participação no mercado europeu. Ontem à noite a conversa era outra. "Queremos pelo menos manter o que já temos", disse. A produção de carne bovina gera 2,5 bilhões de euros por ano, sendo ? 2,2 bilhões de euros com as exportações.
Além de procurar tranquilizar consumidores, Walshe tinha que acalmar suas tropas. Centenas de suinocultores afetados pela crise da dioxina alertaram que estarão arruinados se as fábricas não forem reabertas imediatamente. Com placas dizendo "Sem Natal e sem futuro para os produtores de suínos", eles protestaram diante do Ministério da Agricultura em Dublin, onde prosseguiam as negociações sobre compensações. "A indústria está paralisada, é preciso reativá-la rapidamente", disse Padraig Walshe.