Após a surpresa negativa com a inflação de dezembro, economistas avaliam que os preços de transportes, vestuário e habitação terão algum alívio na primeira quinzena de janeiro, o que será insuficiente, no entanto, para compensar a aceleração esperada para a parte de alimentos. A média de 20 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) subiu 0,79% no primeiro mês do ano, pouco acima da alta de 0,75% registrada em dezembro.
As estimativas para a prévia da inflação oficial, a ser divulgada hoje pelo IBGE, vão de 0,75% a 0,85%. Pela média das expectativas, o IPCA-15 acumulado em 12 meses começará 2014 perdendo fôlego, ao passar de 5,85% em dezembro para 5,75% neste mês, trajetória que, de acordo com os analistas ouvidos, deve ser revertida ainda no primeiro semestre.
No teto das projeções para o IPCA-15, a equipe econômica do Bradesco aponta que a sazonalidade ruim dos alimentos in natura e pressões na parte de carnes devem levar o grupo alimentação e bebidas a aumentar de 0,59% na medição de dezembro para 1,37% na atual. Nas estimativas do banco, os produtos in natura vão subir de 2,8% para 5% na passagem mensal, enquanto as carnes vão avançar de 0,69% para 3,3% no mesmo período.
Com estimativa de 0,79% para a prévia da inflação da abertura do ano, o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, avalia que os alimentos e bebidas terão alta de 1,1% em janeiro, patamar também superior ao IPCA fechado do mês passado, de 0,89%. Para o economista, as carnes, que aumentaram 2,33% no fechamento de dezembro, vão subir ainda mais na prévia. “As pastagens podem ter piorado além do normal com o calor”, diz.
Para os economistas do Bradesco e também para Leal, taxas acima de 1% nos alimentos devem ser observadas somente neste mês. A partir de fevereiro, a expectativa é que a as deflações de preços agrícolas capturadas pelos índices do atacado levem a um cenário mais tranquilo para a alimentação ao consumidor.
Em janeiro, outro vetor de aceleração do IPCA-15 deve partir do grupo despesas pessoais, de acordo com o Bradesco, em função do reajuste de 11% nos preços de uma marca de cigarros e, também, de repasses maiores no setor de serviços. O banco projeta que, devido a esses dois movimentos, a classe de despesas pessoais vai se acelerar de 1,18% na prévia de dezembro para 1,22%.
Mesmo com alimentos e despesas pessoais mais pressionados, Leal afirma que a prévia da inflação pode ficar um pouco abaixo do previsto, devido a possível deflação mais forte das passagens aéreas. No IPCA-15 passado, esses preços saltaram 20,15%, após já terem subido 6,56% em novembro. Para este mês, o economista do ABC espera recuo de 5% para as passagens, o que deve levar o grupo transportes a desacelerar de 1,17% para 1%.
A perda de fôlego nesse segmento da inflação, diz Leal, não será mais expressiva em janeiro, porque o reajuste de 4% da gasolina nas refinarias ainda está surtindo efeito sobre as bombas, assim como a entressafra da cana-de-açúcar, que eleva os preços do etanol. Ele prevê que a gasolina e o álcool combustível vão aumentar 3% e 4,2% no IPCA-15 deste mês, respectivamente. “O impacto da alta da gasolina será bem menor no IPCA fechado de janeiro, mas o IPCA-15 ainda capta reajustes feitos ao longo de dezembro.”
A equipe do Bradesco acrescenta que aumentos nas passagens de ônibus intermunicipais em Belo Horizonte, Porto Alegre, e no Rio impedem uma descompressão maior dos transportes, assim como a recomposição das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos. Nas contas do banco, o item automóvel novo, que recuou 0,08% no IPCA-15 de dezembro, deve ter variação positiva de 0,9% em janeiro.
Para Leal, a prévia da inflação contará com outras pequenas ajudas neste mês. O grupo vestuário, por exemplo, deve ceder de 0,78% para 0,5%, refletindo as liquidações que costumam ocorrer no início do ano, enquanto a parte de comunicação, que avançou 0,92% no IPCA-15 de dezembro devido a reajustes em telefone fixo e internet, terá variação nula agora.
Ainda entre os preços que podem ter alguma folga, a alta da parte de habitação vai diminuir de 0,59% para 0,45% nas estimativas do ABC, com a saída de impactos de reajustes de taxas de água e esgoto e energia elétrica concedidos no mês passado.