Apesar de prejudicado pela situação cambial que derrubou a competitividade nas vendas ao mercado externo, a avicultura industrial barriga-verde continuará tendo grande participação no mercado mundial, de acordo com o presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Clever Pirola Ávila.
Santa Catarina rivaliza com o Paraná na posição de maior produtor e exportador nacional de carne de frango, tem mais de 10.000 avicultores produzindo num setor que emprega diretamente 40 mil pessoas e, indiretamente, mais de 80 mil trabalhadores.
Considerado um dos mais experientes executivos da indústria brasileira de carnes, com 30 anos de atividade na área, Clever Ávila é engenheiro químico pós-graduado em processamento de alimentos, tem 52 anos de idade e é natural de Criciúma (SC).
Como o Sr. avalia o desempenho da avicultura em 2011?
CLEVER PIROLA ÁVILA – Foi razoável se lembrarmos os desafios a que fomos submetidos. Preços estratosféricos de matéria-prima e câmbio R$ x US$ danoso para a indústria exportadora como a nossa, além de barreiras comerciais, principalmente a imposta pela Rússia. Mesmo assim, cresceremos de 4 a 6% em quantidade produzida e aumentaremos o faturamento entre 6 a 8%. O Brasil deve superar 13 milhões de toneladas, com aproximadamente 4 milhões de toneladas de Santa Catarina. O impacto cambial foi crucial por não termos um desempenho muito melhor. A indústria exportadora brasileira, em geral, foi muito afetada nos seus resultados.
Quais são as expectativas em relação a 2012?
ÁVILA– As demandas serão supridas sem sobressaltos, porém, com preços mais altos em função dos custos igualmente maiores. Acreditamos numa certa estabilidade com crescimento vegetativo. A demanda interna em geral estará mais aquecida, até mesmo pelas ações governamentais de fomentar o consumo do mercado interno com juros menores, em função da crise internacional dos mercados mais maduros (USA e Europa). Não teremos novas demandas para crescimentos mais audaciosos. Cresceremos mais na China e fomentaremos mercados com a África e a Indonésia.
Um amplo estudo conjunto da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) prevê que, na próxima década, haverá preços elevados e grande volatilidade internacional, e o Brasil será um dos países mais beneficiados. O Sr. concorda?
ÁVILA – Certamente o Brasil terá a preferência desta fatia disponível pelos aspectos da oferta brasileira, qualidade dos produtos, bem-estar animal, aspectos ambientais e sociais.
Como fazer para estimular o aumento da produção global e reduzir a volatilidade nos mercados de commodities agrícolas, que nos últimos anos elevaram índices inflacionários e chegaram a provocar protestos nas ruas de diversos países?
ÁVILA – O caminho será fazer melhor com menos. Isto se possível se repensar a produção, reduzir o desperdício, fazer o reuso dos recursos naturais e a reciclagem dos resíduos gerados.
Como fazer baixar os preços de muitas commodities básicas para a produção de alimentos, que se mantêm em patamares mais elevados tanto em termos nominal como real se comparados aos da década anterior ?
ÁVILA – A relação universal oferta-demanda prevalece na economia e somente estas variáveis alteradas podem impactar em preços.
A FAO prevê que, em média e em termos reais, deverão subir até 50% os preços das carnes e 20% os preços dos cereais nos próximos anos. A avicultura brasileira abocanhará esses ganhos?
ÁVILA – Certamente a avicultura manterá sua liderança de crescimento pelos aspectos de ciclo produtivo reduzido, saudabilidade e competitividade.
Os custos da produção agrícola estão em crescimento e a produtividade em queda: como resolver isso?
ÁVILA – Ao meu ver a produtividade não está em queda. Observamos ano a ano a evolução genética, novos métodos de manejo, melhoria do bem-estar animal e a evolução da saúde animal. Estes aspectos podem minimizar os custos produtivos.
O crescimento populacional e o aumento da renda em grandes emergentes como China e Índia continuarão a sustentar as compras de arroz, carne, lácteos, óleos vegetais e açúcar no mercado mundial?
ÁVILA – Não somente o crescimento populacional propiciará, como também o acesso ao consumo das classes mais pobres.
Quanto crescerá a produção agrícola como resposta natural dos produtores aos atuais preços elevados?
ÁVILA – A produção só crescerá se for viável economicamente e/ou através dos permanentes subsídios Governamentais mundo afora.
Como o Brasil vai desarmar a armadilha da inflação (real sobrevalorizado e perda de competitividade)?
ÁVILA – Entendo que a produtividade está aumentando. Assim, o aumento da relação comercial entre os Países, prevalecendo os acordos na OMC, e a vocação produtiva de cada região ajudará no controle da inflação.