Quando os trilhos da Ferronorte atingirem Rondonópolis, no sul de Mato Grosso, a 202 km de Cuiabá, terá sido mais um passo para eliminar um dos principais gargalos à expansão agrícola do Centro-Oeste. A região fica muito longe dos portos e não tem estradas para escoar a produção.
O caminhão é o meio mais usado para levar os produtos ao navio, mas a viagem é um risco contínuo e o frete é caro. A ferrovia só agora avança na direção das grandes áreas de cultivo. A concessionária America Latina Logística (ALL) investirá R$ 1 bilhão nessa expansão ferroviária.
O montante envolve R$ 700 milhões na estrutura para permitir o crescimento operacional e outros R$ 300 milhões no Projeto Rondonópolis, que prevê a extensão da linha férrea em 260 km, ligando Alto Araguaia a Rondonópolis, com passagem por Itiquira. A construção foi iniciada em julho de 2009 e deve ser concluída para a safra de 2012.
“Trata-se de um programa inédito de extensão de malha ferroviária na área de atuação da empresa, que amplia significativamente a infraestrutura logística na fronteira agrícola do País”, diz o superintendente da ALL, Paulo Basílio.
Mato Grosso colheu nesta safra 17,4 milhões de toneladas de soja, confirmando a posição de maior produtor do grão no País. Mais da metade da produção ainda vai de caminhão, por rodovias precárias, como a BR-163, recordista em acidentes.
Este ano, a concentração da safra e a baixa capacidade dos terminais ferroviários causaram congestionamentos. O alto custo do frete consumiu um terço do valor da produção. Com a extensão da linha, estão previstos novos terminais rodoferroviários em Itiquira e Rondonópolis, com funcionamento em 2011.
Os terminais atuais, em Alto Araguaia e Alto Taquari, são considerados os maiores pontos de carregamento de grãos do País e movimentam cerca de 950 mil toneladas por mês de produtos como soja, milho e farelo. A capacidade de descarga em Alto Taquari é de 300 caminhões ao dia e em Alto Araguaia chega a 600.
Muito cara. Desde que assumiu a concessão na região, em 2006, a ALL reduziu o tempo de percurso do trem até o Porto de Santos de 240 para 96 horas. Os produtores reclamam que a opção ferroviária é muito cara. “O preço cobrado pela ALL é praticamente igual ao rodoviário e o produtor não tem vantagem”, critica o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Glauber Silveira. Segundo ele, são cobrados US$ 100 por tonelada, quando poderiam ser US$ 60.
Para o superintendente da ALL, nas regiões em que a ferrovia concorre com a rodovia, o preço do frete do caminhão também fica mais barato. Mesmo assim, o frete ferroviário é 15% menor que o rodoviário.
Nesta safra, a ALL levou 10 milhões de toneladas pelos 1.400 km do corredor Araguaia-Santos, o dobro de 2006. “Para isso, tivemos de modernizar a estrada, aumentar o número de locomotivas e vagões, com investimento de R$ 1,2 bilhão.” Segundo Basílio, a capacidade de transbordo no terminal de Alto Araguaia quase dobrou este ano, em comparação com a safra passada. “Atendíamos 350 caminhões por dia, hoje atendemos 600.”
A ALL prepara projeto para estender a ferrovia em mais 200 km até Cuiabá. Outras ferrovias devem chegar à região. A paranaense Ferroeste iniciou levantamento para construir um corredor ligando Maracaju e Dourados, em Mato Grosso do Sul, a Guaíra e Cascavel, no Paraná. Atualmente, a Ferroeste tem 248 km de trilhos ligando as regiões oeste e central do Paraná.
O Estado aposta ainda na Ferrovia Transcontinental, ligando o País de Leste a Oeste. Os trilhos vão se interligar com a Ferrovia Norte-Sul, em Goiás, cujas obras começaram no Pará e avançam para São Paulo, concentrando-se atualmente no Tocantins.
O plano de ter um grande corredor de cargas ligando o Norte ao Sul do País beneficia principalmente o Centro-Oeste, na visão do ex-governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, grande produtor de grãos.
Ele acredita que, com a duplicação e o asfaltamento da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém (PA), e as novas ferrovias, o produtor terá várias opções para escoar a produção.