O governo alemão decidiu retomar agora, em plena crise na zona do euro, um movimento para pressionar a negociação do acordo bilateral de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. O ministro da Economia e Tecnologia da Alemanha, Philipp Rösler, aproveitou ontem a presença da secretária da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Heloisa Menezes, em Frankfurt, para pedir negociações nesse sentido e ainda criticou as medidas protecionistas do Brasil. Heloisa disse que em setembro haverá uma reunião da comissão mista que reúne representantes dos dois países.
A defesa do livre comércio marcou o primeiro dia do 30º Encontro Econômico Brasil-Alemanha, que anualmente reúne representantes da indústria e dos governos dos dois países. “O protecionismo não fomenta a competitividade e nem a inovação”, disse Rösler em seu discurso de apresentação do encontro, em Frankfurt. O tema voltou a surgir em outros discursos do próprio ministro e de dirigentes da indústria alemã ao longo de todo o dia, mas encontrou o lado brasileiro – também formado pela iniciativa privada e governo – receoso de retomar a discussão do livre comércio num momento em que os países da União Europeia encontram dificuldades para comercializar produtos dentro do bloco.
“Não deveríamos perder mais tempo”, disse o presidente da BDI (sigla da federação das indústrias na Alemanha), Hans-Peter Keitel. O grupo usou a força de um segmento já representativo na atividade brasileira. Cerca de 1,2 mil empresas instaladas no Brasil são de origem alemã e, com cerca de 250 mil trabalhadores, elas respondem por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo dados do governo alemão.
O ministro Rösler lembrou que o acordo bilateral entre a União Europeia e os países do Cone Sul vem sendo costurado desde 1999. Heloísa Menezes destacou, por outro lado, que o agora pequeno superávit comercial com a Europa e o déficit com a própria Alemanha são o “maior exemplo de que o Brasil não é um país protecionista”.
Reforçado por governo e empresários, o lado alemão também reclamou das dificuldades nos processos de licitação no Brasil para investimentos de peso, como o caso dos aeroportos. O incômodo dos alemães com a presença argentina, tanto na concorrência dos aeroportos como em problemas nas relações comerciais do Brasil, deu um tom acalorado no debate conduzido pela jornalista do jornal “Die Welt”, Hildegard Stausberg.
A própria jornalista ironizou a presença de uma operadora argentina (Corporaración America) no consórcio que venceu o leilão do aeroporto de Brasília, entre outras intervenções na mesma linha. “Admiro a sua fé”, disse Stausberg quando o presidente do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal), Ingo Plöger afirmou que torcia para que o grupo vencedor fosse o melhor. O debate esquentou quando o lado brasileiro lembrou que muito do que já se havia avançado no acordo bilateral foi perdido por conta das restrições da Europa na área agrícola.