Redação (10/11/2008)- Grande parte do agronegócio brasileiro está de mãos atadas. Devido à restrição ao crédito, faltam recursos para custear o plantio da próxima safra e para viabilizar as exportações. Mas a cadeia produtiva avícola pretende ficar longe dessa roda vida que se transformou o comércio mundial. Os grãos e a pecuária devem demorar mais para se recuperar, mas isso não decorre exatamente da crise atual.
A cooperativa Unifrango, que reúne 14 plantas frigoríficas no Paraná (das quais nove são exportadoras) e 5cinco incubadoras, participou, no mês passado, do Salão Internacional de Alimentos em Paris. “Recebemos muitos clientes de todo o mundo, exatamente quando a crise parecia estar tomando proporções absurdas. As dificuldades existem, e a avicultura não pode ignorar a crise. Mas, por outro lado, nossos principais compradores, que estão no Extremo Oriente e no Oriente Médio, não dão sinais de que passarão por problemas tão fortes, como os que Estados Unidos e Europa devem passar”, relata o executivo da Unifrango, Pedro Henrique Oliveira.
A cooperativa processa 80 mil toneladas de carne por mês e exporta 25% desse volume. “Como os principais destinos não devem ser tão afetados pela crise, temos até a expectativa de aumentar nossas vendas externas no próximo ano.”. Para tanto, a empresa tem de superar a difícil tarefa de encontrar crédito para exportar. O frigorífico Diplomata também vive a mesma situação. A empresa, que em 2007 teve faturamento de R$ 1,2 bilhão (alta de 55% em relação ao ano anterior) tinha a expectativa de manter o ritmo em 2008. Além da dificuldade em obter recursos para as vendas externas, a volatilidade do câmbio impede o fechamento de contratos. “Felizmente, quando essa moeda voltar a se estabilizar, os produtores avícolas deverão manter o ritmo de exportação. E entre as proteínas animais, o frango é o produto mais barato, e por isso até pode ganhar mercado”, afirma o porta-voz da empresa, Caio Gottlieb.
Grãos
Desde o início de 2007, as commodities agrícolas vinham subindo de preços em uma constante, e bateram recordes históricos em 2008. Isso vinha pressionando o preço dos alimentos em geral – os grandes responsáveis pela alta da inflação do ano passado. Com a deflagração da crise, em setembro, os preços da soja, milho e trigo, por exemplo, caíram bastante, mas ainda estão acima dos níveis históricos. O problema, conta o professor da UFPR e Unifae Eugênio Stefanello, é que o crédito para o plantio da safra 2008/2009 está escasso. “Os produtores não vão aumentar áreas de cultivo e vão usar menos tecnologia, o que vai deixar a plantação mais vulnerável às intempéries climáticas.”
Com isso, a produção tende a cair. Isso vai gerar falta de produto e, num segundo momento, imaginando que a demanda não recua tanto, os preços voltam a subir, incentivando o produtor a plantar novamente. “É preciso sangue frio e paciência. Em economia, tudo que baixa, sobe. Tudo que sobe, cai. O agronegócio vive de ciclos”, explica Stefanello. As piores fases recentes foram o início da década de 90, primeiro por conta dos preços baixos dos produtos e o endividamento agrícola e em seguida com a implantação do Plano Real (1994). Há três anos, a quebra da safra brasileira, que coincidiu com uma super-safra americana e conseqüente baixa de preços, prejudicou bastante a rentabilidade do agronegócio, que começou a se recuperar em 2007.
Pecuária
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne), Péricles Salazar, a desaceleração da economia mundial coincidiu com um período de menor oferta de carne bovina. “A crise veio tornar um pouco mais grave o nosso problema. Por causa do abate elevado de matrizes nos últimos três anos, a produção de bezerros caiu muito e estamos sem oferta de matéria-prima para matrizes.” O pior, diz ele, é que a Rússia, um dos principais países importadores, deixou de comprar carne, por causa da desvalorização da moeda local, o rublo, e pela falta de crédito para os importadores. A situação pode melhorar com a estabilização do dólar.