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Mercado Externo

Agricultura em alta nos EUA

Na zona rural americana, a recuperação está a todo vapor. Preços das commodities agrícolas seguem subindo.

O preço da maioria das commodities agrícolas continua subindo, e isso tem sido a base de uma recuperação do setor rural americano mesmo enquanto a economia dos Estados Unidos como um todo está fraca.

Para muitas culturas, os preços estão subindo mesmo quando grandes colheitas estão se acumulando, uma combinação rara. A dívida rural é administrável. A renda está aumentando.

E o comércio internacional, em relação ao qual muitos americanos estão cada vez mais cautelosos, tem sido uma dádiva para o campo. O apetite e o vigor econômico da Ásia tornam a dependência do setor em relação a exportações – que alguns consideravam ser um perigo – uma vantagem.

“A economia agrícola está saindo da recessão muito mais rápido que a economia em geral”, diz Don Carson, analista sênior do Susquehanna Financial Group, de Nova York.

De uma forma geral, o Departamento de Agricultura dos EUA, conhecido como Usda, projeta que a receita líquida do campo vá subir 24% este ano, para US$ 77,1 bilhões, a quarta mais alta da história. Em setembro, pecuaristas estavam recebendo 62% mais por leitões que há um ano, e 32% mais por leite.

Os preços mais altos, provavelmente, não vão incomodar tanto os consumidores quanto na alta ocorrida em 2008, quando o índice de preços ao consumidor para alimentos saltou 5,5%. O desemprego está alto e os compradores estão frugais, o que deixa os executivos do setor cautelosos quando se trata de repassar altas de custo. O Usda estima que os preços de alimentos no varejo vão subir de 0,5% a 1,5% este ano, o que seria a menor variação desde 1992, embora alguns economistas digam que a alta será de 3% a 4% no ano que vem.

Do ponto de vista do contribuinte, as cotações mais altas das commodities resultam numa queda dos subsídios agrícolas concedidos pelo governo para cerca de US$ 12 bilhões, cerca de metade do nível em anos em que os preços estavam bem abaixo das metas estabelecidas pelo Congresso. Este ano, os produtores estão colhendo cerca de US$ 4,8 bilhões em pagamentos diretos, que não estão ligados aos preços de mercado, assim como cheques por coisas como desastres ligados às condições climáticas e programas de conservação de terras ociosas.

A melhora no campo está sendo sentida pelas indústrias. O boom está permitindo que os produtores que vinham sofrendo há muito tempo agora comprem máquinas novas. A Hurst Farm Supply, uma revenda de implementos agrícolas no Estado do Texas, afirma que as vendas estão 20% mais altas este ano.

“Eu provavelmente vou ter que rejeitar clientes”, diz Joe Hurst, gerente geral, que planeja limitar as vendas de máquinas novas para colheita de algodão, para não ficar atolado em equipamentos antigos dados como parte do pagamento.

Alguns aumentos de preços partem de níveis que tinham sido reduzidos pela crise financeira. Por exemplo, a recessão golpeou a demanda por cortes de carne mais caros e, consequentemente, o preço de gado bovino e suíno. Os produtores responderam com a redução de seus rebanhos. Essa baixa na oferta contribuiu para o aumento dos preços.

Em outras palavras, o boom reflete, em parte, as tendências cíclicas que continuamente afetam a agricultura de ambos os lados.

Elas podem derrubar o setor de novo. O aumento dos preços dos grãos poderia segurar a recuperação dos produtores de animais, ao elevar o custo da ração. Fatores imponderáveis, como clima, uma alta do dólar ou rusgas comerciais de origem política, poderiam mandar partes do cinturão agrícola de volta para a crise.

Mas algumas das forças que estão levantando a economia agrícola dos EUA hoje são poderosas, como o fortalecido apetite asiático por commodities.

As economias da Ásia estão crescendo cerca de três vezes mais rápido que a americana e a demanda delas está ajudando os produtos rurais americanos por toda a parte. O Usda estima que as exportações do setor tenham aumentado 11% no ano fiscal encerrado em 30 de setembro, para US$ 107,5 bilhões e prevê alta de 5% no novo ano fiscal.

Analistas acreditam que cerca de um quarto da produção americana de soja este ano possa acabar na China. O governo dos EUA espera que as exportações de trigo subam 35%, para US% 8,1 bilhões, em parte por causa da seca na Rússia, que tirou produtores de lá do mercado exportador.

O endividamento modesto também está ajudando. A dívida das fazendas, que chegou a 28,5% do seu patrimônio em 1985, é hoje equivalente a apenas 13% do patrimônio.

Outro fator de longo prazo é o setor de biocombustíveis, que consome em torno de um terço da colheita americana de milho – puxando os preços – e tem o suporte do governo.

A volta do algodão é uma evidência vívida de como a agricultura está conseguindo se recuperar da recessão de forma robusta.

No passado, a indústria têxtil americana era o principal cliente dos produtores de algodão do país. Mas na década de 90, as fábricas do setor migraram para países de salários mais baixos e tornaram o algodão uma das culturas dos EUA mais dependentes das exportações, sendo que hoje quase 80% é consumido fora do país.

Com o encolhimento do mercado doméstico, milhares de produtores de algodão passaram a plantar outras culturas, como milho e soja. Os intermediários no segmento de algodão foram engolidos em uma onda de consolidação.

Hoje, a preponderância de clientes estrangeiros é vista como uma vantagem. Da colheita que ainda não terminou, os EUA vão exportar 15,5 milhões de fardos de 218 quilos cada, um aumento de 29% em relação ao ano anterior, conforme estimativas do Usda. Mais de um terço vai ser mandado para fiações e fabricantes de roupas na China, que vão enviar muito da produção de volta para os EUA.

Os preços do algodão romperam a barreira de US$ 1 a libra (pouco menos de meio quilo), pela primeira vez em 15 anos. Os preços e uma colheita que, espera-se, será generosa podem aumentar o dinheiro recebido pelos produtores de algodão em 2010 para US$ 5,3 bilhões. Isso seria quase 50% mais que o ano passado e o maior salto de qualquer uma das principais commodities agrícolas, de acordo com projeções do Usda.

Brady Mimms, que começou a colher algodão no Texas semana passada, planeja trocar o trator de dez anos e uma máquina de colher algodão de cinco anos por modelos novos. “Nós temos conseguido boa produção e bons preços”, diz Mimms, que cuida de 1.600 hectares de algodão com seus filhos e seu pai.

Economistas não esperam que mais produtores de algodão que abandoram o seu cultivo tradicional para outros, como milho, corram de volta para o algodão e aumentem a oferta. Isso porque os preços de grãos estão altos, e também porque plantar algodão requer mão de obra intensiva.

O mundo continua consumindo algodão mais rápido do que agricultores podem produzir. Os EUA são o maior exportador de algodão do mundo, mas a relação da oferta americana e internacional ao consumo está chegando ao nível mais apertado desde meados da década de 90.

“Parece que este ano vai ser o mais rentável para o algodão da minha carreira”, disse Bud Holmes, vice-presidente executivo do banco PlainsCapital Bank, que financia agricultores e pecuaristas desde o fim dos anos 80