Ainda que a maior parte das projeções aponte para a ampliação da oferta de cereais e grãos no Hemisfério Norte na safra 2011/12, cujo plantio começará a ganhar força em abril, a FAO, agência das Nações Unidas para agricultura e alimentação, não descarta a possibilidade de novas altas das cotações internacionais de commodities agrícolas e pressão adicional sobre os índices inflacionários globais no curto prazo.
Em comunicado, David Hallam, diretor da divisão de comércio e mercado da FAO, diz que os atuais picos do petróleo – derivados da crise no Oriente Médio e no norte da África – ampliaram as incertezas na “já precária situação nos mercados de alimentos”. A observação veio no contexto da divulgação de um novo levantamento do índice de preços de alimentos da agência, que bateu novo recorde em fevereiro. Sustentado por variações positivas nos grupos de cereais, lácteos, óleos e gorduras vegetais e carnes, o indicador atingiu 236 pontos, 2,2% mais que em janeiro e maior nível desde sua criação, em 1990. Só o açúcar caiu, mas, mesmo assim, pouco.
Além de estar presente na análise de Hallam, a palavra “incerteza” foi também muito utilizada por Caroline Atkinson, porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), em suas próprias considerações sobre os preços dos alimentos feitas em Washington. Nessa frente, o FMI, como a FAO, teme os efeitos das altas sobretudo nas populações mais pobres. Ela ressalvou, conforme relato da agência Dow Jones Newswires, que o petróleo também tem efeitos na inflação, mas principalmente nos países desenvolvidos.
O fato é que a volatilidade perdura nos mercados de commodities agrícolas e que as cotações continuam elevadas, muito acima das médias históricas observadas até alguns anos atrás. Além das adversidades climáticas que prejudicaram as colheitas em países do Hemisfério Norte no ano passado, a demanda global segue firme, puxada por países emergentes.
O fator demanda impulsionou os preços dos principais grãos negociados pelo Brasil no exterior na quinta-feira na bolsa de Chicago, além de ter oferecido suporte às já estratosféricas cotações do algodão na bolsa de Nova York.
Em Chicago, a boa procura por milho americano, com destaque para o apetite de Japão e México, provocou alta de 2,11% nos contratos com vencimento em maio – que ocupam a segunda posição de entrega, normalmente a de maior liquidez -, que fecharam a US$ 7,3675 por bushel e passaram a acumular valorização de 90,5% em 12 meses, conforme cálculos do Valor Data.
No mercado de trigo, o peso da expectativa de uma seca desfavorável em regiões produtoras dos EUA foi maior e os contratos de segunda posição de entrega (maio) subiram 1,51%, para US$ 8,2350 por bushel. Em 12 meses, a alta é de 59,67%. Na soja, a escolha de importadores da China de um carregamento dos EUA em detrimento de outro sul-americano reanimou o mercado e a segunda posição (maio) subiu 1,27% e voltou a superar US$ 14 por bushel – fechou a US$ 14,12.
Em Nova York, o algodão disparou por conta de uma lufada otimista sobre o comportamento da economia mundial e testou novas máximas históricas. A segunda posição (maio) registrou alta de 2,54%, para US$ 2,0570 por libra-peso. Em 12 meses, o salto alcança 147,92%, conforme o Valor Data. No Brasil, o indicador Cepea/Esalq para a libra-peso da pluma com entrega em 8 dias superou R$ 4, um novo recorde.