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Cana

Baixa produção afeta lucro

Safra menor de cana reduz faturamento das usinas. Bons preços de açúcar e etanol não compensam perdas na produção.

Os bons preços de açúcar e etanol, mais elevados nesta temporada 2011/12 do que na passada, não deverão compensar a forte perda de produção que as indústrias sucroalcooleiras da região Centro-Sul do país terão no ciclo atual. O mercado estima quebra na colheita de cana da ordem de 20% e aumento acentuado de custos, que já não estavam baixos. O fato é que a atual safra, que prometia faturamento alto às usinas e redução significativa de alavancagens, deverá redundar em ganho mais modesto para o caixa do segmento.

A estimativa da consultoria de gestão de riscos Archer Consulting é de que as empresas do ramo deixem de faturar na temporada atual em torno de R$ 10 bilhões com a venda de açúcar e etanol no Centro-Sul. A cifra representa cerca de 14% do faturamento bruto inicialmente esperado pela consultoria para a região (R$ 80 bilhões). A Archer considera em seus cálculos custos portuários e com frete.
 
Ainda assim, a receita vai crescer na região, que representa 90% da cana processada no país. A União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) prevê que o faturamento líquido das usinas – livre de impostos, fretes e quaisquer outros custos logísticos – será de R$ 55,7 bilhões no atual ciclo, 7,5% maior do que os R$ 51,8 bilhões registrados na temporada 2010/11. “Não sabemos exatamente de quanto seria esse faturamento se a safra não tivesse quebrado. Afinal de contas, os preços seriam diferentes”, diz Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica.

A estimativa feita pela Archer Consulting é de que as usinas deixarão de produzir – e vender – 4,9 milhões de toneladas de açúcar, 14% da produção prevista inicialmente (34,96 milhões de toneladas). Os cálculos consideram também que deixarão de ser produzidos 3,3 bilhões de litros de etanol, na comparação com a previsão inicial para a temporada. A moagem de cana, segundo a consultoria, será de 485 milhões de toneladas, 14,15% menor do que as 565 milhões previstas inicialmente.

Até agora, a Unica constatou em seu levantamento quinzenal processamento de cana 11,05% menor até 1º de setembro. A queda na produção de açúcar está em 9,40% e na de etanol, em 18%.

A receita aquém da esperada virá mesmo com preços elevados, reitera Arnaldo Luiz Correa, da Archer. O litro do hidratado, por exemplo, está valendo 43% mais do que em igual período de 2010, segundo o Cepea/Esalq. As cotações do açúcar na bolsa de Nova York estão 27% mais elevadas.

Paralelamente, fontes do mercado estimam que os custos de produção subiram agressivamente diante dessa quebra de safra e que já se aproximam de níveis 25% mais altos do que no ciclo anterior. “Se consideramos o custo financeiro, o hidratado dá prejuízo à usina”, afirma Correa.

Já o diretor da Unica explica que é difícil generalizar os números de custo de produção, mas reconhece que eles subiram e vão se traduzir em pouco resultado às empresas do setor. Ele avalia que, se a quebra na safra ficar entre 17% e 18%, o aumento do custo vai neutralizar o efeito dos preços mais elevados.

Corrêa acrescenta ainda três fatores que devem influenciar a rentabilidade do setor neste ciclo. O primeiro é o já conhecido limite de alta dos preços do etanol hidratado, que independentemente do tamanho da produção de cana, esbarra nos preços da gasolina. Ainda há o caso do anidro, que teve sua mistura à gasolina reduzida pelo governo, o que também deve conter a valorização dos preços.

O terceiro fator virá da renegociação de contratos de açúcar para entrega futura, o que promete trazer deságios significativos nos valores a serem recebidos pelas usinas. “Se a indústria tem contrato para entregar o açúcar em outubro a 29 centavos de dólar por libra-peso, mas não terá produto, terá de renegociar, por exemplo, para outubro de 2012 a um valor futuro, que está menor”, observa Correa.

Existem, ainda, casos de usinas que receberam recursos antecipados, renegociação que virá acompanhada de cobrança de juros, afirma Correa. “Não há dúvida de que problemas virão”.

Além de ser marcada por um faturamento mais modesto, a safra 2011/12 também terá um término precoce. A previsão da Unica é que a partir de outubro já haverá usinas desligando os motores, quando o normal é encerrar a moagem no começo de dezembro. “A maior parte deve encerrar a moagem na primeira quinzena de novembro”, afirma Pádua.

No caso dos fornecedores de cana, muitos já acabaram a colheita, segundo a Organização dos Plantadores de Cana-de-açúcar do Centro-Sul (Orplana). “A safra dos fornecedores pode quebrar mais de 20%. No ciclo 2010/11, a produção foi de 125 milhões de toneladas. Nesta temporada, deve ser menos de 100 milhões de toneladas”, diz Ismael Perina, presidente da Orplana.