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Após 5 anos, Brasil tem déficit com Argentina

O saldo do comércio exterior bilateral de março mostrou um superávit de US$ 20 milhões para os vizinhos.

Redação (03/04/2009)- Pela primeira vez em cinco anos, a Argentina voltou ao azul na balança comercial com o Brasil. O saldo do comércio exterior bilateral de março mostrou um superávit de US$ 20 milhões para a Argentina, resultado de exportações de US$ 915 milhões e importações de US$ 895 milhões, segundo levantamento de dados preliminares feito pela consultoria Abeceb.com. O déficit argentino com o principal sócio do Mercosul, que em 2008 bateu o recorde, com aproximadamente US$ 4,3 bilhões no acumulado do ano, vinha caindo mês a mês desde agosto. No primeiro trimestre de 2009, o resultado ainda é negativo para a Argentina em US$ 39 milhões.

"A reversão do saldo segue em linha com a marcada tendência descendente do déficit, que se aprofundou a partir de dezembro devido a uma retração maior do lado das compras que do lado das vendas ao país vizinho", afirmam os analistas da consultoria. Em termos anuais há uma forte queda do comércio bilateral como reflexo da crise internacional. Comparado a março de 2008 houve uma queda de 10,4% nas exportações, 33% nas importações e 23% na corrente de comércio.

No entanto, a Argentina registrou uma reação das exportações para o Brasil em março, que cresceram 37,4% em comparação a fevereiro. No acumulado do primeiro trimestre de 2009, as exportações caíram 33,5% comparado ao mesmo período de 2008, totalizando US$ 2,19 bilhões. Contribuiu para a queda das exportações a redução nas vendas de combustíveis minerais, óleos, veículos terrestres e autopeças, plásticos e suas manufaturas e químicos.

As importações somaram US$ 2,232 bilhões entre janeiro e março de 2009, com queda de 43,7% comparada ao mesmo período de 2008. Entre os produtos que a Argentina passou a comprar menos do Brasil se destacam automóveis (particulares e transporte de passageiros), autopeças, telefones celulares, laminados planos de ferro e aço, bombas e compressores. Dois fatores explicam a queda das importações: a menor demanda local, devido à diminuição do nível de atividade do país e as medidas restritivas implementadas pela Argentina para ampliar o controle do fluxo de importações dos chamados "produtos sensíveis", em que a produção nacional perde em competitividade com a estrangeira.

Pelos cálculos da economista Josefina Guedes, do escritório Guedes & Pinheiro Consultoria Internacional, as últimas medidas restritivas de comércio tomadas pelo governo argentino, afetaram as exportações brasileiras de tubos de ferro e aço, linha branca e têxtil (sujeitos a valores-critério) em um total de 4,8%, laminados de ferro e aço, fios e fibras acrílicas e transformadores de energia (com processos antidumping) em 1,4%, e uma série de produtos, entre eles cutelaria, móveis, tratores e debulhadeiras submetidos a licenças não-automáticas, que afetaram 4,6% das exportações brasileiras. "O aumento das barreiras comerciais da Argentina contra os produtos brasileiros se repete toda vez que há uma crise", diz Guedes.

Esta semana, entretanto, o Brasil saiu do foco das preocupações dos empresários argentinos. Com os setores sensíveis em fase de negociação promovida pelos governos, o alvo agora é a China. Empresários de vários setores da indústria se queixaram ao Ministério da Produção pela falta de clareza no acordo, anunciado segunda-feira, de "swap" de reservas entre os bancos centrais da China e da Argentina. As empresas suspeitam que o acordo implique um compromisso de ampliar as importações de produtos chineses. O presidente do Banco Central argentino, Martin Redrado, e a Ministra da Produção, Débora Giorgi, negaram que uma redução das barreiras às importações tenha sido pedida pela China em troca do reforço das reservas.