A desconexão entre as economias rurais e os mercados globais permitiram que o impacto da crise financeira mundial fosse sentido em escala muito menor nas regiões nas quais predomina a agricultura familiar. Isso não quer dizer, no entanto, que o recente abalo econômico não deixou sequelas no campo. É o que mostra o estudo Crise e Pobreza Rural na América Latina, do Centro Latino-Americano para o Desenvolvimento Rural (Rimisp), com o Instituto de Estudo Peruanos e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola. Conforme a pesquisa, que envolveu 11 países latinos, entre eles o Brasil, o aumento da pobreza nas áreas rurais é o principal reflexo da recessão. O estudo diz que, além de piorar a situação de famílias rurais que se encontram em situação de pobreza (57%) e pobreza extrema (28%), os reflexos da crise podem empurrar para essa condição as famílias classificadas como vulneráveis, com renda imediatamente acima da linha de pobreza.
A população que produz para o próprio consumo e venda do excedente será a mais afetada, diz o professor de Economia da Unicamp Antônio Márcio Buianain, um dos coordenadores do estudo. Segundo ele, essa camada da população rural será impactada pela retração do mercado de trabalho, “pois essas famílias vivem de trabalhos temporários”.
Em relação ao Brasil, ele crê que o País está em vantagem. “Diria que essa relação entre crise e pobreza rural já foi superada aqui graças a mecanismos de proteção, como programas de transferência de renda e de incentivo à agricultura familiar.” Mas ele espera uma piora para 2009/2010, que está terminando de ser plantada. “Se o câmbio continuar valorizado a próxima colheita será inviável e aí essas famílias podem sofrer consequências maiores”.