Redação (12/03/2009)- A crise mundial chegou à exportação do agronegócio, a principal fonte do superávit comercial brasileiro. Em janeiro e fevereiro o setor faturou US$ 7,8 bilhões com as vendas ao exterior, 14,5% menos que no primeiro bimestre do ano passado. Essa redução foi causada pela diminuição da demanda na maior parte dos mercados e pela baixa de preços dos produtos mais importantes, como soja e derivados, carnes, milho e café em grãos. O setor acumulou um superávit de US$ 6,3 bilhões, 8,7% inferior ao de um ano antes. Esse resultado foi possível porque as importações caíram muito mais e custaram 32,8% menos que em igual período de 2008. Apesar da crise, o mundo não deixará de comer e grandes exportadores de alimentos, como o Brasil, continuarão a ganhar dinheiro, diziam os otimistas até há pouco tempo. Eles acertaram apenas parcialmente.
Na maior parte do mundo, as pessoas devem ter continuado consumindo mais ou menos as mesmas quantidades de calorias, mas, em tempos de crise, a demanda de produtos mais caros, como carne bovina, tende a diminuir. Isso também afeta a procura de rações para animais. Além disso, os fundos devem ter diminuído a atuação especulativa nas bolsas de mercadorias, contribuindo também para o enfraquecimento dos preços. As cotações podem até manter-se em nível satisfatório, pelos padrões históricos, mas o impacto da mudança na receita cambial dos grandes países produtores, como o Brasil, é inevitável. Uns poucos sinais de melhora dos preços ocorreram nas bolsas, no entanto, nos últimos dias. Foram provocados, em parte, pela seca nas Grandes Planícies dos Estados Unidos, importante zona produtora de grãos. Além disso, a expectativa de estabilização do setor bancário, núcleo principal da crise financeira e econômica, deu algum ânimo aos negociadores. Se os grandes bancos americanos conseguirem aprumar-se, será mais fácil controlar a recessão e repor a economia em movimento. Mas toda essa conversa, por enquanto, não passa de conjectura.
No primeiro bimestre, o agronegócio brasileiro ganhou menos que no ano passado em quase todos os mercados de exportação, incluídos os mais industrializados e com padrões mais altos de consumo – todos afetados severamente pela recessão desde o último trimestre do ano passado.
A receita obtida com as vendas à União Europeia foi 24,3% menor que a de janeiro e fevereiro de 2008. O valor exportado para a América do Norte foi 19,9% inferior ao de um ano antes. As principais exceções foram a Ásia (excluído o Oriente Médio), com aumento de 11,2%, e alguns países da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), com 7% a mais no valor das vendas. Para a maioria dos parceiros da América Latina, incluídos os sócios do Mercosul, as vendas diminuíram. Os três sócios do bloco importaram 29% menos, em valor, que nos dois primeiros meses do ano passado. A grande exceção, na América do Sul, foi a Venezuela, com importações 24,5% maiores.
O mercado chinês, embora também abalado pela retração do comércio internacional, continuou sendo um destino seguro para as exportações brasileiras de produtos do agronegócio. Suas importações ficaram, em janeiro e fevereiro, 9% acima das de um ano antes. Também foram maiores que as do ano passado as vendas para a Coreia do Sul (31,8%), Índia (123,9%) e Malásia (71,3%).
Apesar da redução do faturamento, o agronegócio ainda sustentou o resultado positivo do comércio exterior brasileiro no primeiro bimestre. Nesse período, o Brasil acumulou um superávit comercial de US$ 1,2 bilhão, 29,9% menor que o de igual período de 2008. O saldo positivo alcançado pelo agronegócio foi bem mais que suficiente para compensar o déficit comercial acumulado nos demais setores da economia.
Há um mês, o mercado financeiro projetava para o ano um superávit comercial de US$ 14 bilhões. Há duas semanas a estimativa caiu para US$ 13 bilhões, 52,6% do resultado obtido em 2008. Se a receita comercial do agronegócio continuar em queda, até essa previsão será desmentida. O saldo positivo no comércio exterior é um dos principais fatores de segurança para o Brasil diante da crise. Convém dar mais atenção ao andamento das contas externas.