A Louis Dreyfus Commodities (LDC), um dos maiores “players” de agronegócios do mundo, está prestes a aprovar um plano quinquenal que prevê investimentos de R$ 7 bilhões no Brasil de 2012 a 2016. O valor é quase 120% superior aos aportes realizados entre 2006 e 2010, e em nenhum outro ponto do mapa há tantas fichas depositadas pela múlti francesa como no país.
Tendo em vista os atuais problemas financeiros na Europa, as fragilidades americanas e os riscos de contágio em emergentes como a China, talvez fosse melhor esperar para programar novos gastos. Mas há opções no tabuleiro para atrair recursos caso seja necessário, e brecar a expansão acelerada pelo grupo na década passada poderia deixar reflexos negativos no longo prazo.
Em 2005, antes dos R$ 3,2 bilhões aplicados nos cinco anos seguintes, o faturamento da LDC e de suas controladas no Brasil foi também de R$ 3,2 bilhões. No ano passado, chegou a R$ 10,8 bilhões. Com a ajuda do “pulmão” brasileiro, a receita líquida global da Louis Dreyfus Commodities cresceu apenas um pouco menos no período e atingiu US$ 46,1 bilhões em 2010 (60% em países emergentes), quando o lucro líquido consolidado superou US$ 1 bilhão.
Entre 2006 e 2010, os investimentos totais da companhia em ativos fixos nas dezenas de mercados nos quais está presente alcançaram US$ 3,7 bilhões, o que confirma o papel preponderante do Brasil na expansão recente. Diante do próximo plano quinquenal, essa importância tende a aumentar, já que o país continuará liderando os aportes.
O Brasil ganhou mais destaque na estrutura da empresa a partir de projetos de açúcar e etanol deflagrados no início dos anos 2000 e de uma reestruturação mundial que ganhou corpo justamente em 2006. Conduzidas pelo então comandante Robert Louis-Dreyfus, que morreu em 2009, as mudanças resultaram em maior independência das subsidiárias e na criação da LDC, com uma estratégia baseada em ativos.
E não é difícil que o país amplie sua influência nos negócios da múlti francesa até 2016 em meio a novas mudanças. Kenneth Geld, CEO da LDC para a região norte da América Latina, que inclui o Brasil, e membro do conselho deliberativo da múlti, afirma que para sustentar seu expressivo crescimento o grupo poderá recorrer a alternativas que podem significar mudanças importantes.
“Temos tido um retorno de 30% dos investimentos que fizemos e gerado caixa para investir. Por isso não tem sido necessário, por exemplo, abrir o capital. Mas esse pode ser um modo para perpetuar a expansão, já que manter um crescimento forte como o dos últimos anos com capital próprio é difícil”, diz o executivo, que é brasileiro. Cuidadoso, ele garante que não há “nenhuma iniciativa” nesse sentido em andamento.
Tema de rumores na Europa, o futuro da LDC pode reservar uma abertura de capital da matriz ou de uma subsidiária – a LDC-SEV, braço sucroalcooleiro brasileiro, frequenta essa lista -, além da venda de uma participação a um fundo soberano ou uma associação com outra grande trading. “Nada disso está descartado. E não há nenhuma negociação em curso, apesar das especulações”, diz Geld. Segundo ele, as especulações ganham decibéis por ser a LDC uma das poucas grandes companhias de capital fechado do setor.
Independentemente de eventuais novas transformações, os avanços registrados no Brasil a partir da onda de investimentos deflagrada em meados da década passada justificam a renovação das apostas.
“Foi um ano de recordes”, diz o executivo sobre o desempenho da LCD no Brasil em 2011. Geld não adianta os resultados da subsidiária ou do grupo no ano, mas informa que a operação brasileira continua com impacto positivo nas vendas globais, que alcançaram US$ 30 bilhões no primeiro semestre – a expectativa é que o valor some US$ 60 bilhões até dezembro. O lucro consolidado antes de impostos foi de US$ 450 milhões no intervalo.
Na originação e comercialização de grãos e oleaginosas, sobretudo soja, o volume movimentado pela LDC no país deverá atingir 5,1 milhões de toneladas em 2011, 300 mil a mais que em 2010. As exportações desses produtos deverão alcançar 2,8 milhões de toneladas, alta de 17%, e a movimentação pela hidrovia Tietê-Paraná deverá aumentar 40%, para 860 mil toneladas.
“No Brasil, é preciso dominar a logística, e esse tem sido um grande foco do grupo nos últimos dois anos”, afirma Geld. Além do transporte hidroviário, nesse campo Geld realça que a LDC disputa, em parceria com a trading Amaggi, de Mato Grosso, a licitação de um terminal no porto de Itaqui, em São Luís (MA).
Outro recorde da múlti no Brasil está sendo quebrado na originação de algodão, que deverá superar 250 mil toneladas em 2011, para exportações, mais que o dobro do apurado em 2010. A LDC também deverá encerrar o ano como principal exportadora de arroz do país, com cerca de 700 mil toneladas.
“No algodão, o grupo é responsável por 25% do comércio global. No arroz, é o maior importador da Ásia e exporta da própria Ásia, dos EUA e, agora, do Brasil”. A LDC assumiu uma planta de algodão que era da Maeda em Itumbiara (GO) e começou a operá-la em novembro. A unidade dobra a capacidade de beneficiamento da empresa no país.
Para “fidelizar” fornecedores de matérias-primas (são 7 mil no país) e avançar na originação de produtos agrícolas, a LDC aposta na aquisição da Macrofértil, de Ponta Grossa (PR), no fim do primeiro semestre. Com ela, que marcou a efetiva entrada da múlti em adubos no Brasil, a Dreyfus pode ampliar a antecipação de insumos a agricultores em troca de colheitas futuras. “Queremos obter 10% de ‘share’ no mercado de fertilizantes até 2015”, afirma Geld.
A maior parte dos investimentos em ativos fixos realizados nos últimos anos e a ser aplicada até 2016 pelo grupo envolve, porém, culturas perenes. São cana e laranja que puxam os aportes em ativos fixos, e com a ampliação dos investimentos esses segmentos devem continuar ganhando relevância nos negócios brasileiros e globais do conglomerado.