Redação (13/10/2008)- O Produto Interno Bruto (PIB) da agronegócio brasileiro crescerá entre 9% e 9,5% em 2008, conforme estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Isso representa uma redução frente às projeções feitas pela entidade antes de a crise financeira internacional ter se acentuado. "Sem a crise, o crescimento chegaria a 11% ou 12%" , disse Rosemeire Santos, técnica da CNA.
As projeções foram apresentadas ontem, quando a Confederação apresentou os resultados do PIB do agronegócio até julho, estudo realizado em conjunto com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). No acumulado dos sete primeiros meses do ano, o PIB do agronegócio aumentou 6,79%, sendo que apenas em e julho foi de 0,9%.
Para 2009, a CNA calcula que pode haver queda da produção, conforme hipótese indicada no 1 Levantamento de Safra divulgado na quarta-feira pela Companhia de Abastecimento (Conab). A Conab calcula que o volume de grãos da safra 2008/2009 pode cair até 1,2% na comparação com a colheita anterior. "Com escassez de recursos no campo, a tendência é de redução", disse Rosemeire.
Para tentar driblar a carência de crédito no setor rural, a CNA encaminhou ontem ao governo pedido de apoio financeiro. O superintendente técnico da CNA, Anaximandro Almeida, explicou que a entidade pediu o adiamento na cobrança de R$ 5 bilhões de empréstimos de investimento vincendos em 14 de outubro. O pedido é que esses valores tenham cobrança prorrogada para 30 de maio de 2009. Segundo a CNA, essa postergação daria fôlego para o plantio da nova safra, suprindo parte da dificuldade de acesso ao crédito.
A instituição solicitou também mudança na Resolução n 2682/99 do Banco Central, que estabelece critérios de classificação de risco de crédito dos tomadores de empréstimos. Segundo a Confederação, muitos produtores não têm acesso ao crédito porque renegociaram no passado e isso os classificou como tomadores de maior risco. A solução apontada é "flexibilizar" as normas da resolução, temporariamente, elevando a classificação de risco dos produtores rurais.
"Hoje, para pegar recursos é preciso ter, no mínimo, nível de risco C", diz Rosemeire. A CNA quer que os produtores sejam classificados, no mínimo, no nível C dos critérios de avaliação de crédito. A classificação de risco inclui nove níveis, do AA (melhor qualidade) até H (pior situação, representando atraso com mais de 180 dias).
Por enquanto os indicadores são positivos, apesar de a CNA ter apontado para um cenário de crise no setor rural. O crescimento do PIB da agropecuária, em no mínimo 9% este ano, é maior que o crescimento do PIB de toda a economia, estimado em 5% para 2008, conforme o mais recente Relatório de Inflação do Banco Central.
Rosemeire alerta que o resultado projetado para todo o ano é positivo porque o primeiro semestre foi "muito bom", havendo desaceleração no período posterior. Ela admite, no entanto, que o segundo semestre é sazonalmente período de redução de desempenho. É época de preparo do plantio, enquanto que o primeiro semestre é período de colheita. O desempenho isolado de julho mostra que a agricultura, sozinha, cresceu 0,94% no mês.
O segmento de insumos agropecuários cresceu 1,79% em julho, o menor nível desde fevereiro e próximo ao observado em janeiro, de 1,75%. Nos sete primeiros meses do ano, a alta dos insumos para a agricultura foi de 17,69% e de 10,17% nos insumos da pecuária. Os preços dos fertilizantes, porém, subiram 62,22% em 12 meses, em período encerrado em julho.
A CNA divulgou também dados relativos ao Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária, que indica faturamento de R$ 296,8 bilhões para 2008, crescimento de 32,83% na comparação com os R$ 223,4 bilhões de 2007. Segundo a CNA, o aumento deve-se à maior produção de grãos e aos bons preços das commodities. Queda forte dos preços agrícolas só é esperado se o crescimento mundial for menor que 3,5%.
As exportações do agronegócio, segundo dados da CNA, somam US$ 55,309 bilhões de janeiro a setembro, crescimento de 29,2% sobre igual período do ano passado. As remessas do complexo soja cresceram 71% no período, somando US$ 15,328 entre janeiro e setembro deste ano; frente US$ 8,965 bilhões em igual período de 2007. As importações atingiram US$ 8,874 bilhões no período, ou seja, houve uma aceleração de 43,8% nas despesas com compras do setor rural no exterior, que foram de US$ 6,171 bilhões em igual período do ano passado.