A suinocultura brasileira vive um momento turbulento. A ocorrência de eventos climáticos desfavoráveis em várias das principais regiões produtoras de grãos ao redor do mundo pressionou os preços internacionais das commodities agrícolas. O aumento dos preços dos insumos, por sua vez, elevou os custos de produção dos suinocultores, minando sua rentabilidade. A fraca demanda no mercado doméstico e as exportações abaixo do esperado colocaram o produtor no vermelho. Atualmente, o preço pago pelo suíno vivo nas granjas é inferior ao seu custo de produção. O suinocultor está pagando para produzir.
Preocupado com a crise que castiga os suinocultores, o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, reuniu-se recentemente, em Brasília (DF), com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Mendes Ribeiro Filho. Em pauta, soluções que possam minimizar os impactos da crise sobre o produtor. “O preço pago pelo suíno vivo está sendo muito inferior ao seu custo de produção. Isso corresponde a R$ 3,5 bilhões de prejuízo ao ano para o setor”, afirma Lopes.
A ABCS fez várias reivindicações ao ministro da Agricultura. Entre elas estão o aumento da disponibilidade do milho balcão para o setor, através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab); a realização de leilões direcionados de milho para os produtores de suínos e a criação da Política de Garantia de Preço Mínimo para a carne suína.
Presente na AveSui 2012, Lopes concedeu entrevista para o site de Suinocultura Industrial. Nela, o presidente da ABCS fala sobre a conversa com o ministro, revela se reivindicações da entidade estão sendo atendidas e analisa o atual momento da suinocultura nacional. Confira.
SI – O desempenho do setor suinícola brasileiro não tem sido muito bom neste ano e tem assustados os produtores. O que acontece com a suinocultura brasileira?
Marcelo Lopes – Existe uma série de variáveis. Um de nossos principais problemas é que a indústria está bastante estocada em função do baixo movimento no final do ano passado. Entramos no período de Quaresma, época em que historicamente o consumo diminui. Por outro lado, o embargo russo permanece e estamos enfrentando problemas de exportação com a Argentina, que gera outro excedente de oferta. Sem falar nos altos custos de produção. Isso tem deteriorado os preço pago pelo suíno ao produtor.
SI – Em essência, quais os fatores vêm prejudicando o desempenho do setor?
Marcelo Lopes – A oferta excessiva de carne suína no mercado interno e os altos custos de produção, devido aos preços elevados do milho e da soja.
SI – O senhor esteve reunido com o Ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, para pedir soluções para a crise do setor. Como foi o encontro?
Marcelo Lopes – Foi um encontro razoável. O ministro, por algum motivo, falou que este vai ser o ano da suinocultura no Brasil. Mas isso não é o que tem acontecido para nós produtores. Eu até acredito que seja um problema atual o que vivemos, um problema de produção. Se analisarmos a cadeia como um todo, veremos que ela está bem. Estamos exportando, os números são bons, só que a remuneração não está chegando ao produtor. Acredito, porém, que a partir dessa reunião o ministro passou a entender melhor a situação dos produtores, por que até então ele tinha a visão da indústria. Na reunião, o ele pode ver que, sob o ponto de vista do suinocultor, não vivemos o ano da suinocultura.
SI – Quais foram as reivindicações feitas pela ABCS?
Marcelo Lopes – Entregamos ao ministro um série de reivindicações. Entre as mais importantes, o fornecimento de milho balcão para todas as regiões brasileiras produtoras de suínos a 27 toneladas por CPF ao preço de R$ 21,00 a saca. Outro pedido foi a realização de leilões direcionados a suinocultores com base em seu plantel numa relação de cálculo de 4.500 kg por matriz/ano. Solicitamos também contrato de opções de compra de milho para os produtores e linhas de financiamento para custeio com carência de 1 ano e pagamento em três anos, com juros de 3,5% ao ano. Também conversamos sobre a implantação da PGPM [Política de Garantia de Preço Mínimo], que é um mecanismos fundamental para todos nós. Cobramos ainda o subsídio emergencial por parte do governo federal para os próximos três meses a R$ 0,80 o quilo do suíno. E que, pelo prazo de 12 meses, o governo não conceda qualquer tipo de financiamento para novos investimentos que visem aumento de plantel. E, por fim, desoneração da folha de pagamento do produtor.
SI – Os pedidos estão sendo atendidos?
Marcelo Lopes – Até então o ministério não vem atendendo nossos pedidos. Não como gostaríamos. O que temos procurado mostrar para o ministério da Agricultura é que o que está sendo feito não está atendendo a grande maioria dos produtores brasileiros. Principalmente os da região Sul do Brasil, que são os maiores sofredores. As portarias do Ministério da Agricultura para a venda de milho, por exemplo, não vêm sendo cumpridas. Muitas vezes, não são interpretadas adequadamente pelos superintendentes da forma como são editadas. Isso vem trazendo muitos prejuízos aos suinocultores. Agora, é importante que se diga, que existe uma boa vontade por parte da Conab [Companhia Brasileira de Abastecimento] e nós estivemos lá nesta semana [na Secretaria de Política Agrícola do Ministério de Agricultura, em Brasília (DF)], para que nossas reivindicações sejam atendidas. A própria SPA [Secretaria de Política Agrícola], também entendeu nossa posição e acreditamos que nas próximas semanas as coisas devem andar melhor.
SI – O ministro Mendes Ribeiro Filho se comprometeu a criar uma PGPM para a carne suína, uma antiga reivindicação do setor. O senhor acha isso realmente possível?
Marcelo Lopes – Acredito que sim. É claro que é complexo, porque envolve vários custos, mas precisamos trabalhar muito forte porque esse é um instrumento importante para a suinocultura. Não adianta apenas trabalharmos de formas emergenciais, precisamos de um plano que possa auxiliar o produtor em momentos de crise e a PGPM é um deles. Acredito que seja possível a implementação desse mecanismo, basta vontade política.
SI – O ex-ministro da Agricultura, Reinhods Stephanes, em evento da própria ABCS, em 2009, argumentou ser impossível implantar um PGPM para o setor suinícola. O argumento dele era de que faltam condições de estocagem e que a medida também pode gerar problemas futuros de comercialização. Como o senhor vê essa questão?
Marcelo Lopes – O problema de estocagem realmente existe, principalmente em Santa Catarina, onde há muito pouco espaço para estocar esses produtos. Mas se não trabalharmos para que isso ocorra, o governo por si só não vai tomar essa decisão. Ou fazemos isso acontecer – e pressionamos o governo a tomar as medidas necessárias para criá-la – ou vamos viver sempre este mesmo problema. A ABCS já fez um relatório técnico que demonstra que a PGPM é viável economicamente. É muito pouco o valor a ser despendido em vista do preço mínimo do milho e outros produtos. Sob o ponto de vista técnico a criação da PGPM é possível. O que precisa é vontade política e vamos agir dentro das legalidades para que possamos viabilizar esse mecanismo.
SI – Que perspectivas o senhor enxerga para o setor em 2012?
Marcelo Lopes – Acredito que teremos uma melhora, só que uma melhora muito lenta. É somente no segundo semestre que começo a vislumbrar uma recuperação para o setor. O problema é que o suinocultor não pode esperar. A produção não aguenta, os produtores não aguentam esperar. Eu vejo que, aos poucos, a carne suína vai tomando o espaço necessário dentro do País, até por que é a carne mais consumida no mundo. As condições são favoráveis ao consumo de carne suína no Brasil: há aumento de renda entre a população; o preço da carne bovina se internacionalizou e não vai voltar; o consumo de carne de frango já é alto, perto de 50 quilos per capita. Tudo isso faz da carne suína uma boa opção para o consumidor brasileiro. Agora, temos que estar preparados para abastecer o mercado. Se não implementarmos essas medidas emergenciais para garantir a produção, vamos ter desabastecimento. Por quê? Porque da forma como as coisas estão dadas o produtor não aguenta por muito tempo. E nós já estamos com um problema muito grave porque os produtores independentes, que sofrem mais com a crise, já que não estão associados à uma agroindústria, estão sumindo. E os independentes, querendo ou não, mantêm o abastecimento de Estados importantes como São Paulo e Minas Gerais.