Com a alta do dólar e a disparada do preço interno do milho e do soja, representantes de agricultores e de produtores de suínos e aves se movimentam para evitar perdas de ambos os lados. Em função disso, esta semana o gabinete do ministro interino da Agricultura, André Nassar, secretário de Política Agrícola, esteve movimentado.
De um lado, os produtores de carnes suína e de frango – representados principalmente pela Associação Brasileira da Proteína Animal (ABPA) – reivindicam medidas que reduzam o custo do farelo de soja e de milho, os principais ingredientes da ração animal.
De outro, os agricultores tentam evitar uma queda nos preços dos grãos caso haja intervenção do governo – via leilões dos estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por exemplo.
Além disso, nas próximas semanas, com o fim do recesso parlamentar, deputados que representam os dois lados devem também bater à porta do ministério.
Uma das reivindicações dos produtores de proteína animal é que o governo libere créditos de PIS/Cofins da agroindústria, no equivalente a R$ 10 por saca de milho adquirida.
A ideia foi apresentada esta semana pela Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), da Federação de Agricultura e Pecuária de SC (Faesc) e da Coopercentral Aurora Alimentos, também de SC.
Conforme o presidente da Ocesc e diretor da Aurora, Marcos Antônio Zordan, chegaram ao fim os estoques de farelo de soja e de milho da agroindústria, que foram formados com o preço do milho a R$ 27 por saca.
Na média, segundo ele informou, ainda há estoques formados com a saca a R$ 35, que duram por mais 15 dias. “Depois disso, os novos estoques terão de ser feitos com o cereal entre R$ 40 e R$ 45 a saca”, diz Zordan. “Além disso, os estoques mais baratos da BRF, Aurora e JBS não dão para 60 dias.”
Santa Catarina reveza com o Paraná o posto de maior produtor de proteína animal (frangos e suínos). Zordan relatou ainda que a margem de lucro líquida do segmento de proteína animal caiu 50% entre outubro do ano passado e janeiro.
A ração representa cerca de 70% do custo de produção e, com a alta do dólar e do farelo, o custo total da operação subiu 30%.
O representante da Ocesc diz que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), uma prévia da inflação oficial, já mostra alguns efeitos da alta do dólar e da ração na mesa do consumidor.
No acumulado de outubro do ano passado a janeiro de 2016, quando os estoques de ração com preço mais baixo começaram a acabar, uma série de produtos ficou mais cara. O frango inteiro subiu 12,67%; o ovo de galinha, 4,59%; a carne suína aumentou 6,07%.
Agricultores
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Brasil (Aprosoja Brasil), Almir Dalpasquale, avalia que, para os agricultores, o momento está bom para o setor de grãos, sobretudo o exportador, por causa do dólar valorizado.
Receia, porém, que, se o governo intervir nos preços principalmente do milho, via estoques, isso pode afetar a rentabilidade dos agricultores. Para Dalpasquale, “infelizmente”, quem mexe com proteína animal “terá de colocar a mão no bolso”.
Depois, contemporiza: “Nós não somos contra o setor de proteína animal, ao contrário. Ninguém quer que eles tenham prejuízo; se o governo precisar intervir, que faça”.
“É importante a cadeia produtiva conversar. Não queremos o mal do setor, é possível acomodar todo mundo”, disse.
O executivo argumentou ainda que, assim como a alta do dólar foi positiva para os produtores, vai se tornar custo neste início de ano.
Dalpasquale calculou que cerca de 45% da safra foi vendida com o dólar travado entre R$ 3,70 e R$ 4 e que, agora, os insumos terão de ser adquiridos a uma taxa de R$ 4,10.
Para ele, apesar das promessas do Ministério da Agricultura, da Fazenda e do Palácio do Planalto, os recursos do pré-custeio podem não sair novamente, como ocorreu no ano passado.
Em termos macroeconômicos, Dalpasquale lembra que, apesar dos bons preços pagos por milho e soja atualmente, a supersafra prevista pela Conab dificilmente vai se concretizar – o que pode ocasionar mais perdas para o produtor de grãos.
O dirigente relatou que há problemas nas safras do Tocantins, do Maranhão, da Bahia, de Mato Grosso e do Paraná. Ele disse ainda que o escoamento da produção não evoluiu em relação à safra passada e que a maior parte dos grãos vai para os portos de Santos (SP) e de Paranaguá (PR).
A saída pelo Norte, via BR-163, ficou prejudicada, segundo ele, depois que o governo federal não cumpriu a promessa de asfaltar e melhorar o trajeto, aumentando ainda mais os custos para o agricultor.