O forte aguaceiro que assolou o Rio Grande do Sul no último mês teve impactos significativos no setor avícola, afetando diretamente o preço do frango, uma das principais proteínas na mesa dos brasileiros. A combinação de danos em aviários, unidades de processamento, frigoríficos e o aumento dos custos de produção resultou em uma diminuição na oferta do produto, refletindo diretamente nos preços ao consumidor.
Dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) revelam que, somente em maio, o preço do frango em pedaços na região metropolitana de Porto Alegre avançou 7,05%, um aumento oito vezes superior à inflação registrada na mesma região (0,87%). No âmbito nacional, o grupo de frangos em pedaços teve um incremento de 1,28%, indicando uma pressão adicional nos preços deste produto.
José Eduardo dos Santos, presidente-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), aponta que além dos danos estruturais, o setor enfrentou sérios problemas logísticos devido a bloqueios em rodovias e dificuldades no acesso a insumos essenciais para as granjas. Esses fatores conjuntos têm contribuído para a atual pressão nos preços do frango.
“Os entraves logísticos que enfrentamos diminuíram a velocidade de escoamento e o recebimento de insumos nos frigoríficos. Além disso, há dificuldades de acesso a determinadas áreas na Região Metropolitana”, ressalta Santos.
As regiões do Vale do Taquari e da Serra, importantes polos de produção avícola no Rio Grande do Sul, foram particularmente afetadas pelas enchentes recentes, o que comprometeu ainda mais a oferta do produto. Um levantamento da Organização Avícola do Rio Grande do Sul (O.A.RS) estima prejuízos de R$ 247,2 milhões apenas no setor de aves no Estado, abrangendo perdas em aves, ovos e complexos de produção.
Com estradas danificadas durante as inundações, essenciais para o escoamento e abastecimento da produção gaúcha, Santos prevê que a pressão nos preços deve persistir nos próximos meses. Ele projeta uma estabilização em cerca de três meses, dependendo da rápida reposição dos plantéis e da reconstrução das instalações danificadas.
Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), destaca que além dos problemas logísticos, o corte de benefícios fiscais em maio também influenciou os preços. No entanto, ele observa que a concorrência acirrada entre os fornecedores tem ajudado a mitigar o impacto do aumento de preços nos supermercados.
Diante dos desafios enfrentados pelo setor avícola gaúcho, economistas como Antônio da Luz, da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), concordam que a maior parte do impacto nos preços do frango se deve aos danos causados pelos eventos climáticos extremos, apesar de reconhecerem que o corte dos benefícios fiscais também teve seu efeito no cenário atual.
Fonte: O.A.RS