A quebra na produção de soja na Argentina, a firme demanda externa pela oleaginosa brasileira, a maior procura doméstica por farelo de soja e a valorização do dólar frente ao Real – que atingiu o maior patamar em três meses –, impulsionaram os preços internos do complexo soja em março. Nesse cenário, no porto de Paranaguá (PR), o valor médio da soja em março superou em mais de 6% o de fevereiro e é o maior desde setembro/16, em termos reais (IGP-DI fevereiro/18).
Mesmo com os preços em alta, parte dos produtores/vendedores esteve mais retraída, especialmente porque os valores FOB indicam patamares ainda mais atrativos nos próximos meses. Enquanto no spot os valores estavam sendo negociados na casa dos R$ 80,00/sc de 60 kg, a paridade de exportação indica R$ 83,38/sc de 60 kg para abril/18 e acima de R$ 84,00/sc de 60 kg a partir de junho/18 – calculado com base no dólar futuro negociado na B³.
A firme demanda externa, especialmente da China (pelo grão) e da Coreia do Sul (para o farelo), também deu suporte aos prêmios de exportação e, consequentemente, aos valores domésticos.
Parte das tradings precisou completar cargas de navios nos últimos dias do mês, cenário que aumentou as negociações da soja já transferida no porto de Paranaguá – modalidade pouco utilizada hoje em dia. Isso porque a China, que adquire cerca de 60% da produção global, pode aumentar ainda mais as importações do grão brasileiro. Antes mesmo das conturbações comerciais entre os Estados Unidos e a China, o Brasil enviou ao país asiático mais da metade de seu consumo, enquanto os norte-americanos enviaram apenas 1/3.
Segundo dados da Secex, em março, o volume exportado de soja foi mais que o dobro do embarcado em fevereiro, totalizando 8,8 milhões de toneladas. No entanto, embora haja expectativa de maior importação do grão brasileiro pela China, esse volume ainda é 1,8% inferior ao do mesmo período de 2017. Em relação aos derivados, o Brasil embarcou 1,3 milhão de toneladas de farelo de soja, volume 2,3% inferior ao de fevereiro, mas 14,2% maior que o de março/17. Para o óleo de soja, as exportações somaram 105,7 mil toneladas, 15,8% a menos que o mês anterior, mas 4% superiores aos do mesmo período do ano passado.
No dia 29, o prêmio de exportação de soja em Paranaguá, para embarque em abril/18, teve vendedor a US$ 1,10 dólar/bushel, enquanto vendedores ofertavam 70 centavos de dólar por bushel no início do mês. Para o farelo de soja, houve vendedor em paridade; no início do mês, os prêmios estavam em -US$ 14/tonelada curta. Quanto aos prêmios de óleo de soja, vendedores estavam em 2,6 centavos de dólar/libra peso, ante 1,8 centavo de dólar/libra peso em 1º de março.
Campo
Até o final de março, a colheita de soja estava “a todo vapor” no Brasil chegando na reta final em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Paraná. No Sudeste, algumas regiões também estavam finalizando os trabalhos de campo, enquanto o Norte e o Nordeste ainda não haviam colhido nem a metade da safra. O clima favoreceu o avanço da colheita em praticamente todo o País, e as expectativas de produtividade elevada se confirmaram.
No Rio Grande Sul, colaboradores do Cepea indicaram que o ritmo das atividades esteve lento, devido às chuvas que interromperam os trabalhos no final do mês. Alguns agricultores estimam quebra na produtividade diante das irregularidades climáticas no período crítico de desenvolvimento. Ainda assim, a safra deve ser volumosa.
A Bolsa de Cereales reduziu ainda mais as estimativas de produção na Argentina, agora a 39,5 milhões de toneladas, 31% abaixo do registrado na safra passada.
Preços
Entre as médias de fevereiro e março, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá (PR) subiu 6,3%, a R$ 79,39/saca de 60 kg – a maior média mensal desde setembro/16, em termos reais e, se considerados apenas os meses de março, esse valor é o maior desde 2014, também em termos reais. No mesmo comparativo, o Indicador CEPEA/ESALQ Paraná registrou alta de 6,1%, a R$ 73,64/sc de 60 kg em março – em termos reais é o maior valor desde dezembro/16 e, considerando-se apenas março, desde 2015. O dólar avançou apenas 1,1% no mesmo período, a R$ 3,2769.
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, no comparativo entre fevereiro e março, as cotações da oleaginosa subiram 7% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 5,4% no de lotes (negociações entre empresas).
Em relação aos derivados, de um mês para o outro, os preços do farelo de soja avançaram expressivos 8,6% na média das regiões acompanhadas pelo Cepea. Em contrapartida, para o óleo de soja na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS), houve queda de 2% no mesmo período, a R$ 2.658,87/tonelada na média de março. No entanto, se comparada à média de março do ano anterior, o aumento foi de 4,7%.