A antecipação da obrigatoriedade da adição de 5% de biodiesel ao diesel (B-5) de 2013 para 2010, acontece no momento em que os preços do óleo de soja estão em aceleração e poderá resultar no incremento dos custos de produção do biocombustível. Assim, após o forte aumento nos preços do etanol, a gasolina deverá passar pelo mesmo processo e, consequentemente, chegar ao consumidor final.
Gigantes do setor, como Granol e Brasil Ecodiesel, se preparam para o desafio, mas apostam na consolidação e em lucros. As cotações do óleo de soja no mercado interno – que chegou a custar R$ 1.600 a tonelada em julho – desde então registram uma curva ascendente, alcançando patamares próximos a R$ 1950 por tonelada em outubro. Os fundamentos indicam a continuidade desse cenário nas próximas semanas, o que deve pressionar os preços pagos pelo governo nos leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP) em novembro.
“O preço atual ainda possibilita uma margem às usinas, mas os leilões acontecem no final de novembro. Se o preço do óleo de soja continuar subindo, o valor no leilão terá de subir”, diz Miguel Biegai, analista da Safras & Mercado.
Nos últimos leilões da ANP, em setembro, quando o preço médio da tonelada de óleo de soja foi de R$ 1.750 a tonelada, o biodiesel foi vendido à Petrobras por R$ 2,36 o litro. “Se preço do óleo disparar agora, sem perspectiva de cair, o governo sabe que terá de intervir, elevando os preços dos leilões”, diz Biegai, destacando o fato de que os preços têm subido em Chicago e começam a ser influenciado pelos preços do petróleo.
Para o analista, os leilões para o B-5 devem aproximar o setor da normalidade. Ainda que o B-5 amplie a demanda de biodiesel de pouco menos de 2 bilhões de litros para 2,5 bilhões de litros o volume ainda é bastante inferior à capacidade autorizada pela ANP, que é de 4,38 bilhões de litros. Isso coloca a indústria com 54% da capacidade em funcionamento (com o B4, 38% estão em operação). Além da capacidade autorizada pela ANP, já acima da necessidade do mercado, mais 19 plantas em processo de autorização e 13 aguardam a autorização para projetos de ampliação.
Na avaliação de Paula Regina Gomes Cadette Ferreira, diretora financeira da Granol, uma das maiores empresas de biodiesel do País, o B-5 tem o objetivo de viabilizar os investimentos já feitos pelo setor, no entanto, ela ressalta a necessidade das companhias em enfrentar o desafio da matéria-prima, já que as exportações brasileiras de soja crescem a cada ano. “Sem esta limitação, o B-5 permitirá menor ociosidade à Granol, que trabalhou em 2009 com 50% da sua capacidade instalada”. Segundo Ferreira, os investimentos concluídos nas atuais usinas da Granol permitem uma duplicação dos volumes produzidos em 2009. “O B-5 poderá nos proporcionar menor ociosidade porém ainda não se justificam novas plantas”, diz.
De acordo com a diretora financeira da Granol, a companhia irá fechar 2009 com um faturamento próximo ao de 2008, de R$ 1,7 bilhões, e com equivalente participação do biodiesel (de 40% do faturamento da empresa). “Com o B-5, mantidos os preços indicados para o complexo soja nas cotações atuais do mercado futuro, o faturamento de 2010 poderá ter um crescimento de 10%”, afirma. “A rentabilidade dependerá muito do patamar de preços dos leilões para permitir retenção da soja brasileira, cuja exportação, por desequilíbrios fiscais, cresce a cada ano em detrimento da indústria esmagadora nacional”, destacou Ferreira.
Os resultados da Brasil Ecodiesel, maior produtora de biodiesel do País, já apontam a recuperação da empresa. No terceiro trimestre de 2009, a companhia registrou o maior lucro líquido de sua história, R$ 5,25 milhões e receita líquida de R$ 126,4 milhões, um aumento de 142% em relação ao trimestre anterior. O aumento no volume de biodiesel faturado também é expressivo, 190%, para 55,9 milhões de litros.
Com a retomada do equilíbrio do caixa a empresa busca agora parceria na área de esmagamento. “O esmagamento de soja é uma tendência e estamos analisando parceria com esmagadores”, diz Mauro Antonio Cerchiari, diretor presidente da Brasil Ecodiesel. “A indústria de biodiesel no futuro vai ter que ter cesta de oleaginosas para ser competitiva”, afirmou Cerchiari, revelando a intenção de buscar novos projetos também na área agrícola.