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Agronegócio socorre EUA na crise

Depois de sofrer com problemas climáticos do plantio à colheita, lavouras de soja e milho de Iowa vão alavancar economia do estado.

Agronegócio socorre EUA na crise

Enquanto os Estados Unidos lutam para evitar que a economia nacional mergulhe em uma recessão, o Meio-Oeste do país atravessa o período de turbulências sem grandes solavancos e prospera em meio à crise. Ancorada no campo, a região é fortalecida pela alta dos preços agropecuários e exibe índices econômicos e financeiros melhores que os nacionais, conferiu a Expedição Safra 2011/12 Gazeta do Povo em sua primeira parada no Cinturão de produção norte-americano.

Em Iowa, a safra que a imprensa local está chamando de “a mais rica da história do estado”, deve injetar cerca de US$ 33 bilhões na economia regional – 34% acima do ano passado e quase três vezes mais do que há dez anos. Desse total, US$ 20 bilhões (61%) vêm dos grãos e o restante das carnes.

“O agronegócio e as atividades relacionadas a ele movimentam perto de 25% da economia do estado. E, como o setor vai bem, isso nos dá sustentação e nossa economia está em melhor forma, inclusive em relação a situação nacional”, conta o secretário de Agricultura de Iowa, Bill Northey.

Não por acaso, Iowa é um dos estados de maior peso no agronegócio norte-americano. Tem um dos maiores rebanhos bovinos dos EUA e encabeça o ranking de produção suína e de ovos. Também é o maior produtor nacional de soja e milho, o que, por si só, já quer dizer muita coisa, considerando que anualmente saem dos campos do país ao menos 400 milhões de toneladas desses dois grãos. Iowa participa com aproximadamente 18% desse total, algo como 70 milhões de toneladas, quase uma safra inteira de soja do Brasil.

Com VBP (Valor Bruto da Produção) estimado em 6,5 bilhões para este ano, é um dos estados que mais gera riquezas no campo. No ano em que o faturamento do agronegócio norte-americano ultrapassará, pela primeira vez, a marca dos US$ 100 bilhões, Iowa terá papel fundamental neste processo. O estado gera 6% da renda agrícola do país, que segundo previsão do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) deve somar US$ 103,6 bilhões em 2011.

Em 2010, a receita norte-americana com a produção agropecuária somou R$ 79,1 bilhões e a de Iowa US$ 5,1 bilhões. O avanço estimado para este ano é de, respectivamente, 31% (+US$ 24,5 bi) e 27% (+US$ 1,4 bi).

Produção dribla o clima

Ironicamente, o salto de prosperidade nos campos norte-americanos vem em um ano considerado decepcionante para a produção de grãos. Do plantio à colheita, a safra de soja e milho dos EUA enfrentou todo tipo de desafio climático, mas conseguiu driblar os problemas.

“Acho que tudo de ruim que poderia ocorrer aconteceu neste ano. Mas, apesar de tudo isso, o resultado não está sendo ruim”, relata o secretário Northey, que também é produtor rural.

Na propriedade de 250 hectares que administra em Spirit Lake, no Noroeste de Iowa, uma das regiões mais produtivas do país, Northey tem obtido média de 3,6 mil quilos por hectare de soja. No milho, cuja colheita deve começar nas próximas semanas, espera 11,3 mil quilos por hectare. “Os resultados são surpreendentemente bons”, diz enquanto pilota uma colheitadeira.

“Se continuar tudo como está, teremos neste ano a nossa segunda melhor safra de milho e talvez a melhor safra de soja”, revela o produtor Randy Caviness. A colheita do milho, iniciada há poucos dias na propriedade que mantém com o pai, Harold e o filho, Marritt, em Greenfiel, no Nordeste de Iowa, tem revelado produtividade surpreendente de 12,6 mil quilos por hectare. “Só em 2004 tivemos resultado melhor”, comemora Harold. No ano passado, os Caviness fecharam a temporada com média de 10 mil quilos do cereal por hectare. Na soja, esperam 4 mil quilos por hectare, desempenho que, se alcançado, “vai ficar para a história”, diz.

“Meu avô nunca ganhou tanto dinheiro assim”, diz Merritt, mirando o monitor da colheitadeira que pilota pela lavoura de milho. Há três anos, o menino, hoje com quinze anos de idade, ajuda a família com os trabalhos de campo.

Sobre a declaração do neto, Harold confirma a afirmação com um sorriso largo no rosto. “Ainda lembro quando o bushel de milho [medida norte-americana equivalente a 25,4 quilos] valia US$ 0,10. E a gente achava bom. No outro dia, chegou a quase US$ 8. Tá muito bom mesmo”, diz.