A balança comercial do agronegócio brasileiro continua a apresentar resultados expressivos. O saldo comercial do setor nos primeiros dez meses do ano totalizou US$ 65,3 bilhões, 22,7% maior do que o registrado no período janeiro-outubro de 2010. Na comparação entre os dois períodos, as importações cresceram mais (31,4%) do que as exportações (24,2%), mas o total exportado foi mais do que suficiente para assegurar o bom desempenho comercial do agronegócio, que tem sido o principal responsável pelos sucessivos superávits registrados pelo comércio exterior total do País.
Os dados divulgados pela Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura não deixam dúvidas quanto ao dinamismo e à eficiência produtiva e comercial desse segmento, que tem conseguido manter e, em alguns casos, ampliar mercados no exterior, apesar das turbulências que afetam o desempenho das principais economias do planeta. Há, porém, alguns aspectos no desempenho comercial recente do agronegócio que merecem atenção maior, pois, ainda que não apontem para a iminência de problemas nas exportações, mostram mudanças importantes no mercado mundial.
Em 2011, as exportações do setor até outubro alcançaram US$ 79,5 bilhões, com ganho de US$ 15,5 bilhões em relação ao resultado de igual período de 2010, de US$ 64,0 bilhões. Como apenas dois dos cinco principais grupos de produtos exportados pelo agronegócio registraram aumento do volume exportado – e de menos de 5% em ambos os casos -, o ganho se deveu basicamente à alta dos preços desses produtos nos últimos meses.
“A expansão de 24,2% nas vendas totais ocorreu, fundamentalmente, em função da elevação do preço médio de exportação, que subiu em todos os principais setores exportadores do agronegócio”, reconheceu o Ministério da Agricultura, na nota em que analisa os resultados da balança comercial do setor em outubro e nos dez primeiros meses do ano.
Agora, os preços devem cair. As cotações registraram, em fevereiro, sua maior alta dos últimos dois anos e meio, o que estimulou os produtores a ampliar a área cultivada. O resultado, como apontou há dias o secretário do Grupo Intergovernamental para Grãos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Abdolreza Abbassian, foi uma produção bem maior do que a prevista no início do ano.
Alguns efeitos do aumento da produção já são nítidos. Em outubro, o Índice de Preços de Alimentos da FAO atingiu seu ponto mais baixo dos últimos meses e, se confirmada a estimativa da organização de que a produção mundial de cereais em 2011 alcançará o recorde de 2,32 bilhões de toneladas, continuará a cair. Depois de atingir seu valor mais alto em junho, o preço do milho já caiu 20%, e ainda pode cair mais, antes de encontrar seu nível de equilíbrio. A soja está sendo negociada a um preço 19% menor do que a cotação máxima alcançada neste ano. O complexo soja lidera as exportações do agronegócio brasileiro.
Quando se examina o destino dos produtos exportados pelo setor fica evidente o enorme papel que a China já assumiu, e que continua a crescer. Quase um quinto de tudo o que o setor exporta (exatamente 18,3%, segundo o Ministério da Agricultura) vai para a China. No ano passado, as vendas para a China respondiam por 16,4% das exportações totais do agronegócio. Nos dez primeiros meses deste ano, os chineses já importaram do Brasil US$ 14,6 bilhões de produtos agroindustriais.
É essencial para a expansão do agronegócio brasileiro a conquista de fatias crescentes do imenso mercado chinês. A China é o maior importador mundial de soja e algodão e grande importador de açúcar. Por razões de política interna e pela escassez cada vez mais aguda de área para o cultivo de grãos – por causa da intensa urbanização do país e da necessidade de produção local de outros produtos vegetais para consumo interno -, a demanda chinesa por produtos importados continuará alta. E o Brasil pode atender a boa parte dessa demanda. Mas, para não se tornar inteiramente dependente do mercado chinês, precisa prestar mais atenção a outros mercados.