Enquanto os países não chegam a um consenso sobre as medidas para conter o aquecimento global, institutos de pesquisas e grandes companhias multinacionais aceleram os investimentos em projetos de ponta com o objetivo de atenuar os efeitos das mudanças climáticas sobre plantas agrícolas. O Brasil tornou-se uma referência mundial na área, desenvolvendo estudos importantes com sementes tolerantes à seca ou, como dizem os pesquisadores, ao estresse abiótico – causado por fatores ambientais, entre os quais escassez de água.
A Embrapa atua em três linhas de pesquisas com várias culturas. Uma delas envolve o programa de melhoramento genético de soja, que é objeto de duas parcerias com a instituição de pesquisa japonesa Jirca (Japan International Research Center for Agricultural Sciences). “O trabalho consiste, também, em gerar vários tipos de plantas a partir desse gene e medir a sua eficiência segundo parâmetros fisiológicos”, diz Alexandre Nepomuceno, pesquisador da Embrapa Soja.
O know how adquirido pela Embrapa nessa área garantiu sua inclusão em uma lista de 23 projetos selecionados em nível mundial pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) para participar de um programa de pesquisa com foco na geração de uma nova variedade comercial de grão de soja. Em agosto, a Embrapa obteve autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para fazer o primeiro plantio de soja tolerante à seca modificada geneticamente em caráter experimental.
A plantação deve ser feita entre a última semana de novembro e primeira semana do mês que vem em Londrina (PR). “Se as plantas repetirem os resultados de laboratório, avançaremos para a fase de melhoramento e poderemos aprofundar os estudos de biossegurança, para tentar obter a liberação comercial”, diz Nepomuceno. Segundo ele, fora do Brasil a tecnologia DREB vem sendo testada também nas culturas de trigo, milho, amendoim, cana de açúcar, algodão e feijão.
Outra frente de pesquisa conduzida pela Embrapa é sobre o impacto das mudanças climáticas nas principais culturas do Brasil. O manejo de solo é a terceira linha de trabalho da empresa, com destaque para o plantio direto que, diferente do convencional, preserva água no solo. Os resultados indicam que nos períodos de estiagem a lavoura com plantio direto tende a sofrer menos o impacto da seca.
A Basf, que em dez anos investiu € 1 bilhão em nível mundial em projetos de biotecnologia, tem como estratégia fornecer genes de seu banco para pesquisas com grãos conduzidas por parceiros. A empresa mantém acordos com a Embrapa, envolvendo soja, com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de Piracicaba (SP), e com a Monsanto, abrangendo as culturas de soja, milho, canola, algodão e trigo, revela Walter Dissinger, vice-presidente de proteção de cultivos da multinacional.
No projeto conduzido com a Embrapa, o foco é o desenvolvimento de semente tolerante a herbicidas. “É uma alternativa à soja transgênica que existe no mercado”, afirma Dissinger. A Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec) fará a inserção do gene em suas variedades de soja, por meio de técnicas de melhoramento genético. A proposta de liberação comercial aguarda aprovação da CTNBio. A expectativa é que esteja disponível aos produtores agrícolas do Brasil em 2011. Já o acordo com o CTC, que está em fase inicial, tem como objetivo desenvolver cana tolerante a seca e com índice de produtividade 25% superior em relação a outras variedades disponíveis no mercado, aumentando de 80 para 100 toneladas colhidas por hectare.
Atualmente, gigantes multinacionais como Bayer, Monsanto e Syngenta não desenvolvem pesquisas com sementes aqui no Brasil. A Bayer concentra seus projetos no Canadá, Austrália, Japão e Estados Unidos, abrangendo arroz, canola, algodão, trigo. A oferta comercial dessas sementes está prevista para 2015 no exterior, mas ainda não há data para disponível no Brasil.
A linha de pesquisa conduzida pela Bayer é importante porque permite o uso racional dos recursos hídricos. “Em situações de seca a planta melhorada pode utilizar água de forma mais eficiente”, esclarece André Abreu, gerente de tecnologia de BioScience da companhia.
Rodrigo Santos, diretor de estratégias e gerenciamento de produtos da Monsanto, destaca que os desafios das pesquisas realizadas com sementes é o de permitir maior produção de grãos utilizando menos recursos, como água. As pesquisas da empresa estão sendo feitas nos Estados Unidos, mas Santos diz que o potencial para aplicação da tecnologia no Brasil é grande por causa dos períodos de estiagem na safra de verão do milho que, segundo ele, corresponde a 60% do plantio nacional, e na chamada safrinha, que começa entre fevereiro e março em algumas regiões.
A Syngenta, por sua vez, faz testes com um produto químico, denominado Invisa, para proteção e melhoria de performance de sementes de arroz, algodão, milho e soja. A previsão de Gloverson Moro, diretor de pesquisa e desenvolvimento de sementes da empresa, é de que a liberação do produto para comercialização nos Estados Unidos aconteça no próximo ano.